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Estrada Real - Wikipédia, a enciclopédia livre

Estrada Real

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Expedição na cidade de Pouso Alto, em Minas Gerais, no Brasil.
Expedição na cidade de Pouso Alto, em Minas Gerais, no Brasil.

Estrada Real era o nome alusivo a qualquer via terrestre que, à época do Brasil Colônia, era percorrida no processo de povoamento e exploração econômica de seus recursos, em articulação com o mercado internacional.

Índice

[editar] Historiografia

Dentro de uma visão historiográfica tradicional em História do Brasil, o conceito de Estrada Real pressupõe:

  • natureza oficial;
  • exclusividade de utilização;
  • vínculo com a mineração.

Nesta perspectiva, a designação "Estrada Real" reflete o fato de que era esse o caminho oficial, único autorizado para a circulação de pessoas e mercadorias. A abertura ou utilização de outras vias constituía crime de lesa-majestade, encontrando-se aí a origem da expressão descaminho com o significado de contrabando.

Por outro lado, uma moderna visão admite:

  • natureza tradicional e uma referência de bons caminhos;
  • utilização geral, universal, pública;
  • vínculo com outras atividades, como o comércio e a pecuária;
  • existências anteriores e/ou posteriores à mineração;
  • desvinculados das zonas mineradoras.

Em defesa desta última, considere-se que as Ordenações do Reino, também observadas na Colônia, estabeleciam como direitos reais ou regalias, entre outros, as vias públicas, os rios e os vieiros, e as minas de ouro e prata ou qualquer outro metal.

[editar] Os caminhos das Minas Gerais

Entre os séculos XVII e XIX um conjunto de vias terrestres – muitas delas simples reapropriações de antigas trilhas indígenas (peabirus) – aproximou diferentes regiões do território brasileiro.

Ver artigo principal: Caminhos do mar de São Paulo

Na segunda metade do século XVII, diante da crise econômica da agromanufatura açucareira suscitada na Colônia a partir da expulsão dos Holandeses (1654), tornou-se imperioso identificar novas fontes de recursos. Desse modo, uma nova leva de expedições partiu da vila de São Paulo em direção ao interior. Essas expedições ficaram conhecidas como bandeiras e os seus empreendedores como bandeirantes. Os paulistas, mestiços de Portugueses com indígenas, tinham o conhecimento, não apenas dos milenares caminhos dos nativos (peabirus), como também das suas técnicas de sobrevivência nos sertões.

Ver artigo principal: Bandeirantes (história)

Algumas dessas bandeiras, percorrendo a chamada trilha dos Guaianases, a partir do vale do rio Paraíba do Sul, através da passagem da Garganta do Embaú, na Serra da Mantiqueira, dirigiram-se para o sertão posteriormente denominado de Minas Gerais. Com a descoberta de ouro de aluvião, ao final desse século, intensificou-se o trânsito de pessoas, animais e gêneros entre o litoral e a região, definindo-se diversas vias, as principais das quais são referidas por Antonil (Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas. Lisboa, 1711):

Ver artigo principal: Caminho de São Paulo
  • o chamado Caminho da Bahia ou Caminho dos Currais do Sertão e suas variantes, ligando a Capitania da Bahia às Minas.
Ver artigo principal: Caminho da Bahia
  • o chamado Caminho do Rio de Janeiro (depois chamado de Caminho Velho do Rio de Janeiro e atualmente de Estrada Real) e suas variantes, ligando a Capitania do Rio de Janeiro às Minas;

Posteriormente, com a descoberta de diamantes no Serro, entre 1725 e 1735, um novo troço foi aberto, o chamado Caminho dos Diamantes, aos quais se uniriam a picada de Goiás e a do Mato Grosso, quando da descoberta de minerais nestas últimas regiões.

Ver artigo principal: Caminho dos Diamantes
Ver artigo principal: Caminho de Goiás

Entre os gêneros transportados registram-se:

  • gado bovino em pé, dos currais do sertão entre a Capitania das Minas e a da Bahia;
  • produtos de luxo e escravos, dos portos de Salvador (Bahia) e do Rio de Janeiro;
  • cavalgaduras da Capitania de Pernambuco.

