Operação Barbarossa
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Operação Barbarossa é o nome de código pelo qual ficou conhecida a operação militar alemã para invadir a União Soviética, iniciada em 22 de Junho de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, rompendo assim com o Pacto Ribbentrop-Molotov (ou tratado de não- agressão) acordado entre os dois Estados menos de dois anos antes. Considerada a maior e mais feroz campanha militar da história, ela devia seu nome ao monarca Frederico Barbarossa, do Sacro Império Romano-Germânico, um dos líderes da Terceira Cruzada no século XII.
[editar] Prelúdio ao ataque
O ditador nazista Adolf Hitler deixara claro a seus generais que desejava terminar a questão soviética antes do terrível inverno russo – em outras palavras, a campanha deveria ser rápida e fulminante.
Mas, na véspera da invasão, o ditador italiano Benito Mussolini pediu ajuda a Hitler, pois havia tentado invadir a Grécia através da Albânia, que haviam conquistado em 1939, e, não apenas não haviam dominado a Grécia, como estavam em vias de perder a Albânia para os gregos. Hitler enviou ajuda, e dominou quase toda a região dos Balcãs. E isso atrasou a Operação Barbarossa em algumas semanas, atraso que se mostrou decisivo, pois logo veio o temido inverno russo.
Três grandes grupos de exércitos foram formados: o Norte, encarregado de ocupar a Lituânia e Letônia rumo a Leningrado (atual São Petersburgo, comandado pelo marechal-de-campo Wilhelm Ritter von Leeb; o Centro, que visava um ataque frontal à capital Moscou, comandado pelo marechal-de-campo Fedor von Bock ; e o Sul, destinado a ocupar os vastos campos de trigo da Ucrânia e, por fim, o petróleo do Cáucaso, comandado pelo marechal-de-campo Gerd von Rundstedt.
[editar] As primeiras vitórias
Na madrugada de 22 de junho de 1941, cerca de 4 mil veículos blindados e 180 divisões formadas por mais de 3,5 milhões de soldados do Eixo irromperam sobre as defesas soviéticas. A mobilização do Exército Vermelho para tentar deter o avanço alemão não foi capaz de deter o ímpeto do ataque; centenas de milhares de soldados foram envolvidos em combate pelos alemães. Cidades como Minsk e Kiev foram cercadas em poucos dias. Em agosto de 1941, os alemães haviam aprisionado meio milhão de soldados soviéticos, e pelo menos outras 89 divisões (cerca de 1,8 milhão de soldados) teriam o mesmo destino antes de dezembro.
[editar] O discurso de "terra arrasada"
Nos primeiros dias do ataque, o dirigente da soviético Josef Stalin permaneceu isolado, sem emitir comunicados. O fato de a Alemanha ter traído o perturbava. Em 3 de julho de 1941, Stalin transmitiu um comunicado de terra arrasada: cidades, casas e plantações deveriam ser destruídos ou queimados, para privar os invasores de seus recursos. O povo soviético deveria abandonar toda e qualquer complacência com os alemães.
Embora relativamente eficiente, no sentido de reanimar a população desesperada pela ofensiva alemã e por usar a linguagem típica do camponês russo, os ecos da transmissão não foram unânimes. Em muitas áreas e repúblicas do país, Stalin era uma figura detestada, em grande parte por seu regime de terror e pelas dificuldades originadas pelas reformas econômicas que ele implantara tão drasticamente.
Assim sendo, em muitas aldeias da Ucrânia, Lituânia, Letônia e Estônia – estas três últimas eram estados independentes antes de serem anexadas por Stalin em 1940 – os invasores nazistas foram recebidos como libertadores. Mas os que davam as boas-vindas aos alemães logo se deram conta de seu erro, e passaram a engrossar a resistência.
[editar] O entusiasmo dá lugar ao ceticismo
Por mais retumbantes que fossem as primeiras vitórias da Wehrmacht, e por mais que o resto do mundo se apavorasse com a velocidade do avanço alemão, este estava longe de ser fácil. Os alemães sofriam baixas consideráveis à medida em que se aproximavam da capital Moscou, e os russos perceberam a verdadeira natureza da guerra: muitos alemães, imbuídos da filosofia nazista, não tinham piedade com o povo soviético e lhe infligiram terríveis atrocidades – afinal, Hitler os considerava "sub-humanos" (ou Untermensch, em alemão).
O experiente general Franz Halder, então chefe do Estado-Maior alemão, escreveu à família: "A vastidão da Rússia nos devora" e, numa referência à dificuldade da situação, foi claro: "Por mais que ponhamos dez divisões fora de combate, os russos imediatamente as substituem por outras dez".
[editar] O "General Inverno"
Em novembro de 1941, os alemães já tinham conquistado uma área quatro vezes maior que a Grã-Bretanha. O cerco a Leningrado (atual São Petersburgo) começara, e perduraria por três anos. Moscou estava a apenas algumas semanas de marcha. Foi quando os primeiros flocos de neve começaram a cair, prejudicando o avanço alemão, uma vez que as tropas alemãs não estavam preparadas para o rigoroso inverno russo.
Cerca de 250 mil soldados da Wehrmacht pereceram ao enfrentar, além dos russos, temperaturas abaixo de dez graus fahrenheit negativos (cerca de -25 ºC). Ambos os lados lutaram bravamente, nas mais duras condições. Vale ressaltar que o nome da cidade de Stalingrado era uma homenagem a Josef Stalin, o que tornava maior seu valor para os alemães, caso fosse tomada.
Outra conseqüência do rigoroso inverno foi que as armas e veículos alemães paravam de funcionar em temperaturas tão baixas, o que retardava ainda mais o avanço. O "General Inverno" outra vez se impunha, como já havia feito contra Napoleão Bonaparte em 1812. Nas áreas conquistadas, o inverno atuou contra as tropas russas, pois os alemães encontravam-se abrigados. Deve-se ressaltar, portanto, que o inverno tornou as condições terríveis para ambos os exércitos.
[editar] O bloqueio blindado da estrada (junho de 1941)
Quando a Alemanha desencadeou seu ataque contra a Rússia, na manhã do dia 22 de junho de 1941, o Grupo de Exércitos Norte lançou-se ao ataque de posições ao longo da fronteira entre a Prússia Oriental e a Lituânia. A D+1, a 6a Divisão Panzer, que integrava aquele grupo de exércitos, recebeu ordem para ocupar a localidade lituana de Rossienie, e, em seguida, conquistar as duas pontes rodoviárias sobre o rio Dubysa, a nordeste da localidade. Após a tomada de Rossienie, a divisão foi dividida nos GT R e S, aos quais caberia o estabelecimento de duas cabeças-de-ponte, sendo que ao GT R foi atribuída a ponte mais próxima de Lydavenai, uma vila situada quase diretamente ao norte daquela localidade. Nas primeiras horas da tarde, as duas colunas haviam atravessado o rio e estabelecido contato entre as duas cabeças-de-ponte.
Operações de limpeza em torno de sua cabeça-de-ponte deram ao GT R uma quantidade de prisioneiros, 20 dos quais, inclusive um primeiro-tenente, foram embarcados num caminhão a fim de serem evacuados para Rossienie; um sargento alemão ficou encarregado desse grupo. A meio caminho para Rossienie, o motorista do caminhão avistou subitamente um carro russo parado na estrada. Quando o caminhão parou, os prisioneiros saltaram sobre o motorista e o sargento, enquanto o tenente russo procurava tirar a submetralhadora deste último. Na luta que se seguiu, o forte sargento alemão soltou seu braço direito e golpeou o tenente com tal violência que ele e vários outros russos foram derrubados pelo impacto. Antes que os prisioneiros pudessem novamente se aproximar, o sargento soltou seu outro braço e disparou sua arma contra o grupo, com um efeito devastador. Somente o tenente e uns poucos russos conseguiram escapar; o restante foi morto.
O sargento e o motorista regressaram para a cabeça-de-ponte com o caminhão vazio e informaram a seu comandante que a única via de suprimento para a cabeça-de-ponte estava bloqueada por um carro pesado do tipo KV. Nesse ínterim, a guarnição do carro russo havia destruído as comunicações telefônicas entre a cabeça-de-ponte e o PC divisionário.
O plano russo não estava claro. Ao estudar a situação, o comandante da cabeça-de-ponte concluiu que, em vista do encontro com o carro, era de esperar um ataque contra a cabeça-de-ponte pela retaguarda e, de acordo com essa idéia, organizou, imediatamente, uma defesa circular. Uma bateria AC foi deslocada para uma elevação próxima do PC, uma das baterias de obuseiros inverteu seu campo de tiro, de modo a fazer face à direção sudoeste e a companhia de engenharia preparou-se para minar a estrada e a área em frente da posição de defesas. O batalhão de carros, que se encontrava desdobrado numa floresta a sudeste da cabeça-de-ponte, preparou-se para um contra-ataque.
Durante o resto do dia, o carro não se moveu. Na manhã seguinte, 24 de junho, a divisão experimentou mandar 12 caminhões de suprimentos de Rossienie para a cabeça-de-ponte. Foram todos destruídos pelo carro russo. Uma patrulha de reconhecimento enviada por volta do meio-dia não encontrou indícios de que estivesse iminente um ataque geral russo.
Os alemães não podiam evacuar seus feridos da cabeça-de-ponte. Cada tentativa de desbordar o carro fracassava porque toda viatura que saía da estrada ficava atolada na lama e à mercê dos russos escondidos na floresta.
Nesse mesmo dia, uma bateria de canhões AC de 50 mm recebeu ordem de avançar e destruir o carro. A bateria recebeu essa missão com confiança. Ao se aproximarem os primeiros canhões a uma distância de 1000 metros do KV, este permaneceu em posição, aparentemente ignorando o movimento alemão. Nos próximos trinta minutos, toda a bateria, bem camuflada, havia se colocado à distância de tiro. O carro continuou imóvel. Era um alvo tão perfeito que o comandante da bateria julgou que estivesse danificado e abandonado, mas de qualquer modo decidiu atirar. O primeiro tiro, de uma distância de 600 metros, atingiu o alvo; seguiram-se um segundo e terceiro tiros. Os soldados, reunidos na colina próxima do PC e do GT, aplaudiam como se fossem espectadores de uma competição de tiro. E o carro continuava imóvel. Ao ser disparado o oitavo tiro, a guarnição do carro russo já havia descoberto a posição da bateria e, fazendo cuidadosa pontaria, silenciou toda a bateria com algumas granadas de 76 mm, que destruíram dois canhões e danificaram os outros. Tendo sofrido elevadas baixas, as guarnições dos canhões retraíram-se a fim de evitar maiores perdas. Somente após o escurecer, os canhões danificados puderam ser recuperados.
Como os canhões AC de 50mm não haviam conseguido penetrar os 7,5 centímetros de blindagem do carro russo, foi decidido que apenas o canhão AA de 88 mm, com suas granadas perfurantes, seria bem-sucedido. Nessa mesma tarde, um desses canhões foi tirado da posição, próximo de Rossienie, e cautelosamente deslocado na direção do carro que se encontrava, então, com a frente voltada para a cabeça-de-ponte. Bem camuflado com ramos de árvores e escondido pelos caminhões alemães queimados ao longo da estrada, o canhão atingiu a salvo a orla da floresta e parou a 900 metros do carro russo.
No momento em que a guarnição alemã colocava o canhão em posição, o carro girou sua torre e disparou, lançando o canhão numa vala. Todos os tiros atingiram o alvo e a guarnição do canhão sofreu fortes perdas. O fogo de metralhadora do carro não permitiu retirar o canhão ou os corpos dos alemães mortos. Os russos haviam permitido a aproximação do canhão sem molestá-lo, sabendo que o mesmo não constituía ameaça enquanto em movimento e que quanto mais próximo chegasse mais certa seria a sua destruição.
Enquanto isso, os suprimentos da cabeça-de-ponte estavam tão escassos que as tropas tiveram que comer suas rações de emergência enlatadas. Foi convocada uma reunião de estado-maior a fim de discutir outros modos e meios de lidar com o carro. Ficou decidido que um destacamento de engenharia tentaria fazê-lo explodir numa operação noturna. Quando o comandante da companhia de engenharia pediu 12 voluntários, os homens estavam tão ansiosos de obter êxito onde outros haviam fracassado, que todos os 120 homens da companhia se apresentaram. O comandante deu ordem para que a companhia contasse em voz alta e escolheu cada décimo homem. O destacamento foi informado sobre a sua missão, recebeu instruções detalhadas e distribuiu explosivos e o equipamento essencial.
Sob a proteção da escuridão, o destacamento partiu chefiado pelo comandante da companhia. O caminho seguido foi uma trilha de areia, pouco usada, que passava pela colina 400 e pelo interior do bosque que cercava o lugar onde se encontrava o carro. Ao se aproximarem do carro, os engenheiros puderam distinguir seu contorno à luz pálida das estrelas. Após tirarem as botinas, rastejaram até a margem da estrada a fim de observarem o carro mais de perto e decidirem sobre a realização de sua missão. Subitamente ouviu-se um barulho do outro lado da estrada e notou-se o movimento de vários vultos escuros. Os alemães pensaram, a princípio, que a guarnição russa havia descido do carro. Pouco depois, entretanto, ouviu-se o ruído de batidas contra a chapa lateral do carro e a torre abriu-se vagarosamente. Os vultos entregaram alguma coisa à guarnição do carro e ouviu-se, a seguir, o barulho de pratos de metal. Os alemães concluíram que se tratava de guerrilheiros trazendo alimentos para a guarnição do carro. A tentação de dominá-los era grande e teria provavelmente sido uma coisa simples; tal ação, no entanto, alertaria a guarnição do carro e talvez prejudicasse toda a manobra. Cerca de uma hora mais tarde, os guerrilheiros se retiraram e a torre do carro fechou-se.
Era aproximadamente 01.00 hora quando os engenheiros puderam, finalmente, começar a trabalhar. Colocaram uma carga explosiva na lagarta e no lado do carro e se retiraram após acender o estopim. Uma violenta explosão ecoou. Seus últimos sons ainda não haviam se dissipado quando as metralhadoras do carro começaram a varrer a área com seu fogo. O carro não se moveu. Suas lagartas pareciam estar danificadas mas não era possível um exame mais de perto em virtude do intenso fogo das metralhadoras. Em dúvida quanto ao êxito de sua missão, o destacamento de engenharia regressou à cabeça-de-ponte e fez o seu relatório. Um dos doze homens havia desaparecido.
