Nei Braga
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ney Aminthas de Barros Braga (Lapa, 25 de julho de 1917 — 16 de outubro de 2000) foi um militar e político brasileiro. Foi prefeito de Curitiba, deputado federal, senador e governador do estado do Paraná. Foi também ministro da Agricultura, ministro da Educação e Presidente da Itaipu Binacional.
Índice |
[editar] Infância
Entre 1922-1923 iniciou o curso primário no Colégio São José, aos cinco anos. Aos seis anos, ainda no município de Lapa vai para o Grupo Escolar Dr. Manuel Pedro. Entre 1928 e 1934 fez o curso secundário. Fez uma passagem rápida pelo Colégio Novo Ateneu, da cidade de Curitiba. Depois de ganhar bolsa de estudos dos padres lazaristas iniciou estudos no internato do Ginásio Paranaense (atual Colégio Estadual do Paraná), onde foi colega de Jânio Quadros, futuro presidente do Brasil.
[editar] Formação militar
Entre 1935 e 1937, ingressou na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, com dezoito anos. Em seu primeiro ano do curso aula eclodiu a Intentona Comunista. A Escola Militar recebeu ordens para lutar contra rebeldes e bloquear a saída para São Paulo pela estrada do Realengo. Graduou-se em Artilharia. Enquanto isso, em 1935, inicia a construção da Estrada do Cerne no Paraná. O pai de Ney Braga, Sr. Antônio Braga, ex-empregado de uma padaria na Lapa, criará uma empreiteira, Aranha S.A, com outros sócios para participar das obras. O convite foi do então governador Manuel Ribas. Em 1938 volta a Curitiba como aspirante a oficial e, aos 22 anos casa-se, pela primeira vez, com a Sra. Maria José Munhoz da Rocha, filha do ex-governador Caetano Munhoz da Rocha (1920-1928) e irmã de Bento Munhoz da Rocha Neto (futuro governador do estado do Paraná entre 1951 a 1955). Maria José faleceu em 1944.
Em fins de 1940 foi promovido a primeiro-tenente. Foi instrutor de Educação Física e de Topografia e técnica de tiro de Artilharia no terceiro regimento de artilharia montada de Curitiba (sediado na praça Osvaldo Cruz, bairro Batel). Também foi instrutor do Centro de Preparação de Oficiais de Reserva (CPOR) nessa primeira metade dos anos 40. Em 1944 foi promovido a capitão. Entre 1945 e 1948, seguindo a recomendação do major Henrique Geisel (irmão do futuro presidente do Brasil Ernesto Geisel (1974-1978)), voltou para o Rio de Janeiro para estudar na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Realengo) para fazer o curso de aperfeiçoamento de oficiais. O diretor de ensino era o então Coronel Humberto de Alencar Castelo Branco (futuro Presidente do Brasil em 1964-1967). Nos anos 40 e 50 a Empreiteira Aranha S.A, de seu pai, Sr. Antônio Braga, vai prosperar a ponto de participar da construção da estrada que liga Joinville (estado de Santa Catarina) a Curitiba . Em 1949 retorna a Curitiba e casa, pela segunda vez, agora com Dna. Nice Camargo Riesemberg com quem viverá até seus últimos dias. Em 1950 no terceiro Regimento de Artilharia Montada de Curitiba (agora com sede no B. Boqueirão) foi promovido a major.
[editar] Vida pública
Em 1951 seu cunhado, com 46 anos, o Sr. Bento Munhoz da Rocha Neto, do então Partido Republicano (PR) elege-se o novo Governador do Paraná (1951-1955). Ney Braga é nomeado, por ato do novo Governador, membro integrante do Conselho Regional de Desportos do Paraná. Em 1952, no mês de março Ney Braga apóia formalmente a criação da “Cruzada Democrática”, movimento formado por oficiais militares que venceu as eleições do Clube Militar naquele ano. A “Cruzada” era um grupo que criticava os militares “nacionalistas” aos quais Getúlio Vargas estava aliado. O momento era de discussão sobre o ingresso, ou não, do capital internacional no setor petrolífero brasileiro. Esse também é o ano da Comissão Mista Brasil-EUA e da criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. Ney Braga foi designado o representante da Cruzada Democrática no Estado do Paraná. No Rio Grande do Sul, Estado vizinho, o representante era o Cel. Emílio Garrastazu Médici, futuro Presidente do Brasil (1970-1974). Faziam parte da Cruzada Democrática também Humberto de Alencar Castelo Branco, Ernesto Geisel, Golbery do Couto e Silva, Jurandir Mamede, todos personagens de primeira grandeza durante o regime militar no Brasil. Em agosto de 1952 o major Ney Braga recebe, da presidência da República, o grau de “Cavaleiro” da ordem do mérito militar.