[editar] Os caminhos do Rio de Janeiro

Os caminhos do Rio de Janeiro, integravam a popularmente conhecida Estrada Real. As suas principais variantes foram:

  • o chamado Caminho Velho, de Paraty a Vila Rica (atual Ouro Preto), que, a partir da descoberta de ouro na região das Minas Gerais em fins do século XVII, transformou-se no caminho oficial para o ingresso de escravos na região, assim como para o escoamento do ouro das minas, transportado de Paraty para o Rio de Janeiro, de onde seguia para Portugal. Esta via estendia-se por mais de 1.200 quilômetros, percorridos em cerca de 95 dias de viagem.
  • a chamada Estrada Geral, conectando com a Estrada Real (hoje na altura de Belford Roxo). Esta variante unia as Freguesias (distritos) de Santo Antônio de Jacutinga e Nossa Senhora Conceição de Mariapicú. Hoje ele se divide em duas vias distintas: a Estrada Plínio Casado e a Estrada Abílio Augusto de Távora (antiga Estrada do Madureira).

[editar] Controle e Fiscalização

Devido ao crescente volume de riqueza explorado na região das Gerais, a Coroa Portuguesa procurou garantir o seu controle e fiscalização de maneira severa, instalando postos de inspeção (Registros) para arrecadar os diversos tributos sobre minerais (notadamente ouro e diamantes), mercadorias, escravos e animais (cavalos, muares, bovinos) em trânsito, instituindo mais tarde as chamadas Casas de Fundição e mantendo na região dois destacamentos de cavalaria, os chamados Dragões das Minas, além de um terceiro, no Rio de Janeiro.

A partir da abertura do Caminho Novo, tornado via oficial, foram aí concentrados os Registros, proibindo-se a utilização das demais vias, consideradas como "descaminhos" e rigorosamente punidos como tal.

A partir da segunda metade do século XVIII registrou-se o declínio da produção mineral no distrito das Minas, o que, durante o consulado pombalino, levou a uma intensificação da política fiscal e a uma insatisfação que conduziu à Inconfidência Mineira. Com a proclamação da Independência do Brasil, no início do século XIX, esses caminhos tornam-se livres, vindo a constituir, com a riqueza proporcionada pela lavoura do café, os principais eixos de urbanização da região Sudeste.

[editar] O projeto turístico "Estrada Real"

O Projeto Estrada Real foi formulado em 2001 pelo Instituto Estrada Real, sociedade civil, sem fins lucrativos, criada pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) com a finalidade de valorizar o patrimônio histórico-cultural, estimular o turismo, a preservação e revitalização dos entornos das antigas Estradas Reais.

O conceito do projeto baseia-se no aproveitamento da rota e dos antigos caminhos que conduziam do litoral do Rio de Janeiro para o interior, em especial para as Minas Gerais, abrangendo as seguintes áreas:

  • Nos vales dos rio Doce, rio das Velhas e rio das Mortes, os núcleos mineradores de:
    • Vila Rica (Ouro Preto)
    • Nossa Senhora do Carmo (Mariana)
    • Nossa Senhora da Conceição do Sabará (Sabará)
    • São João d’El Rey (São João del Rei)
    • Vila Nova da Rainha (Caeté)
  • No vale do alto rio Jequitinhonha, os núcleos mineradores de:
    • Vila do Príncipe (Serro) e
    • Arraial do Tijuco (Diamantina)
  • No oeste, o núcleo minerador da Vila do Infante da Nossa Senhora da Pitangueira.

O projeto considera que esses caminhos se estendiam por mais de 1.400 quilômetros, distribuídos por três vias principais:

Considera ainda que, no auge da utilização da estrada, erguiam-se às suas margens 178 povoações, assim distribuídas:

Os seguintes municípios fazem parte do circuito turístico projetado:

   

Iniciativa semelhante vem sendo desenvolvida pela Prefeitura Municipal de Paraty, no Estado do Rio de Janeiro.

Entre as atrações à disposição do visitante, podem ser apreciados diversos trechos ainda pavimentados em pedras, colocadas pela mão-de-obra de escravos, trechos de mata atlântica, animais e pássaros nativos, sítios arqueológicos, arquitectura, culinária e artesanato coloniais. Os caminhos permitem a prática de caminhadas, de ciclismo e cavalgada.

[editar] Bibliografia

  • SANTOS, Márcio. Estradas reais: introdução ao estudo dos caminhos do ouro e dos diamantes no Brasil. Belo Horizonte: Editora Estrada Real, 2001.
  • ABREU, Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
  • ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982.

[editar] Ligações externas


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