Pouco antes do alvorecer, ouviu-se uma segunda explosão nas vizinhanças do carro, uma vez mais seguida pelo ruído de fogo de metralhadora; depois, após algum tempo, fez-se novamente silêncio.
Mais tarde, nessa mesma manhã, enquanto o pessoal em volta do PC do GT R se entregava às suas atividades habituais, foi visto um soldado descalço atravessando a área do bivaque. Quando o comandante o fez parar, todos os olhos voltaram-se em expectativa. Ouviu-se o coronel pedir ao soldado uma explicação para o seu aspecto não militar. Suas vozes tornaram-se inaudíveis à medida que os dois principais personagens desse pequeno drama travavam uma séria conversação.
À medida que falavam, o rosto do coronel se animava, e alguns minutos depois, ele oferecia ao soldado um cigarro, que este último aceitou, visivelmente embaraçado. Finalmente, o coronel deu algumas batidas amistosas nas costas do soldado, apertou-lhe a mão e os dois se separaram, o soldado ainda conduzindo suas botinas. A curiosidade dos espectadores não ficou satisfeita até que a ordem do dia foi publicada, juntamente com o seguinte extrato do relatório do soldado descalço: Fui designado como observador do destacamento que recebeu a missão de fazer explodir o carro de combate russo. Uma vez feitos todos os preparativos, o comandante da companhia e eu colocamos uma carga de aproximadamente o dobro do seu tamanho normal na lagarta do carro e voltei para a vala que servia de meu observatório. A vala era bastante profunda para oferecer proteção contra estilhaços e aí esperei para observar os efeitos da explosão. O carro, entretanto, cobriu a área com fogo intermitente de metralhadora logo após a explosão. Após cerca de uma hora quando tudo se acalmou, rastejei até o carro e examinei o lugar onde havia colocado a carga. Nem metade da lagarta fora destruída e não pude achar qualquer outro estrago no carro. Voltei ao ponto de reunião apenas para constatar que o destacamento havia partido. Enquanto procurava por minhas botinas, encontrei uma outra carga de demolição que havia sido abandonada. Apanhei-a, voltei até o carro, subi nele e prendi a carga no tubo do canhão, com a esperança de pelo menos destruir aquela parte do carro, porquanto a carga não era bastante potente para produzir danos maiores. Rastejei para baixo do carro e detonei a carga. O carro imediatamente cobriu a orla da floresta com fogo de metralhadoras que não cessou até o alvorecer, quando finalmente, pude sair debaixo do carro, rastejando. Quando verifiquei o efeito da carga de demolição, vi, para meu desgosto, que a carga usada havia sido muito fraca. O canhão estava apenas ligeiramente danificado. Ao voltar ao ponto de reunião, encontrei um par de botinas que procurei calçar, verificando então que era muito pequeno. Alguém evidentemente havia, por engano, apanhado minhas botinas. Por essa razão é que regressei descalço e atrasado à minha companhia.
Essa foi a explicação do soldado desaparecido sobre a explosão matutina e os segundos disparos de metralhadoras.
Três tentativas alemãs haviam fracassado. O carro ainda bloqueava a estrada e podia disparar à vontade. O plano 4, que compreendia um ataque por bombardeiros de mergulho, teve de ser cancelado quando se soube não se dispor de tais aviões no momento. É duvidoso que o avião de mergulho conseguisse acertar no carro, mas não se tem dúvida de que qualquer outro resultado não o teria eliminado.
O plano 5 implicava num risco calculado e exigia que se iludisse a guarnição do carro. Esperava-se desse modo que as perdas alemãs fossem mínimas. Compreendia um ataque frontal por uma formação de carros partindo de vários pontos da floresta a leste da estrada, enquanto um outro canhão 88mm seria trazido de Rossienie para destruir o carro de combate. O terreno era bastante favorável para essa operação; a floresta era ligeiramente boscosa e não apresentava qualquer obstáculo à manobra dos carros.
Os blindados alemães desdobraram-se e atacaram o carro russo por três lados. A guarnição russa, visivelmente excitada, girou a torre do canhão por várias vezes num esforço para atingir os carros alemães que mantinham um fogo contínuo do interior do bosque. Enquanto isso, o canhão de 88mm entrava em posição à retaguarda do carro. O primeiro tiro acertou em cheiro e, quando a guarnição procurava girar o canhão para a retaguarda, a segunda e terceira granadas acertaram o alvo. Mortalmente atingido, o carro permaneceu imóvel mas não se incendiou. Então, após o último impacto, o canhão do carro levantou-se verticalmente como, ainda agora, a desafiar seus atacantes.
Os alemães mais próximos desceram de seus carros e aproximaram-se de sua vítima. Para sua grande surpresa verificaram que apenas duas granadas de 88 mm haviam perfurado a blindagem do carro e que cinco outras haviam somente feito mossas profundas. Foram encontradas oito marcas azuis feitas pelos impactos dos canhões AC de 50mm. Os resultados do ataque da engenharia limitaram-se apenas a uma lagarta danificada e uma ligeira mossa no tubo do canhão. Não se encontraram indícios dos tiros disparados pelos carros alemães. Levados pela curiosidade, os alemães subiram no carro e procuraram abrir a torre, mas sem resultado. Subitamente, o tubo do canhão começou novamente a mover-se e a maioria dos alemães se dispersou. Rapidamente, dois engenheiros deixaram cair granadas de mão pelos orifícios feitos pelos impactos na parte inferior da torre; seguiu-se uma explosão abafada e a parte superior da torre soltou-se. No interior do carro estavam os corpos mutilados de sua guarnição.
Os alemães tinham sido malsucedidos em seu primeiro encontro com um KV; nessa parte da frente, um único carro tinha conseguido bloquear a estrada de suprimento de uma poderosa força alemã durante 48 horas.
[editar] Barbarossa no ar
Os nomes-código alemães sempre tenderam a demonstrar a natureza das operações vinculadas a eles. Hitler, portanto, intitulara, grandiosamente, a invasão da União Soviética como Operação Barbarossa, em homenagem ao poderoso Barba Ruiva – Frederico I – que marchara para a terra sagrada no século XI. A Operação Barbarossa era a grande cruzada de Hitler para conseguir o "lebensraum", a expansão territorial para o leste, expressada tão forçosamente no Mein Kampf. Ele planejara uma campanha de seis semanas a fim de destruir o exército soviético, utilizando-se das técnicas testadas e aprovadas da Blitzkrieg, depois da qual haveria um pequeno descanso até um novo ataque contra a Grã-Bretanha.
As forças de Hitler eram maciças: mais de três milhões de homens em 162 divisões, incluindo 200.000 de nações satélites. A Luftwaffe colocou à disposição 2.770 aeronaves de primeira linha, de um total geral de 4.300. A configuração da força era similar à utilizada nas campanhas anteriores: 830 caças monoplace; 90 caças bimotores; 310 bombardeiros de mergulho; 775 bombardeiros de longo alcance; 340 aeronaves de reconhecimento de longo alcance; 370 aeronaves de reconhecimento tático e 55 aviões costeiros; totalizando 2.770 aviões.
Embora os tipos básicos de aeroplanos permanecessem os mesmos, a maioria constava de modelos novos, atualizados. Portanto, as unidades de caça possuíam o Bf 109-F2, talvez o melhor de toda a longa série do 109. Os Staffeln de bombardeiros eram equipados, primariamente, com os Junkers Ju 88A (em torno de 500), com o restante do número complementado com Heinkel 111H e Dornier Do17. Havia também um grande contingente de aviões obsoletos na operação, incluindo os velhos Junker Ju87 Stuka, mas, uma vez que a superioridade aérea fosse alcançada, até mesmo esses poderiam operar impunemente.
Três Luftflotten (frotas aéreas) foram designadas contra as forças soviéticas, agrupadas de forma a prover o máximo suporte para o avanço das forças terrestres. A Luftflotte 1, sob comando do Generaloberst Alfred Keller, possuía a responsabilidade de cooperar com o Grupo de Exércitos Norte em sua jornada através dos países bálticos. A Luftflotte 2, sob o Generalfeldmarschall Albert Kesselring, tinha tanto o maior território a cobrir quanto o a maior parte dos recursos; e deveria apoiar o Grupo de Exércitos Centro, cujo objetivo primário era Smolensk. A Luftflotte 4, comandada pelo Generaloberst Alexander Löhr, suportaria o Grupo de Exércitos Sul, que cobriria a área ao sul dos Pântanos de Pripet até a fronteira romena.
A vasta área a ser atacada e a disposição das forças russas mostrou-se um problema para os alemães exigindo um gigantesco trabalho de identificação e espionagem. A unidade de reconhecimento especial do Oberst Theo Rowehl conduzira quase quinhentos vôos de longo alcance, apontando, ilegalmente, a maioria dos campos de pouso principais dos soviéticos e muitos dos secundários. Uma das aeronaves alemãs chegou a se acidentar próximo a Rovno, em 15 de abril de 1941. Apesar do avião se tratar, obviamente, de uma aeronave de reconhecimento (completa, com câmeras e chapas fotografadas) os soviéticos não protestaram. Stalin, como que hipnotizado pelos alemães, parecia negar a iminência da agressão germânica.
Cedo, na manhã do dia 22 de junho de 1941, trinta bombardeiros, colhidos de três experientes Kampfgeschwaders, cruzaram a fronteira russa em grande altitude - a fim de evitar a detecção - jogando sua carga de bombas em dez bases pré-selecionadas, no momento exato da alvorada. As aeronaves constituíam um grupo heterogêneo: 10 Ju 88A do KG3, 10 Dornier Do 17Z do KG2 e 10 Heinkel He111 do KG53. As bases soviéticas encontravam-se totalmente despreparadas para um ataque, com as aeronaves dispostas em longas filas, asa com asa, como se estivessem convidando os veteranos pilotos alemães a destruí-las.
Depois do alvorecer, à primeira leva de ataque, juntaram-se centenas de aviões, bombardeando e metralhando sessenta e seis campos de pouso russos. Até mesmo o maior bufão da Luftwaffe, Hermann Göring, não podia acreditar nos resultados obtidos. Oitocentos e onze aviões soviéticos foram destruídos no primeiro dia; todos, menos 322, no solo. Para tanto, os alemães perderam somente 32 aeronaves. Nos próximos quatro dias, os escores mostrariam um recrudescimento das defesas soviéticas, mas também deixaram claro que eles começavam a carecer de aviões devidos às pesadas baixas sofridas nestes dias: 800 (2º dia), 557 (3º dia), 351 (4º dia) e 300 (5º dia). Por volta de 5 de outubro, a Força Aérea do Exército Vermelho perdera mais de 5.000 aviões.
Ironicamente, foi Stalin, com sua lendária paranóia de traição e sabotagem, o maior agente desta destruição em massa. Ele recebera relatórios completos dos vôos de espionagem alemães, fora alertado pelos britânicos que um ataque era iminente e até mesmo tinha ciência da data exata do início das hostilidades, comunicado por Richard Sorge, seu infame espião em Tóquio. Ainda assim, até que fosse tarde demais, ele suprimiu todas as tentativas de se estabelecer um estado de prontidão, esperando que, de alguma forma, pudesse ganhar mais tempo junto aos alemães. As forças fronteiriças russas foram surpreendidas, apesar de um alerta de último minuto, enviado pelo Marechal Semion Timoshenko. Enquanto as bombas choviam e os tanques se lançavam à ofensiva, lastimosos operadores de rádio pediam instruções em vão, da mesma forma que acontecera vinte e sete anos antes, em Tannenberg. Os oficiais seniores, sem acreditar nas mensagens transmitidas, respondiam com severas reprimendas pelo uso não apropriado dos códigos.
O sistema de comunicações soviético estava em frangalhos, mas os bombardeiros da VVS (Voyenno-vozdushnye sily - a força aérea soviética) recebiam ordens de contra-atacar as forças alemães que cruzavam a fronteira. Foi aqui que os expurgos stalinistas fizeram-se sentir de maneira avassaladora: devido à inexperiência, os pilotos soviéticos voavam em formação rígida e cerrada, mantendo sempre o mesmo curso e altura, independente da ação de flak e caças inimigos. Eles eram abatidos em pencas, nem mesmo chegavam a se aproximar dos alvos. Von Richtofen considerou suas táticas tão ruins que definiu a carnificina como um "infanticídio". A situação era tão desesperada que os bombardeiros soviéticos decolavam não somente sem escolta de caças, mas muitas vezes sem artilheiros - a guarnição consistia somente do pobre piloto, completamente apavorado.
Assim se iniciou a matança que permitiria aos maiores ases da Luftwaffe acumular escores de centenas de aeronaves; totais estes que se consideravam irreais, fabricados pela propaganda alemã, mas que, após a guerra, foram confirmados. Nas batalhas ocorridas no ar, simplesmente não existia parâmetro de comparação. A maioria dos caças soviéticos consistia dos "gorduchos" I-16, que lograram sobreviver ao encontro com os modelos antigos do Messerschmitt na Espanha, mas que não eram, de forma alguma, páreo para os modernos Bf 109F. A maioria dos pilotos russos era totalmente inexperiente, suas táticas eram pobres e sua liderança não existente. Havia uns poucos veteranos na força aérea vermelha que podiam extrair o máximo de performance de seus obsoletos I-16, conseguindo até mesmo algumas vitórias, mas estes eram raros.
Neste período, dúzias de pilotos alemães começaram a obter vitórias a uma taxa inimaginável. Werner Mölders foi o primeiro ás na história a bater a marca de cem vitórias, sendo, como resultado, prontamente promovido a "General der Jagdflieger". E isso era somente o começo; pelo fim da guerra o escore subira à inacreditável marca de 352 vitórias, obtidas pelo Major Erich Hartmann. Haviam 107 ases alemães com mais de 100 vitórias, em 1945; 15 com mais de 200 e dois com mais de 300 - Hartmann e o Major Gerhard Barkhorn. Uma das razões para esse resultado era, sem dúvida, a habilidade superior e a extraordinária coragem dos pilotos alemães, mas havia uma segunda causa, mais sinistra, que consistia no fato de que não existia política de rotatividade dos pilotos: eles voavam até que fossem mortos. Curiosamente, o maior ás de combate da Segunda Guerra não foi um piloto de caça. O campeão foi o Coronel Hans-Ulrich Rudel, píloto de Stuka, que destruira 519 tanques soviéticos, sendo abatido mais de trinta vezes. Ele foi o único soldado alemão a receber a maior condecoração do Reich: os louros dourados com espadas e diamantes para a cruz de cavaleiro da cruz de ferro. Rudel voou 2.530 missões, muitas depois de ter perdido a perna esquerda pela ação da artilharia antiaérea russa. Ele sobreviveu à guerra.