É nesse ano de 1952 que Ney Braga aceita o convite do cunhado e ao mesmo tempo governador Bento Munhoz da Rocha Neto (Partido Republicano), para substituir o tenente-coronel do Exército Albino Silva (futuro Chefe do Gabinete Militar do presidente João Goulart e futuro presidente da Petrobrás, 1963-1964) e assumir a antiga chefatura de polícia do estado do Paraná (equivalente secretaria de estado da Segurança Pública). Tem 35 anos. Nesse cargo conhece e tem de enfrentar de perto o grave problema de posse de terras no sudoeste e oeste do Paraná. Um problema sério, causador de muitas atrocidades, que há mais de 30 anos não encontrava solução. Este cargo lhe abriu contato direto com autoridades políticas importantes e também para o tornou conhecido por todo o Estado do Paraná. A partir de então, Ney Braga deixará de ser apenas um militar e começará a construir sua trajetória de liderança política.
[editar] Primeiro prefeito eleito pelo voto direto
Em 1953 recebe o convite de três vereadores de Curitiba (Mylto Anselmo da Silva, Edward de Menezes Caldas e João Stival) para ser candidato a prefeito da capital do estado do Paraná. A indicação foi do então prefeito Ernani Santiago de Oliveira e obteve o importante apoio do governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Ney Braga não era filiado a qualquer partido político. Afasta-se da chefatura de Polícia do Estado e aceita ser candidato a prefeito, mesmo sem filiação partidária. O partido que o lançou foi o PSP (Partido Social Progressista), do então governador de São Paulo, Ademar de Barros (interventor durante o Estado Novo e eleito governador do poderoso estado de São Paulo em 1947). Ademar de Barros também foi responsável pela indicação de João Café Filho para ser o vice-presidente de Getúlio Vargas (Partido Trabalhista Brasileiro) nas eleições de 1950.
Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, vem a Curitiba em 19 de dezembro de 1953 e anuncia a criação da Eletrobrás. Na questão da Petrobrás, Ney Braga pertence ao grupo de militares que apóia o monopólio nacional do Petróleo. Em 3 de outubro Getúlio Vargas cria a Petrobrás. Nesse mesmo ano seu colega de ginásio, Jânio Quadros, elege-se Prefeito do município de São Paulo pelo PDC (Partido Democrata Cristão). Em 1954, 24 de agosto, suicida-se o presidente Getúlio Vargas (PTB). Enfraquece-se a União Democrática Nacional (UDN) por ter sido o Partido que mais duramente se opunha ao presidente. O suicídio do Presidente revela-se, entre outras coisas, um golpe na força crescente da oposição ao regime varguista. Abrem-se os caminhos para a vitória eleitoral de Juscelino Kubitschek de Oliveira (Partido Social Democrata) à presidência.
Mesmo sem estar filiado a qualquer partido, Ney Braga vence as primeiras eleições diretas para prefeito de Curitiba em 1954. O município tinha aproximadamente 200 mil habitantes. Obteve 18.327 votos (28,7% do total). Antes dele os prefeitos eram nomeados pelo Governador. O segundo colocado foi Wallace Tadeu de Melo e Silva (PST). Ney Braga assume a prefeitura de Curitiba em 15 de novembro.
Com a morte de Getúlio, a presidência do Brasil passa para João Café Filho (PSP), que convidará, no ano seguinte, o então Governador do Paraná, o Sr. Bento Munhoz da Rocha Neto (PR) para assumir o Ministério da Agricultura, onde ficará por um ano. Em 1955, depois de resolvidas as discussões públicas sobre sua eventual candidatura à vice-presidência da República, Bento Munhoz da Rocha Neto renuncia ao Governo do Paraná (3 de abril) e em 7 de maio assume o Ministério da Agricultura do Presidente João Café Filho. Jânio Quadros, agora sem partido, mas apoiado pelo PTN e PSB vence o grande líder paulista Ademar de Barros (PSP) nas eleições estaduais e assume o governo do estado de São Paulo. No mesmo ano o já deputado federal Leonel de Moura Brizola (PTB) elege-se prefeito de Porto Alegre. O ministro da Guerra, Henrique Lott, dá um golpe preventivo para garantir a posse do Presidente eleito Juscelino Kubitschek de Oliveira. A situação é de crise institucional.