Com a superioridade aérea temporariamente alcançada, os avanços terrestres alemães funcionaram como um relógio. Os stukas saltavam à frente dos tanques a fim de remover qualquer ninho de resistência ao avanço destes. Porém, em um expediente que se provaria altamente anti-econômico nos próximos quatro anos, bombardeiros de nível, como o He 111, o Ju 88 e o Do 17 eram usados como aeronaves de suporte ao solo, bombardeando e metralhando a baixas altitudes, sofrendo, por consegüinte, severas baixas por ação da AAA russa.
As forças alemãs pressionavam em grandes movimentos de pinça, que cercavam grupos inteiros de exércitos soviéticos. Tal desenvolvimento parecia confirmar as previsões americanas, que estimavam a vitória alemã em três meses: Minks caira em meados de julho com 290.000 prisioneiros, Smolensk uma semana depois com 100.000, em setembro o bolsão de Kiev foi eliminado rendendo 650.000 prisioneiros, enquanto em outubro outros 650.000 foram capturados em Vyazma.
Até mesmo os mais ardentes anti-Hitleristas, como o chefe do generalato alemão, General Franz Halder, foram colhidos pelos acontecimentos. Halder recordou em seu diário que a campanha fora ganha nas duas primeiras semanas de batalha. Entretanto, havia uma nota discordante neste mesmo diário; Halder escrevera que para cada dez divisões soviéticas destruídas, outras dez pareciam se materializar do éter. O serviço de inteligência alemão estimara que o Exército Vermelho possuía 200 divisões, porém, por volta de agosto, os alemães já haviam identificado 360, e outras mais ainda estavam aparecendo. Algumas se apresentavam em trajes civis, outras sem fuzis, mas elas sempre apareciam, eram aniquiladas e outras as substituiam.
A carnificina continuava no ar enquanto as guarnições de terra da Luftwaffe demonstravam sua decantada proeficiência em utilizar campos avançados de suporte à bombardeiros e caças. Os pilotos de bombardeiros de mergulho rotineiramente voavam da madrugada ao anoitecer, decolando dúzias de vezes por dia em missões separadas por quinze minutos, tempo necessário somente para o reabastecimento e rearmamento (com os motores ligados), decolando então para mais um ataque de bombardeio e metralhamento. Entretanto,, a incrível mobilidade da Luftwaffe era, paradoxalmente, um sinal de sua fraqueza: a concentração em um setor do imenso front significava, necessariamente, que outro setor ficaria descoberto. Unidades que provocaram a desgraça dos exércitos russos em Smolenk durante o mês de julho, foram realocadas para o front de Leningrado em agosto e então trazidas de volta a Kiev em setembro. Essa rotatividade mostrava um soberbo uso do material, mas custou muito à Luftwaffe. Carentes de peças de reposição, as aeronaves danificadas precisavam ser deixadas para trás devido à veocidade dos movimentos. Como resultado, o poder combativo das unidades declinava proporcionalmente devido tanto ao atrito normal de combate quanto aos problemas de manutenção. O próprio Marechal de Campo Milch, em uma visita aos campos da linha de frente, em agosto, constatou a carência de peças e aeronaves. Ao retornar à Alemanha, organizou um esquadrão aéreo de mecânicos destinado a visitar esquadrão por esquadrão, canibalizando alguns aviões a fim de consertar outros, além de montar um estoque de sobressalentes a partir de qualquer peça utilizável que os mecânicos do exército considerassem desnecessária.
Em meio ao caos, os russos conseguiram um milagre industrial, movendo mais de 1.500 instalações fabris da indústria de aviação militar, praticamente tijolo a tijolo, para novas localidades nos Urais, com os dez milhões de empregados seguindo nos trens de carga junto ao equipamento. As condições de transporte e trabalho eram subumanas, mas dentro de alguns dias, depois da chegada aos novos locais de trabalho, as aeronaves estavam saindo das linhas de montagem, seguramente fora do alcance dos bombardeiros alemães. A produção de aviões caiu mais de 30% durante a mudança, mas noventa dias depois, crescera mais do que os níveis anteriores. Demorou ainda algum tempo até que a qualidade do material pudesse alcançar os níveis prévios, mas de fundamental importância era que as aeronaves estavam sendo produzidas.
Os russos trocaram espaço por tempo, não por que fosse sua estratégia - pelo contrário, Stalin ordenara que todos os fronts deveriam ser mantidos a todo o custo -, mas por que os alemães os forçaram a tal atitude. Conforme o tempo passava, as penetrações alemãs se dispersaram, tornando-se mais compridas e largas ao longo de todos os três eixos de ataque, antes de diminuir de intensidade devido à falta de suprimentos. O lapso resultante coincidiu com a vacilação de Hitler em definir o que viria a seguir. Depois de esperar por seis semanas críticas, de meados de agosto até 1º de outubro de 1941, Hitler finalmente ordenara um ataque de tudo ou nada contra o prêmio que ele provavelmente teria conquistado em agosto: Moscou.
A Luftwaffe juntara 1.320 aeronaves na Luftflotte 2, sob o comando de Kesselring. As experientes guarnições de ar e terra alemães seguiram adiante enquanto dois exércitos panzer cercavam o Exército Vermelho de forma tão eficiente que todas as comunicações com Moscou foram perdidas. O nome, apropriadamente dado, de Operação Typhoon (furacão) foi confirmado de duas maneiras: a primeira pela rapidez do avanço inicial e então, quando o clima de novembro chegou, pelo estacionamento da ofensiva causado pelas chuvas torrenciais que transformaram as trilhas russas (elas não poderiam nunca ser chamadas estradas, pois sequer possuíam piso ou algum tipo de sistema de drenagem) em um mar de lama, impossibilitando a passagem de qualquer veículo com rodas, e até mesmo os de lagarta. As dificuldades de suprimento e a ambição de Hitler em conquistar mais território do que o originalmente planejado combinaram-se para que a gigantesca campanha sofresse um alto. Pelo fim de novembro, havia três milhões de baixas russas e aproximadamente 800.000 alemãs, constituindo o último em um número impressionante e colocaria a guerra sob uma nova perspectiva para os germânicos. Suas vitórias anteriores foram relativamente inexpressivas em perdas - o triunfo contra a França custou "somente" 155.000 baixas. Devido à tenacidade do soldado russo, que normalmente lutava mesmo quando cercado, a porcentagem de baixas foi excepcionalmente alta entre oficiais juniores. Ainda assim, quando Hitler foi alertado para tal perda em seu quadro de tenentes, ele respondeu: "É para isso que os jovens cavalheiros estão lá". Sua atitude "cavalheiresca" era típica de um regime que exigia tudo do indivíduo, inclusive sua vida, em favor do estado.
As demandas do Mediterrâneo subitamente forçaram Hitler a uma falha desastrosa. A fim de cumprir as determinações de Rommel, ele transferiu a Luftflotte 2, incluindo o efetivo Fliegerkorps II, para a Sicília. O momento não poderia ser pior, pois privou o exército alemão de um poder aéreo desesperadamente necessário diante de Moscou e, pior ainda, chegando muito tarde para ajudar Rommel a combater o ataque britânico na África do Norte.
A situação se complicava enquanto se aproximava o pior inverno que a Europa já vira nos últimos vinte anos. Além disso, centenas de divisões soviéticas, novas em folha, se aglutinavam sob o comando do Marechal Georgi K. Zhukov. A ofensiva alemã se aproximou a um raio de dezenove milhas de Moscou antes de cair por terra. O poder aéreo russo crescera; a VVS (Voyenno-vozdusneye sily) voou 51.300 surtidas durante a defesa de Moscou, sendo 45.000 em missões de ataque ao solo, cinco vezes mais do que o número de missões efetuadas pela Luftwaffe. Neste tipo de ataque, o Ilyushin Il-2 Shturmovik tornava-se cada vez mais numeroso, selando seu epitáfio de carrasco das divisões panzer alemãs.
O dia 5 de dezembro de 1941 marcou o início da maciça contra-ofensiva soviética, que se estendia por mais de 560 milhas, ao longo de uma frente que ia de Yelets a Kalinin. A força aérea alemã via sua força diminuir crescentemente, em um pesadelo de carência de material e defeitos mecânicos. Dos 100.000 veículos da Luftwaffe na Rússia, menos de 15% estavam plenamente operacionais. As aeronaves de combate, privadas de hangares, permaneciam expostas ao tempo - congeladas durante dias seguidos a temperaturas abaixo de 20 graus negativos - necessitavam de meios extremos para ser ligadas, como, por exemplo, acender-se uma fogueira sob seus motores. As poucas unidades que possuíam aquecedores foram obrigadas a utilizá-los para aquecer os motores, enquanto os mecânicos - e suas ferramentas - congelavam nos campos. O único ponto de brilho da Luftwaffe neste período veio da visão de Erhard Milch, que supriu suas guarnições com roupas de inverno, algo que foi completamente esquecido pelos experts de logística do exército.
Um padrão de declínio inevitável emergiu, padrão este que se pronunciaria mais definido conforme a guerra prosseguia. Somente na frente de Moscou, a força da Luftwaffe caíra a 500 aviões aptos a decolar, enquanto a VVS possuía mais de 1.000 aeronaves operando de bases melhores. A força aérea soviética, bem acostumada ao inverno glacial, continuava a funcionar. Pela primeira vez os aviões da VVS podiam operar impunemente, apoiando o avanço das forças terrestres e mantendo as relativamente poucas surtidas alemãs longe de seus alvos.
Os soviéticos mantiveram a pressão ao longo de todo o front durante os meses de janeiro e fevereiro de 1942, assegurando conquistas de até 150 milhas de profundidade. Hitler assumira pessoalmente o comando do exército, ordenando a todas as unidades que não arredassem pé, e morressem em suas trincheiras, a fim de defender os pontos de comunicação chave da frente. A cruel tática foi correta somente sob força das circunstâncias; se os alemães tivessem começado uma retirada, os russos possivelmente os cortariam em pedaços. A frente se estabilizou, e Hitler tomou o sucesso prático de sua ordem como uma confirmação de sua habilidade e gênio como "senhor da guerra". Ele continuaria a aplicar a regra de "nem um passo para trás" durante todo o restante da guerra.
Contudo, o desastre à frente de Moscou teve um lado positivo para os alemães; tornou-se finalmente aparente, até mesmo para Hitler, que o número de aeronaves produzidas pela indústria alemã era insuficiente. Embora a luta nos outros dois fronts - Inglaterra e Mediterrâneo - fosse limitada, ainda assim o combate drenava recursos da Luftwaffe. Erhard Milch começou então um ambicioso programa de racionalização da produção industrial aeronáutica, mudando o esquema de produção das pequenas fábricas que construíam aeronaves completas para "círculos" de pequenas fábricas produzindo componentes para alimentar as linhas de montagem de três grandes complexos. O sistema de Milch mostrou-se magnífico, pelo menos enquanto a Luftwaffe mantinha a superioridade aérea sobre a Europa. Quando a campanha de bombardeio aliado se iniciou, em 1943, esta estrutura teve que ser totalmente revisada.
No início de fevereiro de 1942, ocorreu um evento que profetizaria a batalha decisiva da guerra (N.T: Stalingrado, segundo o autor). Pela primeira vez, os exércitos soviéticos cercaram em uma armadilha um corpo de exército alemão: seis divisões e um número considerável de unidades de suporte, 100.000 homens ao todo, em Demyansk. Eles foram presos em um bolsão nas planícies abertas em temperaturas abaixo de 40º Celsius negativos. Um programa de ponte aérea começou sob direção do Coronel Fritz Morzik, que concordara em enviar 300 toneladas diárias de suprimentos para o bolsão, se lhe fosse provido ao menos 150 aeronaves operacionais Junkers Ju52 por dia e o respectivo material de reposição.
A despeito da oposição soviética, a ponte aérea de Demyansk funcionou, ao custo final de 256 transportes perdidos - mais de metade da produção anual de Ju 52 no período. Morzik foi capaz de manter seis divisões alemãs vivas e em condição de combate por três meses, até 20 de maio de 1942, quando finalmente foram libertados por forças terrestres. Entretanto, ele nunca foi capaz de entregar a quota de 300 toneladas - a média diária girava em torno de 276 toneladas - mas tratou-se de um esforço magnífico, esforço este que criou um precedente que seria aplicado em Stalingrado com conseqüências desastrosas.
[editar] Reconhecimento de combate por infiltração
Durante os últimos dez dias de agosto de 1941, a ofensiva alemã na frente sul deteve-se após atingir o rio Dnepr. Os russos, em posições na sua margem leste ainda realizavam, na região próxima de Cherkassy, alguns contra-ataques limitados.
Enquanto uma divisão de infantaria alemã se preparava para forçar a travessia do rio em Cherkassy, uma outra era empregada numa larga frente com a missão principal de proteger o flanco norte da divisão encarregada do assalto. Ao norte de Cherkassy, uma parte desta última divisão, o 1º Batalhão (reforçado) do 196º RI, foi empregado numa larga frente e em considerável profundidade, entre Dakhnovka e Svidovok. Sua missão era defender o corte do rio contra as tentativas de transposição dos russos.
Face ao 1º Batalhão achava-se um regimento de infantaria russo, reforçado. Suas defesas estavam fortificadas por entrincheiramentos reforçados com madeira e dotados de posições de metralhadoras e por trincheiras de construção primitiva, sem intercomunicações. As posições estavam fortemente guarnecidas e um batalhão completo era mantido em reserva em uma posição central, atrás da linha. Observadores avançados de artilharia e elementos de segurança haviam se estabelecido nas ilhas fluviais. Os russos tinham uma missão tripla: defender o rio contra as tentativas de travessia dos alemães; observar quaisquer sinais que revelassem as intenções do inimigo; e manter contato com uma brigada de guerrilheiros que operava na floresta atrás das linhas alemãs, a oeste do rio.
O regimento russo era composto de combatentes experimentados. A tropa estava bem descansada e se encontrava naquela área e fora de ação há algum tempo. Os suprimentos de alimentos, armas e munições eram satisfatórios. O moral da unidade era bom, porquanto seus veteranos eram fatalistas e os recompletamentos, cuja maioria pertencia à Organização da Juventude Comunista, eram completamente fanáticos.
O batalhão alemão estava com 80% de seu valor combativo. Essa unidade, superiormente treinada e experimentada em combate, estava bem suprida sob todos os aspectos. Embora um pouco fatigada pela constante vigília que mantinha ao longo da linha de frente, ocupada de forma tão diluída, e na área de retaguarda, o moral de seus homens era elevado.
Durante a noite de 21–22 de agosto, três homens, residentes em Svidovok e Dakhnovka, atravessaram a nado o Dnepr com o auxílio de flutuantes feitos de juncos e ramos e atingiram o PC regimental russo. Traziam informações sobre a disposição das tropas alemãs, inclusive a provável localização dos PC e armas automáticas. Ao receber essas informações, o comandante do regimento russo decidiu enviar patrulhas de reconhecimento através do rio numa tentativa de obter maiores detalhes. Como medida inicial as forças de cobertura das três ilhas foram reforçadas. O comandante do regimento escolheu então, de seu batalhão reserva, 40 homens que pareciam estar melhor capacitados para a missão de colher informações atrás das linhas inimigas. Foram organizados dois destacamentos de reconhecimento com a seguinte composição: 1 Oficial, 3 sargentos e 16 homens; cada homem estava armado com uma submetralhadora e três granadas de mão e vestia um uniforme de faxina de tecido leve e sapatos de palha; sua idade variava de 16 a 30 anos e todos eram excelentes nadadores.
Na margem leste do rio, oito botes de fundo chato achavam-se prontos para transportar as patrulhas para o outro lado do rio, passando pelas ilhas. Cada bote estava tripulado por pescadores nativos que, alternadamente, o impulsionavam e dirigiam com um remo pequeno, aproveitando ao máximo a corrente.
A 23 de agosto, as seguintes ordens regimentais foram distribuídas às patrulhas de reconhecimento:
"A margem oeste do rio está fracamente ocupada por forças alemãs. De acordo com os relatórios recebidos de Svidovok e Dakhnovka, os vários postos avançados inimigos estão afastados de uma distância de aproximadamente 300 metros. As reservas locais alemãs parecem ser limitadas. A provável localização das posições, segundo informações de civis, está indicada no mapa anexo.
O regimento necessita de informações exatas sobre a localização das posições e a composição das forças nos setores "a" e "b". É importante que se façam alguns prisioneiros a fim de serem interrogados. A operação será protegida pelas forças de cobertura das ilhas e sob a cuidadosa observação dos observadores avançados. Cumprida a missão, as patrulhas de reconhecimento deverão regressar às ilhas".
Após o recebimento dessas ordens, foi formulado o plano de ação. Às 03.00 horas de 24 de agosto, os destacamentos deslocaram-se para suas posições de partida nas ilhas X e Z e ali ficaram até o anoitecer. A fim de evitar sua descoberta prematura, os homens esconderam-se cuidadosamente, assim como também seu equipamento e muito particularmente os botes. A hora H foi marcada para as 22.00 horas. Toda a operação ficou sob o comando do Capitão Orlov, com os tenentes Novikov e Mirskiy na liderança das patrulhas X e Z, respectivamente.
A ambientação final foi realizada durante o dia. Os informantes civis achavam-se presentes e expressaram completa confiança no sucesso desde que a margem oeste fosse atingida sem despertar suspeitas. Já tarde, na noite de 24 de agosto, o PC avançado do regimento foi deslocado para a margem do rio, imediatamente em frente da ilha Z. Um pelotão de comunicações assegurava contato com as ilhas mediante o emprego de sinalizadores óticos.
A. Patrulha Novikov. Ao cair da noite de 24 de agosto, os botes deslizaram mansamente para as águas do rio, na extremidade norte das ilhas e prepararam-se para a travessia até a margem inimiga. Os botes da ilha X partiram às 21.45 horas, e dirigiram-se para o setor "a" na margem oeste, a pequena distância um atrás do outro. As forquilhas dos remos foram revestidas de panos a fim de evitar qualquer ruído. Cinco minutos depois, o contorno escuro da margem tornou-se visível e após outros cinco minutos todos os quatro botes tocavam a margem que se erguia abruptamente da ordem de 4,5 a 6 metros e que se debruçava sobre o rio em alguns pontos. O Tenente Novikov subiu à ribanceira, olhou em volta e, encontrando a área desocupada, colocou uma marca de madeira num ponto bem escondido.
A um sinal seu, os homens subiram o barranco da margem, um a um. Um grupo de segurança de cinco homens foi separado e recebeu ordem de permanecer próximo do local de desembarque. O restante da patrulha avançou cuidadosamente cerca de uma centena de metros, antes de mudar de direção para o sul.
Por volta das 23.00 horas, ouviu-se o ruído de vozes e passos que se aproximavam. A patrulha rapidamente se escondeu, deitando-se no solo. Pouco depois, quatro alemães passavam bem por perto. A um sinal de mão de Novikov, os russos lançaram-se sobre os soldados alemães e procuraram desarmá-los e capturá-los, com o mínimo de ruído possível. Um dos alemães, entretanto, conseguiu fazer vários disparos com sua submetralhadora enquanto um outro gritava: "Russos, russos!". Na luta corpo a corpo que se seguiu e que durou apenas um minuto, os quatro alemães foram mortos. No final, um dos integrantes da patrulha estava morto e quatro foram feridos, um tão seriamente que teve de ser abandonado.
O barulho do combate alertara os alemães. Pouco depois, ordens eram gritadas e ouviam-se passos pesados aproximando-se de todas as direções. Os russos rapidamente regressaram ao rio; quando se encontravam apenas a cerca de 50 passos de sua margem, os alemães lançaram artifícios luminosos abrangendo toda a área à sua volta e logo abriram fogo sobre os russos com suas metralhadoras, obrigando a patrulha a se abrigar lançando-se ao solo. Soldados alemães aproximavam-se correndo da direção leste e a patrulha viu-se forçada a dar um lanço desesperado até o rio. Um russo foi cortado por uma rajada de metralhadora, mas Novikov e o restante da patrulha chegaram ao rio em segurança, escorregaram ribanceira abaixo, lançaram os botes e afastaram-se remando apressadamente. Artifícios iluminativos alemães, disparados sobre o rio, mostraram os botes e, pouco depois, verificava-se uma troca de tiros. Um dos botes foi atingido e seu remador morto mas o restante de sua tripulação conseguiu agarrar-se a um outro bote e atingir, dessa forma, a ilha Y em segurança.
Não obstante a patrulha de reconhecimento não ter conseguido cumprir sua missão completamente, os russos, por outro lado, puderam verificar a existência real de intervalos entre as posições alemãs, bem como também a atenta vigilância das patrulhas de contato volantes. A situação parecia justificar outros reconhecimentos.
B. Patrulha Mirskiy.
Depois que a Patrulha Z atingiu o setor "b" da margem oeste, o Tenente Mirskiy marcou o local de desembarque com um pedaço de pano branco que escondeu sob um penhasco. Avançou, em seguida, para reconhecer a vizinhança imediata da margem do rio e não encontrou alemães num raio de 50 metros. Deixando o grosso de sua força para trás, Mirskiy escolheu cinco homens e avançou cautelosamente para o sul à procura das posições inimigas.
Após percorrer cerca de 150 passos, sentiu o cheiro de fumaça de cigarro. Cautelosamente, avançou rastejando, enquanto os demais faziam sua cobertura. Poucos minutos depois, atingiu uma rede de arame baixa que parecia ter vários metros de profundidade. Alguns metros mais adiante ouviu um som fraco de conversação e um ruído de metal contra metal.
Cuidadosamente, Mirskiy regressou para junto dos outros cinco homens e em seguida reuniu-se ao restante do grupo. Após designar cinco homens para fazer a segurança na direção sul, conduziu o grosso de sua patrulha para o norte, paralelamente ao rio e a uma distância aproximada de 150 metros de sua margem.
Os russos, deslocando-se com cuidado e habilidade através dos densos arbustos, haviam progredido apenas uma pequena distância quando subitamente uma metralhadora alemã abriu fogo das vizinhanças do local de desembarque, que agora se encontrava para trás e à direita da patrulha. Simultaneamente, ouviram-se fortes ruídos quando os artifícios alemães iluminaram toda a área. A fim de evitar ter o seu retraimento cortado, Mirskiy rapidamente regressou ao local de desembarque. Granadas de mão explodiam à sua volta e uma metralhadora alemã abriu fogo a curta distância. Os russos dispersaram-se rapidamente e tentaram atingir o rio. O fogo intermitente que se ouvia ao sul indicava que o grupo de segurança ainda se encontrava em contato com a patrulha volante alemã.
Onze membros da patrulha russa conseguiram atingir o rio e reuniram-se num ponto ao norte do local de desembarque, onde pacientemente esperaram pelos demais. Enquanto isso, os alemães revistavam cuidadosamente a área. Passou-se uma hora. Os outros nove, inclusive o Tenente Mirskiy e o sargento Petrov, ainda não haviam regressado; em vista disso, o sargento Rudin deu ordem a dois homens para trazerem os botes rio acima, o que fizeram sob a proteção da margem alta e saliente do rio. Os remanescentes da patrulha embarcaram nos botes e atingiram a ilha Z sem maiores incidentes; daí regressaram à margem leste na mesma noite.
Os resultados obtidos por essa patrulha, como os da outra, não foram conclusivos. Embora descobrissem a existência de intervalos nas linhas alemãs, verificaram também que os mesmos eram cuidadosamente vigiados por numerosas patrulhas de contato. Algumas posições inimigas não foram encontradas nos locais indicados pelos informantes civis; os alemães provavelmente haviam realinhado suas forças no período de tempo que decorreu entre a informação e a realização do reconhecimento. Uma coisa, entretanto, ficou clara: fazia-se necessário um outro reconhecimento, de preferência de maior duração. Em vista das possibilidades de dissimulação proporcionadas pela emaranhada vegetação da margem oeste, parecia mais recomendável que o futuro reconhecimento fosse realizado durante o dia, após as forças necessárias terem atravessado o rio e encontrado esconderijos na noite precedente.
C. Exploradores vencem onde as patrulhas fracassaram.
O comandante russo imediatamente decidiu enviar novos elementos para reconhecer as posições alemãs. Dessa vez, deviam também procurar estabelecer contato com a brigada de guerrilheiros, na floresta. Os três informantes civis receberam instruções para regressar a Svidovok e Dakhnovka e estabelecer um sistema de comunicações entre a brigada de guerrilheiros e o PC regimental na margem leste. Mediante sinais de fumaça simples, feitos das chaminés da localidade, os agentes deveriam transmitir informações referentes à chegada de reforços, movimentos de tropas e localização de PC alemães. Além disso, mensagens escritas e detalhadas deveriam ser periodicamente enviadas por correios despachados da margem leste.
Para essa missão, foram selecionados dez soldados do regimento de infantaria, de inteligência acima da média e familiarizados com a região. Receberam flutuantes rústicos e foram numerados. Os exploradores de 1 a 5 foram designados para o setor "a" e os demais para o setor "b".
Todos receberam ordem de atravessar o rio a nado, durante a noite, e de esconder-se no interior da vegetação e sob os penhascos ao longo da margem oeste do rio. Durante o dia, deveriam avançar rastejando, escondidos pelos arbustos e pela vegetação pantanosa, e observar cuidadosamente as vizinhanças imediatas e mais além, tendo em vista determinar o dispositivo, a localização das armas pesadas e o local dos PC alemães; deveriam ainda estabelecer contato com civis de confiança em Dakhnovka e Svidovok e, se possível, com os próprios guerrilheiros; e, finalmente, não deveriam engajar-se em combate com o inimigo, a não ser em último recurso.
Na negra escuridão da noite de 25 de agosto e sob uma fina chuva, os exploradores partiram da ilha X. Cada homem vestia calça e camisa e levava uma faca pendurada no pescoço. Amarrado no flutuante, levavam ainda uma jaqueta e calças de zuarte - de tipo local - sapatos de palha, uma pistola com 25 tiros, um pedaço de mapa e um lápis, tudo embrulhado num invólucro à prova de água.
O explorador 1 atingiu a margem oeste sem ser percebido. Mudou sua roupa num local bem escondido e subiu rastejando o barranco do rio a fim de observar a situação. Não havia tropas inimigas à vista. Escondeu-se sob a densa vegetação a pequena distância do rio e aí permaneceu imóvel, observando a passagem próxima de três patrulhas alemãs sucessivas. Ao alvorecer, notou uma turma de rancho que se aproximava vindo de uma posição a cerca de 150 metros para o sul onde se achavam várias metralhadoras. Depois dos alemães regressarem, o explorador seguiu suas pegadas e, logo depois; descobriu um PC e, em suas proximidades, uma posição de morteiros pesados. Progrediu em seguida várias centenas de metros mas, por volta do meio-dia, decidiu dirigir-se para o norte, deslocando-se a menor distância do rio. Ao parar para observar um ninho de metralhadora, teve seu primeiro momento de perigo. Imaginando terem visto movimentos suspeitos nos arbustos, os alemães revistaram a área. O explorador, entretanto, conseguiu escapar mudando de direção e deslocando-se apressadamente para oeste. Na excitação, perdeu a pistola que, juntamente com outros indícios, os alemães deveriam encontrar no dia seguinte.
Após o escurecer, encontrou um esconderijo num ponto a nordeste de Svidovok e ali permaneceu durante a noite. Na manhã seguinte, 27 de agosto, observou alguns homens e mulheres, escoltados por um soldado alemão, que transportavam baldes de água e feixes de palha e de madeira da localidade para as posições de metralhadoras pesadas situadas nas proximidades. Pouco tempo depois, o explorador viu-os regressar sozinhos e resolveu juntar-se a eles para, destarte, poder entrar na localidade sem ser reconhecido e molestado.
Após comer, estabeleceu contato com um habitante da localidade, que era considerado pelos alemães como anticomunista, e os dois combinaram meios de comunicações. Permanecendo na localidade até 1º de setembro. o explorador aproveitou todas as oportunidades para conseguir informações. Dizendo odiar Stalin e desejar lutar do lado dos alemães, chegou até mesmo a conseguir ser admitido numa cozinha de campanha alemã na qual trabalhou em paga de suas refeições.
Por intermédio das mulheres dos guerrilheiros que residiam na localidade, procurou fazer contato com a brigada que se achava na floresta próxima. Acompanhando algumas dessas mulheres, quando as mesmas saíram em busca de lenha, encontrou-se pela primeira vez com alguns dos guerrilheiros, com os quais trocou informações relativas às forças e posições inimigas e combinou meios de transmissão de mensagens. Terminados os entendimentos, o explorador recebeu um relatório que deveria entregar no PC, após o regresso.