Moysés Lupion (PSD-UDN) vence as eleições de 1955 e assume a governadoria do estado do Paraná pela segunda vez. Lupion era oposição a Bento Munhoz da Rocha e este será seu segundo mandato como governador do Paraná. Juscelino Kubitschek, também do (PSD) assumirá a Presidência da República em 1956. Este é o segundo ano de mandato do prefeito Ney Braga. A partir de agora Ney Braga terá partidos opositores tanto no estado quanto no Governo Federal. Além disso, seu principal apoio político (Bento Munhoz da Rocha) estará ocupado com o Ministério da Agricultura.
Em 1956, a prefeitura de São Paulo assinará termo de contrato com a SAGMACS (Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais), fundada em 1947 e coordenada pelo padre Lebret (1897-1966) para realizar a primeira análise da aglomeração paulistana e dar inicio a um projeto de planejamento do desenvolvimento urbano de São Paulo. A pesquisa da SAGMACS foi um dos estudos mais profundos e complexos realizados sobre a metrópole paulista. A SAGMACS era formada por uma equipe multidisciplinar, interessada em aplicar ao urbanismo brasileiro as idéias do movimento Economia e Humanismo, do Padre Lebret, dominicano francês que teve grande influência sobre o pensamento social católico brasileiro até meados daquela década. Esta mesma empresa terá um papel decisivo na criação do Plano de Desenvolvimento Econômico do Paraná, no primeiro mandato de Ney Braga como Governador pelo Partido Democrata Cristão.
[editar] Ações, prêmios e projeção nacional
Em 1957 o Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), homenageia Curitiba com o primeiro lugar no prêmio “Os dez municípios brasileiros de maior progresso”. Ney Braga foi a Brasília, capital federal, receber das mãos do Presidente Juscelino Kubitschek a homenagem. É o primeiro grande destaque de sua carreira política. Em 1958 encerra-se o mandato do Prefeito de Curitiba. Dentre suas ações na prefeitura de Curitiba, destacam-se: reorganização do cadastro fiscal e a identificação de 35 mil propriedades que nunca haviam sido tributadas. Divisão da cidade em cinco zonas fiscais concêntricas. Criação do Mapa de Valores Tributários. Criação do Departamento de Planejamento e Urbanismo, depois transformado em IPPUC pelo Prefeito Ivo Arzua Pereira (62-67). (Estava nesse departamento o Sr. Saul Raiz [prefeito de Curitiba – 75-79]. Ney Braga assinou a lei que cria o Mercado Municipal de Curitiba (14 de outubro de 1955). O projeto é de Saul Raiz e a obra foi inaugurada em 1958, quando Ney Braga estará afastado da Prefeitura para participar das eleições a deputado federal. Eletrificação nos bairros. Regulamentação do transporte urbano com a criação de linhas e horários fixos e a pavimentação dessas linhas que ligavam o centro aos bairros, em especial a ligação do centro com o bairro de Santa Felicidade. Construção da Estação Rodoviária. Criação de escolas municipais nos bairros. Instalou telefones automáticos, abolindo a central de chamadas. Seu mandato na prefeitura foi de 15 de novembro de 1954 a 15 de novembro de 1958.
[editar] Ascensão de um novo líder político
Em 1958 elegeu-se deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC). É o segundo deputado mais votado, só perdendo para Jânio Quadros, que se elege Deputado Federal pelo PTB do Paraná. Nesse mesmo ano rompe relacionamento com o ex-governador e cunhado Bento Munhoz da Rocha Neto. Daí em diante Ney Braga começará a construir sua liderança incontrastável. Formará um novo grupo político em torno de ideais democráticos e cristãos e com vistas à modernização econômica do Estado do Paraná. Em 1961 elege-se governador do Estado do Paraná, e governará entre 1961 a 1965, agora já como uma das maiores lideranças políticas nacionais, do Partido Democrata Cristão. Em 1963 atinge o posto de general do Exército.