A 2 de setembro, o explorador iniciou sua jornada de volta. Uma vez mais, reuniu-se a um grupo de mulheres que transportavam madeira e água para as posições alemãs. Uma vez fora da localidade, escondeu-se na vegetação e, certificando-se que a "costa estava limpa", rastejou até um ponto desenfiado, localizado entre duas posições alemãs. Perto do escurecer, aproveitando um pesado nevoeiro, deslocou-se até o rio e atingiu a outra margem em segurança.
Os resultados dessa missão de reconhecimento foram tão satisfatórios que os russos conseguiram desencadear um potente ataque contra o PC alemão em Svidovok e contra as posições de armas pesadas no dia seguinte.
O explorador 10 atingiu a margem oeste ao mesmo modo que o explorador 1. Na manhã seguinte, 26 de agosto, iniciou seu deslocamento aproveitando-se de uma vala que se afastava do rio na direção noroeste. Ao chegar próximo de duas posições de metralhadoras pesadas e de alguns soldados que apanhavam água na vala, escondeu-se e ficou observando. De seu esconderijo pode ouvir tiros e gritos partidos de algum lugar mais ao norte. Um cão que latia nas proximidades apareceu subitamente no parapeito da posição e, pouco depois, o explorador ouvia o ruído de alemães que se aproximavam de todos os lados. Sem hesitação, mergulhou na vala, num lugar em que a água cobria até sua cabeça. Enquanto os alemães faziam uma cuidadosa busca nas redondezas, conservou-se submerso, respirando por um canudo de junco que apanhara junto da vala. Após aproximadamente meia-hora, o explorador levantou a cabeça o bastante para poder olhar em torno. Assegurando-se de que o perigo imediato de captura já passara, pôs-se novamente em movimento, nadando ou andando na água conforme sua profundidade permitia. Em pouco tempo, abandonou a vala e rastejou pelo pântano e através da vegetação para oeste até atingir uma encosta íngreme que dominava uma lagoa. Uma vez mais ouviu o latido de um cachorro e, sem um momento de hesitação, lançou-se à lagoa, onde permaneceu por mais de uma hora, parcial ou totalmente submerso, por vezes.
Quando achou que já havia segurança para prosseguir, subiu a encosta e abrigou-se no meio da vegetação. Numerosas patrulhas de reconhecimento e turmas de rancho alemãs passaram por perto do lugar em que se encontrava.
Próximo do escurecer, acompanhou a alguma distância atrás uma das turmas de rancho que se dirigia para o sul. Ao atingir a orla da floresta, subiu em uma árvore e ali ficou escondido até o amanhecer. Ao clarear, pode ver, de seu esconderijo na árvore algumas posições de metralhadoras e morteiros alemães. Em seguida, desceu da árvore e dirigiu-se para o sul, conservando-se junto dos bosques, e em pouco tempo chegava à vila de Dakhnovka. De seu esconderijo num campo de milho, ficou observando a vila até o anoitecer, após o que entabulou conversação com um grupo de mulheres que lhe revelaram estar levando comida para os maridos que pertenciam à brigada de guerrilheiros que se encontrava na floresta. Após identificar-se, o explorador combinou as mulheres de o apanharem no caminho de volta à vila, na manhã seguinte.
Ao atingir Dakhnovka em companhia das mulheres, na manhã seguinte, foi levado para um celeiro que deveria servir-lhe de esconderijo. Mais tarde, nesse dia, encontrou-se com um agente que o preveniu sobre as severas medidas de segurança dos alemães e que lhe trouxe algumas roupas femininas para uso numa emergência. O agente disse-lhe, também, que não havia possibilidade de atravessar a vala e atingir o rio diretamente da vila, porquanto a área estava muito vigiada e não era permitido o trânsito de civis na mesma. O explorador informo-se dos arranjos feitos para lançar de pára-quedas algumas caixas com pombos correios para os guerrilheiros e que cabia a estes a responsabilidade de transportá-los para a vila. Como o explorador permaneceu na vila até 3 de setembro, teve ampla oportunidade de obter informações sobre a guarnição alemã, inclusive a localização do PC da companhia e nas posições de uma seção de obuseiros.
Na noite de 3 de setembro, em companhia das mulheres, o explorador foi ao encontro dos guerrilheiros na floresta, sendo recebido pelo oficial de suprimento da brigada, com o qual discutiu meios de transmissão de mensagens. Os dois homens concordaram que a via de acesso mais apropriada para um correio, entre a floresta e o rio, era a que fora seguida e marcada pelo explorador.
No dia seguinte, utilizando o mesmo caminho da vinda, o explorador regressou. Ao anoitecer de 5 de setembro, atingiu a margem oeste e daí nadou até a margem leste, passando pela ilha Z. As informações obtidas pelos dez exploradores foram comparadas e avaliadas. Em conseqüência desse trabalho, a artilharia russa conseguiu bater com precisão e de forma eficaz alvos vitais alemães.
D. Infiltração de correios russos durante ações diversionárias de patrulhas de combate.
A finalidade principal da operação era o estabelecimento de um serviço regular de correios entre as forças russas na margem leste do Dnepr e a brigada de guerrilheiros na floresta, na margem oeste. A fim de facilitar o deslocamento dos correios, patrulhas de combate deveriam ser empregadas em ações de finta simultâneas contra Svidovok e Dakhnoyka, num esforço para fixar as forças alemãs e distrair sua atenção. A operação foi planejada e dirigida pelo comandante do regimento russo e apoiada pelo fogo concentrado da artilharia em posição na margem leste do rio.
Para realizar as fintas, foram organizados dois destacamentos, constituídos por 50 marinheiros da flotilha do Dnepr, e que atuariam como patrulhas de combate. Cada uma delas recebeu dois correios. As tropas seriam transportadas através do rio em três grandes botes a remo e em várias embarcações fluviais menores. Os marinheiros estavam armados com metralhadoras leves, fuzis automáticos, submetralhadoras e pistolas. Cada correio vestia jaqueta e calças de zuarte de tipo local e sapatos de palha e conduzia uma pistola, 50 tiros, um trecho de mapa à prova d'água e uma caixa com um pombo-correio; além disso, cada um deles recebeu uma cópia da seguinte ordem, a ser transmitida à brigada de guerrilheiros:
"Supremo Quartel General de Guerrilheiros, Ucrânia, 6 de setembro de 1941.
1. Para cumprimento imediato e de acordo com ordens do QG do Exército, o Coronel N.N. é exonerado do comando da ... Brigada de Guerrilheiros e transferido para o Supremo QG de Guerrilheiros, na Ucrânia. O major M.M assume o comando da Brigada. 2. Aparelhos de rádio não serão distribuídos ainda durante várias semanas. 3. A partir desta data e até 13 de setembro, pombos-correio serão lançados de avião nos locais e horas designados, mediante a transmissão de sinais luminosos pré-determinados.
Por ordem do Comando Supremo de Guerrilheiros, Ucrânia, General X.X."
Durante a noite de 6-7 de setembro, as vias de Svidovok e Dakhnovka, assim como pontos intermediários, foram varridas por forte barragem de artilharia. Os desembarques foram realizados entre 00.30h e 01.00 hora. No dia seguinte, quando os alemães perceberam que a população civil estava abandonando as vilas e se dirigindo para os campos abertos, ficaram com suspeitas e tomaram precauções que diminuíram consideravelmente suas perdas subseqüentes.
Após atingir a margem oeste, no setor de Svldovok, o Destacamento de Assalto "a" progrediu cerca de 400 metros. As reservas alemãs, concentradas nessa área, enfrentaram os atacantes e os repeliram após um furioso combate corpo a corpo que durou aproximadamente uma hora. Nesse ínterim, os correios haviam-se posto a caminho através das linhas alemãs e, embora um fosse descoberto cerca de 3 horas mais tarde e imediatamente morto, o segundo, contornando amplamente a vila por noroeste, conseguiu atingir o acampamento dos guerrilheiros, na floresta, ao anoitecer.
No setor de Dakhnovka, os alemães achavam-se emboscados, esperando pelo destacamento "b"; em vista disso; o assalto foi frustrado logo no início. Ambos os correios, entretanto, conseguiram desembarcar. Um deles, quando tentava passar através das linhas alemãs, próximo da vila, foi surpreendido por uma patrulha e imediatamente morto a tiros. O segundo correio, seguindo a via de acesso previamente determinada ao longo da vala, atingiu os guerrilheiros sem qualquer incidente.
No curso dessa ação combinada, comportando patrulhas de combate e correios, foram mortos ou feridos 38 russos, enquanto as forças defensoras alemãs perderam apenas 7 mortos e 8 feridos. Os russos, de um modo geral, demonstraram grande habilidade na travessia de importantes barreiras aquáticas, utilizando os meios mais primitivos e, freqüentemente, a natação. Os alemães, em vista disso, tinham de encarar com a máxima suspeita qualquer moita de juncos ou de vegetação aquática que fosse vista flutuando num rio, a despeito de seu aspecto natural ou inofensivo.
Era hábito russo atacar simultaneamente em vários pontos, não obstante o custo da operação, para somente assegurar o êxito da mais ínfima missão. Nas situações em que uma linha contínua não podia ser mantida pelos defensores alemães eram permissíveis intervalos, mas somente nos locais em que dispunham de clara visão e bons campos de tiro. A utilização de arames de alerta e de numerosas patrulhas de contato era muito importante.
Como os russos se deslocavam com relativa facilidade através de rios, pântanos e florestas, sem caminhos e a sua observação pelos alemães era por vezes deficiente, a utilização de cães mostrou-se com freqüência, muito eficaz. Em regra, as tropas russas colaboravam intimamente com a população civil das áreas ocupadas pelos alemães e tiravam vantagem de todos os meios de dissimulação. Isto obrigava os alemães a uma observação intensa dos civis e à realização freqüente de buscas minuciosas, de casa em casa. Pela mesma razão, a confraternização com os russos, civis ou militares, ou a confiança nos mesmos mostraram, com freqüência, serem imprudentes e perigosas para os alemães. A constante mudança de postos de comando e de áreas de acantonamento reduziu drasticamente o perigo das tropas alemãs confraternizarem demais com a população civil.
[editar] Perante Moscou
Um amargurado relato de Guderian sobre suas relações com Hitler e o OKH durante a Barbarrossa, diante a capital soviética:
À 14 de junho, Hitler reuniu os seus oficiais em Berlim, a fim de lhes explicar os motivos que o levaram a atacar a Rússia. Dada a impossibilidade de derrotar a Inglaterra, tinha de triunfar no continente. Entretanto, as posições alemãs na Europa não serão inexpugnáveis enquanto a Rússia não for esmagada... Estas justificações de guerra preventiva contra a Rússia não eram convincentes. Enquanto a luta prosseguia no Oeste, toda e qualquer nova empresa militar conduziria a guerra em duas frentes. Em 1914 esta mesma situação havia conduzido a derrota e a Alemanha de Adolf Hitler não parecia mais bem armada do que a do Kaiser. Por isso a assembléia acolheu sem comentários o discurso de Hitler, no meio de uma atmosfera muito tensa. Nenhum intercâmbio de opiniões se produziu e nos separamos em silêncio.
Antes de descrevermos os acontecimentos, lancemos uma olhada sobre a situação de conjunto do Exército alemão no começo desta decisiva campanha da Rússia.
Segundo as informações de que disponho, as 205 divisões alemãs distribuíam-se a 28 de junho de 1941 da seguinte maneira: no Oeste tinham ficado 38 divisões, 12 achavam-se na Noruega, 12 na Dinamarca, 7 nos Balcãs, 2 na Líbia; assim, pois, 145 divisões estavam disponíveis para a campanha do Leste. Tal divisão das forças demonstrava um lamentável desperdício do seu poder. A cifra de 38 divisões para o Oeste mais 12 para a Noruega parecia exagerada. Além disto, a campanha dos Balcãs foi a causa da demora do ataque à Rússia.
Mas subestimar o adversário russo teve outro efeito ainda mais grave: as informações do exército, principalmente as do General Koestring, nosso excelente adido militar em Moscou, sobre a potência militar do gigantesco império soviético, encontravam tão pouco crédito em Hitler como as da produção industrial e da solidez interna do regime. Em contrapartida, Hitler tinha sabido transmitir o seu otimismo irrefletido à sua esfera de relações militares e o OKW e o OKH, convencidos de que a campanha iria terminar antes do começo do inverno, não tinham previsto equipamento apropriado para o exército, senão na proporção de um homem em cada cinco.
Até 30 de agosto de 1941, o OKH não se ocupou seriamente de dotar com este equipamento as unidades mais importantes. Não posso de forma alguma admitir uma afirmação que se ouve agora de vez em quando: Hitler foi o único culpado de que faltassem roupas de inverno às forças terrestres em 1941. A Luftwaffe e as Waffen SS estavam, com efeito, amplamente providas e tinham recebido este equipamento na época devida. Mas o Estado-Maior sonhava vencer militarmente a Rússia em sete ou dez semanas e provocar depois a sua derrocada política. Tão firmemente confiava neste projeto quimérico que, ainda em 1941, se operou a reconversão da indústria que trabalhava para o exército e para outros setores da economia. Inclusive pensou-se fazer voltar à Alemanha, no princípio do inverno, 60 a 80 divisões do Leste, na certeza de que o resto das forças bastaria para conter a Rússia durante a estação fria. Quanto às tropas que ficassem na Rússia, assim que terminassem as operações do outono, pretendia-se que invernassem em bons quartéis, numa linha de apoio. Tudo, até então, parecia muito simples e correndo às mil maravilhas. Repudiaram-se as objeções, com otimismo. A narração dos acontecimentos demonstra quão longe da dura realidade estavam estes projetos.
Mencionamos ainda outro assunto que, mais adiante, foi muito prejudicial para o prestígio alemão. Pouco antes do início das hostilidades, uma ordem do OKW, sobre o tratamento que devia ser dado às populações civis e aos prisioneiros na Rússia, foi transmitido diretamente aos corpos de exército. Já não era obrigatório aplicar o código de justiça militar para sancionar as sevícias cometidas contra a população civil e os prisioneiros de guerra, mas sim que cada caso devia ser submetido à apreciação dos superiores. Esta ordem podia prejudicar gravemente a disciplina. Proibi divulgá-la entre as minhas divisões e ordenei a sua devolução a Berlim.
Outra ordem, igualmente injusta, dispunha a execução imediata dos comissários políticos, isto é, dos membros do Partido Comunista destacados junto dos chefes militares capturados. Se bem que, segundo parece, foi recebida no Grupo de Exércitos do Centro, jamais chegou ao conhecimento das minhas unidades. Retrospectivamente, não podemos senão lamentar que estas ordens não tivessem sido anuladas pelo OKW e o OKH, evitando o desprestígio do bom nome alemão e os amargos sofrimentos de soldados irrepreensíveis. Pouco importa que os russos tivessem ou não aderido aos convênios de Haia, que tivessem reconhecido ou não a Convenção de Genebra; os soldados alemães deviam ajustar a sua atitude a estas prescrições internacionais e aos imperativos da fé cristã. Mesmo sem estas ordens excessivas, já a guerra ia pesar duramente sobre a população civil russa, a qual tinha tão pouca responsabilidade como a nossa no desencadear das hostilidades.
Assim, pois, a 22 de junho, as tropas alemãs cruzaram a fronteira. Em algumas semanas realizaram um enorme avanço. No centro, Smolensk foi tomada no correr do mês de julho. Moscou estava só a 300 quilômetros. Ao norte, os exércitos marchavam firmemente em direção a Leningrado, enquanto que, ao sul, ameaçavam Kiev. A 23 de agosto fui chamado a uma conferência do grupo de exércitos. O chefe do Alto Estado-Maior do exército, General Halder, assistiu à reunião. Comunicou-me que, daí para o futuro, Hitler estava disposto a renunciar às operações previstas, tanto sobre Leningrado como sobre Moscou. Queria apoderar-se antes de mais nada da Ucrânia e da Criméia. Discutiu-se largamente sobre a maneira de modificar a "inquebrantável decisão de Hitler. Considerávamos unanimemente que a solução, adotada já irrevogavelmente, de dirigir o nosso esforço sobre Kiev nos levaria inevitavelmente a uma campanha de inverno e provocaria as complicações que o OKH queria evitar a todo o custo.
Depois de longas e estéreis discussões, o General Von Bock propôs que eu acompanhasse o General Halder ao Quartel-General do Führer para lhe expor a nossa posição. Como vinha diretamente da frente, pensei que os meus argumentos teriam mais peso e poderia conseguir que nos permitisse fazer um último ataque contra Moscou. Aceitou-se o projeto; partimos no meio da tarde e à hora do crepúsculo aterrissamos no aeródromo do Loetzen, na Prússia Oriental.
Fui ver Hitler. Ante um vasto auditório em que tomavam parte Keitel, Jodl, Schmundt e outros generais do Oberkommando e Wermacht (mas, infelizmente, nenhum representante das forças terrestres), fiz uma exposição da situação do meu Panzergruppe, do seu estado e da configuração do terreno. Quando terminei, Hitler perguntou-me:
- Depois do que acaba de dizer, considera as suas unidades capazes de realizar um grande esforço? - Sim, desde que se fixe às tropas um objetivo cuja importância possa ser compreendida por qualquer soldado - respondi. - Evidentemente, está pensando em Moscou - replicou Hitler. - Sim - disse - e, já que abordou o tema, permita-me que lhe explique as minhas razões.
Hitler consentiu. Expus pormenorizadamente os motivos em prol do prosseguimento das operações sobre Moscou e contra a marcha sobre Kiev. Expliquei que, do ponto de vista militar, o mais importante era distrair as forças combatentes do inimigo, já muito debilitadas nos últimos encontros. Descrevi a importância geográfica da capital da Rússia. Ao contrário de Paris, na França, Moscou não era somente o centro da rede de transportes e transmissões e o coração político do país, mas também uma importante zona industrial; a sua queda causaria grande impressão, tanto no povo russo como no mundo. Falei do moral das tropas, que só esperavam a ordem de marchar sobre Moscou e tinham-se preparado entusiasticamente para isso. Tentei demonstrar que, uma vez iniciado o ataque na direção decisiva, os territórios da Ucrânia, tão importantes do ponto de vista econômico, cairiam em nosso poder como fruta madura, pois os deslocamentos, de norte a sul, dos russos iriam complicar-se notavelmente por causa da desorganização que a tomada de Moscou causaria nas suas comunicações. Descrevi o estado das estradas no setor da ofensiva que me tinha sido designada e as dificuldades de abastecimento, que aumentariam de dia para dia, no caso de avançarmos sobre a Ucrânia. Mencionei, finalmente, os graves problemas que suscitaria uma demora nas operações. Se estas tinham de prosseguir durante o período de mau tempo, seria então demasiado tarde para levar a cabo os projetos do Estado-Maior e assestar o golpe decisivo sobre Moscou antes de terminar 1941. Hitler deixou-me falar sem uma só interrupção; depois tomou a palavra e explicou com todo o pormenor por que tinha preferido adotar outra decisão. As matérias-primas e a base de abastecimentos da Ucrânia, explicou em particular, eram de vital importância para a continuação da guerra. A partir daí, continuou a sublinhar a importância da Criméia, "porta-aviões natural que podia servir à União Soviética para lançar-se sobre o petróleo romeno". Era preciso eliminá-la do jogo. Pela primeira vez ouvi a frase "os meus generais não entendem nada da economia da guerra. Pela primeira vez fui testemunha de uma cena que iria repetir-se freqüentemente: todos os presentes aprovavam cada frase de Hitler e eu encontrei-me só frente a ele. Ante o bloco compacto da OKW, neutralizando-me, renunciei a lutar naquele dia, pois nessa época ainda acreditava que ninguém se podia permitir fazer uma cena violenta ao chefe supremo do Reich em presença dos seus ajudantes.
Passava da meia-noite quando regressei aos meus alojamentos. A 24 pela manhã, fui ver o chefe do Alto Estado-Maior do exército e informei-o do fracasso da última tentativa para mudar a opinião de Hitler. De acordo com as ordens do Führer, a Batalha de Kiev desencadeou-se a 25 de agosto. Os combates terminaram vitoriosamente a 16 de setembro. Os russos capitularam. O número de prisioneiros elevou-se a 665.000 homens. O comandante-chefe da frente sudoeste e o seu chefe de Estado-Maior pereceram nos últimos encontros, tentando perfurar as nossas linhas. O general que comandava o V Exército foi feito prisioneiro. Tive com ele uma conversa interessante:
- Quando é que soube que os meus blindados se moviam na sua retaguarda? - Por volta de 8 de setembro. - Por que é que não evacuou Kiev naquele momento? - Tínhamos recebido a ordem de evacuar e de nos retirarmos para leste e já nos dispúnhamos a cumpri-la quando uma contra-ordem nos obrigou a fazer frente novamente ao inimigo e a defender Kiev a todo custo.
A execução da contra-ordem teve como conseqüência o aniquilamento daquele grupo de exércitos. Ficamos surpresos com semelhante intervenção. O inimigo não voltou a repeti-la; mas nós padecemos, desgraçadamente, as piores intervenções do mesmo gênero. Sem dúvida que esta vitória representava um grande êxito tático, mas era duvidoso que produzisse conseqüências estratégicas de importância. Isso dependia de uma coisa: conseguiriam os alemães obter resultados decisivos antes do inverno e, inclusive, antes que, já iniciado o outono, a terra se convertesse num lamaçal? De imediato tinha sido preciso renunciar ao ataque projetado para apertar o cerco de Leningrado. Entretanto, o Oberkommando das forças terrestres achava que o adversário já não estava em condições de opor aos exércitos do Sul uma frente coerente e capaz de oferecer uma séria resistência. Com aquele grupo de exércitos poderia, pois, conquistar a Bacia do Donetz e chegar ao Don antes do inverno.Mas Moscou constituía o ponto onde era preciso assestar o golpe principal com o reforço de exércitos do Centro. Teríamos tempo para isso?
A ofensiva sobre Orel-Briansk representava a fase preliminar do ataque a Moscou. Uma vez mais concluiu vitoriosamente a batalha; teríamos forças para prosseguir o ataque e explorar o triunfo? Esta era a interrogação mais grave até agora para o comandante supremo.
Enquanto as operações de inverno prosseguiam deste modo, nos preocupávamos em alimentar a Alemanha, os nossos exércitos e a população civil russa. Depois das abundantes colheitas do outono de 1941, existiam em todo o país grandes quantidades de cereais panificáveis. Também não havia escassez de gado para o matadouro. As necessidades da tropa foram cobertas e, como o lamentável estado das linhas férreas até a primavera de 1942 impedia o II Exército Blindado de enviar estes produtos à Alemanha, foram entregues à população, especialmente à de Orel. Algumas fábricas desta cidade, cuja maquinaria não pôde ser retirada pelos russos, entraram de novo em serviço para cobrir as necessidades do exército e dar trabalho à população civil. Isto aconteceu com uma fábrica de Folha-de-flandres e com oficinas que trabalhavam couro e feltro para o fabrico de calçado.
Quanto ao estado de ânimo da população russa, reflete-se numa conversa que tive em Orel, durante esse período, com um velho general do Czar: "Se tivessem vindo há vinte anos, nós os teríamos acolhido com entusiasmo, disse-me”.Mas agora é demasiado tarde. Chegam quando começamos a viver e nos fazem retroceder de novo vinte anos; temos de refazer tudo desde o princípio. Agora combatemos pela Rússia e estamos todos unidos na luta. Além disto, quando os comissários do Reich, todos eles funcionários nazistas, substituíram a administração militar, arranjaram as coisas de modo a anular em pouco tempo toda a possível simpatia pelos alemães e preparar assim a praga dos guerrilheiros.
[editar] A preparação da contra-ofensiva
Relato do Marechal Georgi Zhukov sobre as preparações para a contra-ofensiva soviética, diante de Moscou, no inverno de 1941:
Quando nos referimos à transferência da defensiva para a ofensiva, pelas forças soviéticas na frente de Moscou, devemos lembrar-nos irrestritamente das características específicas da situação surgida no eixo estratégico ocidental em fins de novembro e começo de dezembro de 1941. Já então, as forças alemães haviam atacado o noroeste de Moscou e na área de Tula, com o objetivo de romper nossa resistência nos flancos da frente ocidental, flanqueando e tomando Moscou, achavam-se numa frente muito ampla e inteiramente exausta física e mentalmente. Como não dispunham de reserva operacionais ou táticas, os alemães já não podiam encerrar sua ofensiva com sucesso, muito embora continuassem a espicaçar nossa defesa, com sua atitude de espera. Na retaguarda, o movimento guerrilheiro pressionava cada vez mais.
Todavia, a situação dos soldados da defesa continuava extremamente tensa, pois as forças soviéticas, que também haviam sofrido grandes baixas, ainda não tinham conseguido deter por completo o inimigo. Este se achava nos umbrais da capital e, em alguns setores da linha de defesa avançada soviética, a apenas 30km dela. Por conseguinte, o comando soviético não podia considerar resolvida a tarefa da batalha defensiva; o inimigo tinha que ser detido de uma vez por todas, e independente do que pudesse ocorrer depois.
Em vista da peculiaridade desta situação, a contra-ofensiva das forças soviéticas na frente de Moscou surgiu no curso da própria batalha defensiva. Ela foi uma continuação dos contra-ataques das nossas tropas nos flancos da frente, que haviam iniciado no final de novembro e começo de dezembro. Além disso, a maneira de conduzi-la foi bem organizada e aperfeiçoada à medida que os contra-ataques prosseguiram.
Até o fim de novembro, nem o STAVKA nem as frentes, sobretudo a ocidental, cujas tropas na realidade estavam defendendo Moscou, tinham elaborado o plano para uma contra-ofensiva. Durante aquele tempo, os nossos pensamentos e ações estavam centralizados unicamente em deter as principais forças inimigas que haviam penetrado profundamente em nossa defesa, e infringir-lhes tal derrota que seriam obrigados a abandonar sua ofensiva.
A 29 de novembro, telefonei para Stalin, e depois que o pus a par da situação, pedi-lhe que desse uma ordem subordinando à Frente Ocidental o 1º Exército de Choque e o 10º Exército, que estavam na reserva do STAVKA, de modo a atacar mais vigorosamente os nazistas, detê-los e depois repeli-los de Moscou. Stalin ouviu-me atentamente e depois perguntou: "Você tem certeza que o inimigo entrou em crise e não está em posição de introduzir uma força grande e nova em ação?"
Respondi que o inimigo estava esgotado, mas a menos que trouxessem mais forças, as tropas da frente seriam incapazes de liquidar essas penetrações perigosas. Se não as liquidássemos agora, o comando alemão poderia reforçar suas forças mais tarde, recorrendo a grandes reservas criadas às custas dos Grupos de Exércitos Norte e Sul, e então nossa posição seria mais difícil.
O Comandante Supremo ficou de consultar o Estado-Maior-Geral. Por ordens minhas, o Chefe do Estado-Maior da frente, General Sokolovsky, que também achava ser o momento bastante propício para pôr em ação o grosso do 1º Exército de Choque e o 10º Exército, telefonou para o Estado-Maior-Geral e defendeu o ponto de vista favorável de que se deveria entregar esses exércitos à Frente Ocidental o mais depressa possível. Mais tarde, na noite de 29 de novembro, recebemos o comunicado da decisão do STAVKA; o 1º Choque, o 10º e também todas as formações usadas para criar o 20º Exército foram subordinados à Frente Ocidental. Ao mesmo tempo recebemos ordens de formular um plano para seu aproveitamento.
Antes de clarear o dia 30 de novembro, Stalin telefonou e quis saber a opinião do Conselho Militar sobre uma contra-ofensiva que seria desfechada por todas as forças da Frente. Respondi que ainda não tínhamos nem tropas nem armas adequadas para tal empreendimento, mas que talvez pudéssemos realizá-lo pelo desenvolvimento de contra-ataques nas alas da Frente.
Durante todo o dia 30 de novembro, o Comando da Frente trabalhou em um plano visando uma contra-ofensiva com a colaboração dos exércitos que nos tinham sido entregues. A essência da decisão que tomamos é a seguinte: dependendo do tempo que levaria o desembarque e a concentração do 1º de Choque, o 10º e o 20º Exércitos, a frente poderia começar a contra-ofensiva a 3 ou 4 de dezembro. A primeira tarefa consistia em derrotar o principal grupo inimigo na ala direita por um ataque desfechado na direção de Klin, Solnechnogorsk e no eixo de Istra, e também os alemães da ala esquerda da frente, derrotando-os em Uzlovaya e Bogoroditsk, numa penetração ao flanco e à retaguarda da força de Guderian. Os exércitos centrais da Frente passariam para ofensiva a 4 ou 5 de dezembro, com o objetivo limitado de reter as forças inimigas que os enfrentavam e impossibilitando-as de transferir as tropas.
Até que se iniciasse a contra-ofensiva, nosso objetivo ainda era o mesmo: deter o avanço alemão a noroeste de Moscou e no eixo de Kashira, e, para este fim, utilizamos as forças que estavam ali e, à medida que chegavam, também os elementos avançados das formações de reserva do STAVKA que tinham sido transferidas para nosso comando.