[editar] Construtor do Paraná moderno
De 1961 a 1964 Ney Braga transforma o Estado do Paraná numa economia moderna. O estado viverá seu momento de maior prosperidade e de criação da infra-estrutura econômica que o caracterizará nos trinta anos seguintes. Ney Braga foi o responsável pela criação do Plano de Desenvolvimento Econômico do Paraná, projeto ousado de industrialização baseando em financiamento com recursos próprios do Estado. Criou as seguintes empresas como instrumentos de apoio ao gigantesco projeto de modernização: CODEPAR (Companhia de Desenvolvimento do Paraná) depois de 1968 convertida em BADEP, Banco de Desenvolvimento do Paraná. SANEPAR, Companhia de Saneamento do Paraná. Reestruturou completamente a COPEL, Companhia Paranaense de Energia Elétrica, criou a CAFÉ do Paraná, a FUNDEPAR, para o plano paranaense de educação, além de ter realizado o primeiro importante esforço de ligação rodoviária do norte cafeeiro ao litoral do Estado, permitindo a efetiva ativação do Porto de Paranaguá e a integração física de “dois Paranás”, o norte cafeeiro e o tradicional litoral e planalto curitibano.
[editar] Regime militar e afirmação política
Em 1964 cai o regime democrático no Brasil. As forças armadas assumem os destinos políticos do Brasil. Ney Braga, como poucos, pode conciliar sua formação militar ao seu carisma e talento político. Desde o inicio do regime militar ocupará postos chaves na nova estrutura de poder do Estado brasileiro trazendo amplos benefícios ao Estado. Será o escolhido para assumir o Ministério da Agricultura do presidente e marechal Humberto de Alencar Castelo Branco e lá ficará de 19 de novembro de 1965 a 12 de agosto de 1966. Essa projeção política nacional dará forças especiais ao político, permitindo consolidar sua liderança no Estado e fazer todos os sucessores a governador, até 1979 quando pessoalmente voltará ao comando do estado.
No ano seguinte (1967) foi eleito senador do Paraná pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Esse é um período crítico na vida política brasileira. Em 1968, Ney faz parte de um grupo de senadores da ARENA que se manifesta publicamente contra o Ato Institucional n. 5 (AI-5). Será senador até 1974, quando assumirá o Ministério da Educação do Governo Ernesto Geisel, de 15 de março de 1974 a 30 de maio de 1978 tendo criado diversos incentivos às artes e cultura brasileiras, com total reconhecimento do meio artístico nacional. Ney Braga volta a ser governador do Estado do Paraná, por eleições indiretas, de 1979 a 1982.
[editar] Candidatura ao Senado e Presidência da Itaipu
Em 1982 tenta mais uma vez eleger-se senador. Seu vínculo com as forças armadas é a principal causa de não ter sido eleito. Esse é o momento da luta pelas Diretas Já. Ney Braga não deixou sucessores políticos. Seu nome nunca esteve ligado a nenhum escândalo. É considerado o principal formador de lideranças políticas no estado, dentre governadores, prefeitos, deputados, senadores e ministros da República. Seu maior legado foi a ética na política e a disposição por modernizar o estado do Paraná. É o personagem político paranaense que mais teve poder nos últimos trinta anos de política e liderou um movimento de defesa dos interesses do estado do Paraná, conhecido como paranismo. Encerrou sua carreira política como diretor-geral da maior usina Hidrelétrica do mundo, a Itaipu Binacional, de 1985 a 1990. Apesar de todo seu contato com o poder, encerrou sua carreira política residindo na mesma casa onde sempre morou em Curitiba, modestamente e sem fortuna. É comum ouvir a expressão "braguismo" para se referir a um grupo político e intelectual ligado ao modelo desenvolvimentista e cristão que se desenvolveu em torno de sua autêntica liderança.
Precedido por Ernani Santiago de Oliveira |
Prefeito de Curitiba 1954 — 1958 |
Sucedido por Aristides Simão |
Precedido por Moisés Wille Lupion de Tróia |
Governador do Paraná 1961 — 1965 |
Sucedido por Algacir Guimarães |
Precedido por Hugo de Almeida Leme |
Ministro da Agricultura do Brasil 1965 — 1966 |
Sucedido por Severo Fagundes Gomes |
Precedido por Jarbas Passarinho |
Ministro da Educação do Brasil 1974 — 1978 |
Sucedido por Euro Brandão |
Precedido por Jaime Canet Júnior |
Governador do Paraná 1979 — 1982 |
Sucedido por José Hosken de Novaes |