Nossa proposta para encetar a contra-ofensiva, planejada sobre um mapa, foi apresentada ao STAKA a 30 de novembro, juntamente com uma nota explicativa, e Stalin aprovou-a sem qualquer alteração. Depois disso as tropas foram encarregadas das seguintes tarefas: o 1º Exército de Choque (Tenente-General V. O. Kuznetsov) eliminaria as forças inimigas que haviam penetrado atrás do canal Moscou-Volga e depois deslocaria todas as suas forças na área Dmitrov-Yakhroma e atacaria em conjunto com o 30º e o 20º Exércitos na direção de Klin e como também na direção-geral de Teryayeva Sloboda; ao 30º Exército coube a missão de derrotar o inimigo na área de Rogachevo-Borshchevo e, em cooperação com o 1º Exército de Choque, capturar a área de Reshetnikovo-Klin, atacando depois na direção de Kostlyakovo e Lotoshino; o 20º Exército atacaria a área de Krasnaya Polyana- Bely Rast, com a ajuda do 1º de Choque e do 16º Exército, diretamente a Solnechnogorsk, flanqueando-o pelo sul e prosseguindo na direção de Volokolamsk. Além disso, a ala direita do 16º Exército deveria atacar na direção de Kryukovo e prosseguir para Istra; o 50º Exército, na defesa da área de Tula, foi encarregado de atacar na direção de Bolokhovo e Shchekino e, depois, para operar conforme a situação. O Grupo Operacional de Belov atacaria partindo da área de Mordves na direção de Venev e prosseguindo para Stalinogorsk (Novomogorsk) e Dedilovo, em cooperação com os 50º e 10º Exércitos. O 10º Exército, desenvolvido ao longo das linhas Derebryanye Prudy-Mikhaykov, deveria passar para a ofensiva contra Uzlovaya e Bogoroditsk e prosseguir para o sul pelo rio Upa.
Desse modo, as forças suplementares dos três exércitos a nós entregues foram introduzidas contra os grupos norte e sul dos alemães.
Os quatro exércitos da Frente Ocidental que estavam defendendo o centro (5º, 33º, 43º e 49º) foram encarregados da tarefa de reter unidades e formações inimigas por meio de operações sem tréguas, para impedir de manobrar livremente as suas forças. Como estavam muito enfraquecidos, esses exércitos não eram capazes de operações mais decisivas.
Assim, em suma, nosso objetivo imediato era eliminar a ameaça a Moscou e pretendíamos dar aos exércitos suas outras tarefas de acordo com desenrolar dos acontecimentos. Com as forças que tínhamos então, não podíamos dar, de imediato, objetivos mais amplos e decisivos às tropas da Frente. Na verdade, a despeito da transferência de três exércitos para a nossa Frente, ainda carecíamos de superioridade numérica sobre o inimigo, exceto em aviões. Mas não era só isso, pois a superioridade dos alemães ainda se manifestava em tanques e artilharia. Esta circunstância era típica da situação na frente de Moscou durante aquele período.
Certo dia, quando Stalin falava comigo ao telefone (acho que foi na manhã do dia 2 de dezembro, embora não me recorde exatamente da data), ele perguntou: "Qual a avaliação que a frente faz do inimigo e de suas capacidades?" Respondi que o inimigo estava perdendo o fôlego de uma vez por todas. Era evidente que ele já se sentia incapaz de reforçar seus grupos de ataque com reservas e, sem elas, as forças alemães não poderiam realizar uma ofensiva. O Comandante Supremo disse: "Ótimo. Telefonarei novamente". Compreendi que o STAVKA estava pensando em outras operações para nossas forças. Cerca de uma hora depois, o Comandante Supremo tornou a telefonar e perguntou o que a Frente pretendia fazer nos próximos dias. Informei-lhe que os soldados estavam preparando-se para uma contra-ofensiva, de acordo com o plano estabelecido.
Durante aqueles dias, o STAVKA e o Estado-Maior-Geral estavam pensando como organizar as operações das outras frentes (Kalinin e a ala direita do sudoeste) de modo a dar todo o apoio possível à Frente Ocidental e obter maior efeito com as poucas forças que tínhamos a nossa disposição. O Subchefe do Estado-Maior-Geral, Tenente-General A. M. Vasilevsky, expusera uma idéia de acordo com essas diretrizes em conversações a 1º de dezembro em linha direta com o Comandante da Frente de Kalinin, Coronel-General Konev. Disse ele: "Só é possível interromper a ofensiva alemã contra Moscou e, assim, não só salvar a cidade como também iniciar uma séria derrota para o inimigo, pela realização de operações ativas com um objetivo decisivo. Se não fizermos isso nos próximos dias, depois será tarde demais. A Frente de Kalinin, que ocupa uma posição operacional extremamente favorável para nosso objetivo, não pode ficar de fora disto."
Numa conversação telefônica a 2 de dezembro, Stalin afirmou ter dado ordens à Frente de Kalinin e à ala direita da Frente Sudoeste para apoiar nossos ataques, que deveriam ser desfechados simultaneamente com as frentes vizinhas.
Mais tarde, na noite de 4 de dezembro, o Comandante Supremo telefonou-me na linha direta e perguntou: "O que podemos dar para ajudar a Frente, à parte o que já temos feito?" É compreensível que, levando em conta nossas possibilidades extremamente limitadas na época, não podíamos pedir muita coisa. Portanto, pensei sobretudo que precisávamos de apoio das forças aéreas da reserva do Comando Supremo e da defesa aérea da pátria. Naturalmente, 200 tanques com tripulações, ou mais, eram muito necessários se quiséssemos desenvolver nossa ofensiva com rapidez, porquanto a Frente não tinha muitos deles.
"Não há tanques e não podemos dar-lhe nenhum", respondeu Stalin. "Mandaremos aviões. Telefonarei ao Estado-Maior-Geral agora. Lembre-se que a Frente de Kalinin passará a ofensiva em 5 de dezembro e o grupo operacional da ala direita da Frente Sudoeste fará o mesmo a partir da área de Yelets no dia 6."
Estas eram todas as circunstâncias que determinaram o caráter das operações soviéticas em fins de novembro e no começo de 1941.
[editar] As digressões do alto comando alemão na Barbarossa
Como agiu o alto-comando alemão e suas divergências internas durante a invasão da Rússia, a operação Barbarossa, em 1941:
É natural que uma certa nebulosidade prejudique o entendimento das situações vividas em tempo de guerra. Em 1941, contudo, havia uma camada extra nessa neblina que afetou em muito o curso dos acontecimentos. Isto porque no mais elevado quartel-general do exército invasor, uma surpreendente nebulosidade não permitia que se vissem direito os objetivos a serem alcançados. Hitler e o comando do Exército tinham idéias diferentes, desde o início do planejamento, e nunca chegaram a harmonizá-las.
Hitler queria conquistar Leningrado como objetivo básico, limpando assim o flanco do Báltico e ligando-se com a Finlândia, e também tendia a reduzir a importância de Moscou. Por outro lado, com seu agudo senso dos fatores econômicos, ele queria também conquistar a região agrícola da Ucrânia e a área industrial do baixo Dnieper. Os dois objetivos eram extremamente afastados, o que resultava em duas faixas de atuação inteiramente separadas. Tudo muito diferente da flexibilidade que resultaria da atuação em uma faixa única e central que ameaçasse objetivos alternativos.
Brauchitsch e Halder queriam concentrar esforços no eixo de progressão sobre Moscou - não por causa da conquista da capital, mas porque sentiam que esse eixo oferecia uma boa chance para destruir o grosso das forças russas que eles "esperavam encontrar no caminho de Moscou". No ponto de vista de Hitler, essa linha de ação acarretava o risco de forçar os russos a um retraimento geral para o leste, saindo do alcance das divisões invasoras. Como Brauchitsch e Halder concordaram com ele quanto à importância de evitar esse risco, e como Hitler concordou com os dois quanto à importância de destruir o grosso das forças do inimigo o mais cedo possível com um "Kesselschlacht" (manobra de envolvimento), foi adiada uma decisão sobre os objetivos seguintes até que a primeira fase da invasão terminasse.
Brauchitsch, com sua tendência de evitar problemas em seu relacionamento com Hitler, sujeitava-se a ter que enfrentar problemas mais graves no final. Neste caso, ao adiar a questão dos objetivos da segunda fase, as dificuldades surgiram em meio à campanha. Além disso, fica evidente da leitura da diretriz original para a operação "Barbarossa" aprovadas e expedidas por Hitler a 18 de dezembro de 1940, que as idéias do Führer tinham sido claras, e que Brauchitsch submetera-se a elas.
Na diretriz os objetivos eram assim definidos:
"Na zona de operações, dividida pelos Pântanos de Pripet em dois setores, um ao sul e outro ao norte, o esforço principal será feito ao norte. Dois grupos de exército atuarão aí.
O grupo de exércitos mais ao sul desses dois - o do centro, considerando-se a frente como um todo - terá a missão de aniquilar as forças do inimigo na Rússia Branca, atacando a partir da região em torno e ao norte de Varsóvia com forças blindadas e motorizadas especialmente fortes.
Isto tornará possível deslocar fortes elementos móveis para o norte a fim de cooperar com o Grupo de Exércitos Norte na destruição das forças do inimigo que combaterem nos paises bálticos - o Grupo Norte atacando a partir da Prússia Oriental na direção geral de Leningrado. Só depois de ter cumprido essa importantíssima missão, que deve ser seguida pela ocupação de Leningrado e Kronstadt, é que terão prosseguimento as operações ofensivas objetivando a conquista de Moscou - como centro focal de ligações e da indústria de armamento.
Apenas um colapso surpreendentemente rápido da resistência russa poderia justificar a tentativa de atingir os dois objetivos simultaneamente.
O Grupo de Exércitos do Sul deverá realizar seu esforço principal na direção geral Lublin-Kiev, a fim de penetrar profundamente no flanco e retaguarda das forças russas e depois empurrá-las no rio Dnieper."
Mais uma vez, na conferência do dia 3 de fevereiro, quando Halder expôs o plano do Alto Comando do Exército em detalhe, Hitler encerrou os trabalhos enfatizando: "Durante a execução deste plano deve ser lembrado que o objetivo principal é o domínio dos Países Bálticos e de Leningrado".
O malogro da invasão
A questão explorada a seguir foi como o plano saiu errado. A resposta de Kleist foi: "A principal causa do nosso fracasso foi o inverno ter chegado mais cedo aquele ano, associado ao modo como os russos cediam terreno repetidamente em vez de se deixarem arrastar a uma batalha decisiva como a que procurávamos".
Rundstedt concordou com Kleist, acrescentando: "Mas muito antes do inverno as chances tinham diminuído por causa dos repetidos atrasos na progressão, devidos às péssimas estradas e à lama. A 'terra preta' da Ucrânia transforma-se em lama com dez minutos de chuva - interrompendo todo o movimento até secar. Isso foi uma séria desvantagem em uma corrida contra o relógio, tornada mais grave pela falta de ferrovias na Rússia - para trazer os suprimentos de nossas tropas. Outro fator adverso foi o modo como os russos recebiam continuamente reforços de suas áreas de retaguarda, à medida que recuavam. Tínhamos a impressão de que assim que uma tropa era destruída, o caminho era bloqueado pela chegada de outra".
Blumentritt endossou esses veredictos, exceto quanto ao ponto de os russos cederem terreno. No caminho de Moscou, que era o eixo principal de progressão, eles repetidamente resistiram tempo bastante para serem cercados. Mas os invasores, por sua vez, muitas vezes deixaram de cercá-los por terem, eles próprios, ficado imobilizados. "A má qualidade das estradas era o pior handicap, vindo logo depois a inadequação das ferrovias, mesmo quando reparadas. Nossas informações falharam em ambos os casos, e subestimaram as conseqüências. Além disso, a restauração do tráfego ferroviário foi atrasada pela mudança de bitola em território russo. O problema do suprimento na campanha russa era muito sério, complicado pelas condições locais”.
Não obstante isso, Blumentritt considerava que Moscou poderia ter sido conquistada se tivesse sido adotado o nada ortodoxo plano de Guderian, ou se Hitler não tivesse perdido um tempo importantíssimo com sua indecisão.
Outro fator, realçado por Kleist, foi que os alemães não tinham uma vantagem no ar tão definitiva como a desfrutada na invasão da frente ocidental, em 1940. Embora tivessem infligido pesadas baixas à Força Aérea Russa, a um ponto tal que desequilibraram a balança numérica a seu favor, a menor oposição no ar foi anulada pelo alongamento da coluna à qual tinha de ser prestado apoio aéreo. Quanto mais depressa progrediam no terreno, mais complicado o problema. Falando a esse respeito, disse Kleist: "Em diversas fases do avanço, minhas forças Panzer foram prejudicadas pela falta de cobertura aérea, em razão da grande distância dos campos de pouso dos caças, muito à retaguarda. Além disso, a superioridade aérea que desfrutamos nos meses iniciais, era mais local que geral. Devia-se à maior competência dos nossos pilotos, não a uma esmagadora superioridade numérica". Essa vantagem desapareceu quando os russos ganharam experiência e puderam substituir os aviões abatidos.
Além desses fatores básicos havia, na opinião de Rundstedt, um defeito no dispositivo inicial alemão que gerou más conseqüências já no decurso das operações, após o rompimento da posição defensiva russa. De acordo com o plano do comando supremo uma brecha larga foi deixada entre o flanco esquerdo de Rundstedt e o direito de Bock, em frente à extremidade ocidental dos Pântanos de Pripet. A idéia era que aquela região podia ser negligenciada, graças à natureza do terreno, com o máximo esforço concentrado ao norte e ao sul dos alagadiços. Rundstedt duvidou da sabedoria dessa solução quando o plano estava sendo debatido: "Graças à minha experiência na Frente Oriental em 1914-1918 antecipei que a cavalaria russa seria capaz de atuar nos Pântanos de Pripet, e por isso senti-me ansioso com aquela brecha em nossa frente de ataque, já que por ali os russos poderiam realizar ataques de flanco”.
Na primeira fase da invasão esse risco não se materializou. Depois que o 6º Exército de Reichenau forçou a travessia do Bug, ao sul dos Pântanos, os blindados de Kleist atravessaram e seguiram velozmente adiante, conquistando Luck e Rovno. Mas depois de cruzarem a antiga fronteira russa e já seguindo para Kiev, os invasores sofreram um violento contra-ataque de flanco realizado pelo corpo de cavalaria, que emergiu de repente dos Pântanos Pripet. Foi uma situação perigosa, e embora a ameaça viesse a ser eliminada após um difícil combate, retardou a progressão e liquidou a chance de os alemães chegarem mais cedo no Dnieper.
Embora não seja difícil ver como essa interrupção pesou na mente de Rundstedt, não é tão claro o entendimento de como possa ter influído nas perspectivas gerais da invasão. Afinal, não houve qualquer interferência similar opondo-se ao avanço de Bock, ao norte dos Pântanos Pripet e onde ficava o centro de gravidade de toda a ofensiva.
Um quadro claro da ofensiva foi dado pelo general Heinrici, que delineou os deslocamentos em um mapa. Sua capacidade militar é comprovada pelo fato de que, começando como comandante de corpo, terminou conduzindo a batalha final de Oder, em defesa de Berlim. O esquema que fez da operação foi completado mais tarde com outros detalhes e revelações de bastidores dados pelo general Blumentritt, chefe de estado-maior do exército de Kluge na progressão de Brest-Litovsk para Moscou. Mais tarde, outros generais que estavam naquele eixo de progressão suplementaram a narrativa e em alguns pontos a corrigiram.
O plano, resumidamente, era cercar o grosso das forças russas com uma vasta manobra de envolvimento - os corpos de Infantaria deslocando-se em um círculo interior, e dois grandes grupos Panzer no círculo exterior.
Os grupos Panzer eram comandados por Guderian e Hoth. O de Guderian compreendia três corpos Panzer, e um corpo de infantaria que foi colocado sob o seu comando a fim de cercar a fortaleza de Brest, na fronteira. Duas outras divisões de infantaria foram dadas a ele depois, a fim de colaborar na parte inicial da transposição do Bug. O grupo Panzer era, na verdade, um exército Panzer - nome como foi rebatizado em uma fase posterior da campanha - mas no início, e de forma intermitente, foi colocado sob o comando do exército de infantaria de apoio. O relacionamento mal definido provou ser causa de problemas.
O desencadeamento da invasão pegou as forças russas da fronteira completamente de surpresa, e o Bug foi transposto sem dificuldade. Inúmeros tanques de Guderian tinham sido adaptados para atravessar o leito do rio por baixo d'água, "respirando" através de um tubo comprido como os submarinos equipados com Schnorkel, mais para o fim da guerra. As fortificações defensivas russas na área mais distante estavam em grande parte desguarnecidas, e logo as divisões Panzer lançavam-se à frente, atravessando campo aberto. À noite, algumas tinham avançado tanto quanto 80 km. À medida que iam avançando iam encontrando mais resistências, embora quase sempre pudessem desbordá-las.
No dia 24, o 47º Corpo Panzer (Lemelsen) travou alguns combates violentos em Slonim com poderosas forças russas que tentavam romper o cerco que as ameaçava, fugindo da área de Bialystck. As pinças Panzer encontraram-se em Minsk. A ala direita de Hoth, que partira da Prússia Oriental, atingiu as cercanias, mais ao norte, no dia 26. Lemelsen, que teve que andar mais, uniu-se a ele no dia 27, tendo coberto mais de 300 km em cinco dias e meio. A cidade caiu no dia seguinte. Enquanto isso, o 24º Corpo Panzer (Geyr von Schweppenburg) prosseguira a corrida e chegara no Beresina naquele dia mesmo, conquistando uma cabeça-de-ponte naquele rio histórico. Seguiu então para o Dnieper, mas descobriu que os russos tinham cerrado reservas para defendê-lo.
Bem mais à retaguarda, as pinças da infantaria tinham se fechado em Slonim, mas não completamente, a tempo de pegar o grosso dos russos em seu retraimento do bolsão de Bichystok. Uma segunda tentativa, destinada a cercá-los perto de Minsk, teve mais sucesso e foram aprisionados mais de 300.000 homens - não obstante já terem se salvado grandes efetivos antes do cerco ser completado.
O tamanho da área cercada gerou uma onda de otimismo, mesmo entre os generais que tinham ficado apreensivos com a decisão de Hitler. Halder comentou sobre o dia 3 de julho: "Talvez não seja um exagero afirmar que a campanha contra a Rússia foi ganha em quatorze dias".
Mas a operação fizera surgir sérias divergências a respeito de métodos entre os generais comandantes. Guderian e Hoth tinham partido de Minsk, de acordo com as instruções originais, deixando para trás destacamentos mínimos destinados a apoiar a infantaria no fechamento do cerco. Kluge desejara interromper a progressão e empregar todas as forças Panzer naquela tarefa. Mas elas já tinham saído, e suas indesejadas contra-ordens, muito convenientemente, não puderam ser transmitidas. Kluge apelou então para Bock, que cedeu à sua vontade de trazê-las de volta. Brauchitsch teria preferido que os grupos Panzer continuassem progredindo, mas foi dissuadido da idéia de passar por cima de Bock e Kluge quando Hitler colocou todo o peso da sua autoridade do lado deles. Assim, a 3 de julho, os dois grupos Panzer foram colocados sob o controle de Kluge. Mas o grande efetivo de russos cercado a oeste de Minsk rendeu-se no mesmo dia, e os grupos Panzer foram liberados de novo. Guderian decidiu então tentar a travessia do rio Dnieper sem mais delongas, não esperando uma ou duas semanas até aparecer o 4º Exército, a pé - ou que os russos tivessem tido tempo de receber reforços. Para a travessia, ele concentrou suas forças, protegido pela escuridão da noite e em três pontos desguarnecidos. Ao saber de suas intenções, Kluge foi vê-lo e mais uma vez tentou freá-lo - mas ao verificar que estava tudo pronto para a tentativa, concordou.
A operação teve pleno êxito, e após cruzar o Dnieper a 10 de julho, Guderian seguiu para Smolensk, sem se deixar deter por fortes contra-ataques russos dirigidos aos flancos de sua coluna. A vanguarda da esquerda atingiu Smolensk a 16 de julho, enquanto a do centro chegou em Desna e conquistou Elnya no dia 20. O progresso da vanguarda da direita foi retardado pelos contra-ataques de fortes elementos russos atuando ao norte do Dnieper e a partir de Gomel. A invasão agora penetrara mais de 600 km em território russo. Moscou estava a 320 km de distância. Para uma penetração tão profunda, o ritmo tinha sido muito rápido, embora a segunda fase, de Minsk a Smolensk, tivesse tomado quase três semanas em vez dos cinco dias da primeira fase.
Com a chegada de Hoth ao norte de Smolensk, foi iniciada nova manobra de envolvimento destinada a isolar os grandes efetivos russos que tinham sido desbordados pelos blindados alemães entre o Dnieper e o Desna. O cerco quase foi completado, mas o solo lamacento e difícil prejudicou o movimento, e os russos conseguiram salvar uma grande parte de suas forças. Mesmo assim, um total de 180.000 homens foi capturado na área de Smolensk. Blumentritt dá-nos uma vívida descrição das condições nas quais a progressão tinha se realizado a partir de Minsk, e de como essas condições se agravaram ainda mais depois do Dnieper e de Dvina. "O terreno era incrivelmente difícil para o movimento dos carros de combate - grandes florestas virgens, pântanos espalhados por áreas imensas, estradas terríveis e pontes que não tinham capacidade para agüentar o peso dos tanques. A defesa também foi dificultando as coisas cada vez mais, e os russos começaram a proteger-se com campos de minas. Era fácil bloquear o caminho porque havia muito poucas estradas. A grande rodovia que vai da fronteira até Moscou estava inacabada - a única estrada que um ocidental chamaria de 'estrada'. Não estávamos preparados para o que encontramos, porque as nossas cartas de modo algum correspondiam à realidade. Nelas as estradas apareciam em vermelho e davam a impressão de serem muitas, mas com freqüência não passavam de meros caminhos de terra. O serviço de informação alemão foi razoavelmente preciso a respeito das condições no território da Polônia ocupada pelos russos, mas pecou muito quanto às condições além da fronteira original. Se essas condições eram ruins para os carros de combate, mostravam-se bem piores para as viaturas que os acompanhavam transportando combustível, suprimentos e toda a tropa de apoio necessária. Quase todas essas viaturas eram sobre rodas, que não podiam deslocar-se fora das estradas e nem nas estradas, se a terra se transformasse em lama. Uma ou duas horas de chuva imobilizavam as forças Panzer. Era uma visão extraordinária, uma coluna de mais de 150 km de extensão parada - até que o sol saísse e a lama secasse. Hoth, que progredia a partir do setor de Orsha-Nevel, foi retardado tanto pelos lamaçais quanto pelas pancadas de chuva. Guderian avançou rapidamente até Smolensk, mas depois enfrentou problema semelhante “.
Guderian confirmou o que Blumentritt dissera a respeito da inexatidão das cartas alemãs, e mencionou também as dificuldades causadas pelas regiões lamacentas, mas enfatizou que o tempo foi bom nas primeiras semanas da ofensiva. "O que nos atrasou mais naquela oportunidade foram as dúvidas do marechal von Kluge, que se mostrava inclinado a deter o avanço dos blindados a cada dificuldade surgida na retaguarda”.
O papel de Kluge detendo o movimento não foi lembrado por Blumentritt - provavelmente pela lealdade que dedicava ao antigo chefe. Mas Blumentritt foi o primeiro a revelar que, desde o início, houve um conflito de idéias a respeito do método a ser empregado na operação. Relatando como as coisas se passaram, disse que Hitler e a maioria dos generais mais graduados estavam de acordo quanto a planejar batalhas de envolvimento, segundo os princípios da estratégia ortodoxa. "Mas Guderian tinha uma idéia diferente - penetrar fundo, o mais rápido possível, e deixar o cerco do inimigo para ser realizado pela infantaria de acompanhamento. Guderian insistia na importância de conservar os russos engajados, sem dar-lhes tempo para realizar incursões. Queria ir direto até Moscou, e estava convencido de que podia chegar lá se não houvesse perda de tempo. A resistência russa podia ter sido imobilizada com um golpe bem no centro do poder de Stalin.
"O plano de Guderian era muito ousado - e significava grandes riscos relativos aos itens: reforços e suprimentos. Mas poderia ter sido o menor dos riscos. Parar os blindados cada vez que desbordavam forças inimigas para executar um movimento envolvente em torno delas, representava muito tempo perdido. "Depois que atingimos Smolensk houve uma parada de diversas semanas no Desna. A causa foi, em parte, a necessidade de receber suprimentos e reforços, mas foi principalmente um novo conflito de opiniões dentro do comando alemão - a respeito do futuro da campanha.
Houve discussões intermináveis: Bock queria seguir para Moscou. Endossando os pontos de vista de Guderian e Hoth, confiava que outra penetração profunda executada pelas vanguardas blindadas conseguiria chegar em Moscou. Mas Hitler julgou que chegara a hora de levar a efeito sua concepção original, classificando Leningrado e a Ucrânia como objetivos principais. Embora lhes atribuindo importância maior que a de Moscou, não pensava apenas nos efeitos econômicos e políticos como a maioria dos generais que o criticavam tendia a pensar.
Ele parece ter visualizado uma operação de dimensões supergigantescas, do tipo da batalha de Canas, em que a ameaça já criada a Moscou atrairia as reservas russas para aquele setor da frente, tornando assim mais fácil a conquista dos objetivos de flanco, Leningrado e Ucrânia. E dessas posições de flanco suas forças convergiriam sobre Moscou, que cairia como uma ameixa madura em suas mãos. Era uma concepção sutil e grandiosa. Frustrou-se por causa do fator tempo - porque a resistência russa foi mais obstinada e o tempo pior do que se esperara, enquanto que Hitler não estava preparado para adiar um ano a sua realização. E é evidente, também, que as perspectivas não melhoraram com as diferenças de opinião tão comum entre os generais.
A 19 de julho Hitler expediu uma diretriz para a fase seguinte - a ter início assim que terminassem as operações de limpeza do terreno entre o Dnieper e o Desna. Parte das forças motorizadas de Bock seria desviada para o sul a fim de auxiliar Rundstedt a destruir os exércitos russos que se defrontavam com ele, enquanto a outra parte seguiria para o norte, com a finalidade de reforçar o ataque de Leeb a Leningrado, cortando as ligações entre aquela cidade e Moscou. Bock seria deixado apenas com a infantaria a pé para continuar a progressão frontal sobre Moscou da melhor forma que pudesse.
Uma vez mais Brauchitsch contemporizou, em vez de pressionar imediatamente por um outro plano. Alegou que antes que qualquer outra operação começasse, as forças Panzer teriam que parar para manutenção dos motores e receber recompletamentos. Hitler concordou quanto à necessidade de uma parada dessas. Mas a resistência russa e os contra-ataques retardaram a limpeza da área a oeste do Desna, e não foi senão no início de agosto que as forças Panzer puderam ter um descanso. Em uma reunião no dia 4, Bock defendeu a idéia de progredir logo sobre Moscou, e Guderian afirmou que estaria pronto a iniciar o deslocamento no dia 15. Hitler enfatizou, contudo, que Leningrado ainda era seu objetivo principal e que depois de conquistá-la decidiria entre Moscou e a Ucrânia - ele estava inclinado a decidir-se pela última, pois abriria caminho para a conquista da Criméia e das bases aéreas lá existentes, que ele considerava uma potencial fonte de perigo para os campos petrolíferos romenos.
[editar] Bibliografia
As obras abaixo citadas são edições antigas, disponíveis somente em sebos:
- KEEGAN, John. Barbarossa: a invasão da Rússia. Rio de Janeiro: Renes, 1973. 160 p.–(História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial; campanhas; 3);
- JUKES, Geoffrey. A Defesa de Moscou. Rio de Janeiro: Renes, 1975. 160 p.– (História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial; batalhas; 8);
- JUKES, Geoffrey. Stalingrado: o princípio do fim. Rio de Janeiro: Renes, 1974. 160 p.– (História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial; batalhas; 4);
- CHANEY JR., Otto Preston. Zhukov: Marechal da União Soviética. Rio de Janeiro: Renes, 1975. 160 p.– (História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial; líderes; 16);
- TREMAIN, Rose. Stalin. Rio de Janeiro: Renes, 1974. 160 p.– (História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial; líderes; 11);
- LEACH, Barry. Estado-Maior Alemão. Rio de Janeiro: Renes, 1974. 160 p.– (História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial; política em ação; 5).
[editar] Ver também
[editar] Batalhas e operações
- Operação Silberfuchs
- Batalha de Estalinegrado
- Batalha de Kursk