Sinestesia
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Sinestesia (do grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos sensoriais diferentes: Por exemplo, o gosto com o cheiro, ou a visão com o olfacto. O termo é usado para descrever uma figura de linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.
[editar] Figura de linguagem
Sinestesia é uma figura de estilo ou semântica que relaciona planos sensoriais diferentes. Tal como a metáfora ou a comparação por símile, são relacionadas entidades de universos distintos.
Exemplos de sinestesias:
- Indefiníveis músicas (audição), supremas harmonias de cor (visão) e de perfume (olfato).
- Horas do ocaso, trêmulas, extremas, requiem do Sol que a dor da luz resume.
- "Os carinhos (tato) de Godofredo não tinham mais o gosto (paladar) dos primeiros tempos." (Autran Dourado)
- "O brilho macio do cetim." (visão + tato)
- "O doce afago materno." (paladar + tato)
- "Verde azedo." (visão + paladar)
- "Aroma gritante." (olfato + audição)
- "O delicioso aroma do amor (Paladar + Olfato)
Sinestesia - Marcos Conceituais - Alexandre Santos de Oliveira Neste primeiro momento destacamos a existência de uma certa confusão com relação aos termos cinestesia e sinestesia, o primeiro termo refere-se ao sentido muscular, a um conjunto de sensações que nos permite a percepção dos movimentos (Michaelis, 1998); o segundo termo, objeto de nosso estudo neste trabalho, refere-se a uma sensação secundária que acompanha uma percepção, ou seja, uma sensação em um lugar originária de um estímulo proveniente de um estímulo de outro (Michaelis, 1998 e Dorsch, 1976). Portanto, é importante termos em mente que o termo sinestesia empregado neste trabalho não se restringe à percepção do movimento e suas propriedades (peso e posição dos membros), mas engloba um conjunto geral de percepções e sensações interconectadas por processos sensoriais. Charles Baudelaire (1993) e os partidários de uma ruptura com a estética clássica no período simbolista, no âmbito da história da arte, se constituíram nos precursores de uma nova concepção estética que, mais tarde, romperia as fronteiras do academicismo vigente, incentivando o surgimento de manifestações cada vez mais independentes neste campo. Neste contexto de mudanças observamos que os poetas simbolistas e pré-simbolistas propõem um retorno ao subjetivismo e à sensorialidade em oposição à objetividade científica e ao materialismo e é neste contexto que a sinestesia se configura no conjunto das propostas simbolistas. Baudelaire, segundo Tornitore (1999) defendia, através da Teoria das Correspondências, a existência de uma relação entre os domínios sensórios; para o poeta, certos cheiros estão associados a um certo tipo de verde, anunciando uma expansão no âmbito da sensibilidade onde é possível sentir um cheiro e ao mesmo tempo provar a doçura da música, ou ainda ver uma cor em particular. Em suma, defendia a proposta de que sons, cores e cheiros estão misteriosamente co-relacionados e que esta ligação é intrínseca à natureza das coisas portanto, potencialmente perceptível a todo ser humano e não necessariamente ligada à sensibilidade do “eleito” ou do “amaldiçoado”. Trata-se de um termo que está presente em diversas áreas de conhecimento, na literatura, por exemplo, Faraco & Moura, (1998) definem a sinestesia como fazendo parte de uma rede semântica de figuras de linguagem muito característica do simbolismo que, enquanto propriedade de um discurso, gera uma associação entre uma sensação e outra sensação, ou uma impressão, ou uma situação; Machado (1967), por sua vez, define etimologicamente o termo como o ato de perceber uma coisa no mesmo tempo que outra, percepção esta evocada por sensações simultâneas. Em Silva (1945) observamos um certo alargamento do conceito visto que aponta para a produção de duas ou mais sensações sob a ação de uma só impressão, segundo o autor, uma das sensações aparece no ponto ou órgão onde atuou a impressão, a(s) outra(s) sensações se manifestam em órgãos afastados. Dorsch (1976) é da mesma opinião quando fala da possibilidade de aparecimento de sensações associadas por um estímulo real . Tornitore (1999) em sua Teoria da História da Sinestesia declara ainda que Pitágoras, Aristóteles e Newton já identificavam a presença de tal fenômeno no âmbito dos sentidos, contudo é importante observar que, tanto Tornitore, como o pesquisador americano Richard Cytowic (1995) são unânimes em afirmar que o campo de estudos referente à sinestesia só é alargado a partir do desenvolvimento da neurociência e em particular da neuropsicologia, bem como da tomografia computadorizada do cérebro, colocando por terra as idéias vigentes no século XIX que consideravam a sinestesia um monstro, uma anomalia ou ainda um sinal de degeneração da raça humana. A partir dos trabalhos de Cytowic (1995) e Tornitore (1999) é possível observar basicamente, a existência de duas correntes no campo da sinestesia, uma que defende o seu caráter hereditário e seletivo nos seres humanos e outra que aponta para a idéia de que (...) nós somos todos sinestésicos e que só um punhado das pessoas está conscientemente atento para a natureza holística da percepção (Cytowic, 1995, 5:6) contudo, é importante observar que trata-se de um fenômeno multidimensional e que, segundo o autor, se apresenta em cada ser humano de forma peculiar e diferenciada. Tendo em vistas as múltiplas interconexões presentes em nosso cérebro descritas por Pierantoni (apud Tornitore, 1999) como um sistema de “anéis dentro de anéis” de tal forma que, assim que um dado sensório entra na rede, compara-se como uma pedra lançada em uma lagoa: as ondulações se espalham formando círculos concêntricos em todos os distritos sensórios ativando outras sensações, declara ainda, juntamente com o psicólogo L.E. Marca (apud Tornitore, 1999) que todos nós temos um painel de comando que interconecta os vários sensos, normalmente adormecidos e que também podem ser reativados artificialmente com certos alucinógenos. Quanto ao caráter seletivo da sinestesia, mencionado acima entendemos, a partir do artigo de Camargo (2002) que pesquisadores tais como o professor Sean Day da Universidade Central de Taiwan (sinesteta desde a infância), tem se preocupado em catalogar modalidades diferentes de sinestesia presentes nas pessoas que já tem consciência de possuírem tal habilidade e as possíveis causas e conseqüências das misturas de sensações. Outro pesquisador que tem estudado o fenômeno é Baron-Cohen da Universidade de Cambridge na Inglaterra ele estuda a presença da sinestesia na fase neonatal, defendendo a idéia de que o cérebro dos portadores de sinestesia é biologicamente distinto dos demais e que tal habilidade se apresenta nos seres humanos já nos primeiros dias de vida. English (1977), por sua vez em seu Dicionário de Psicologia também sinaliza para o fato de que a sinestesia é uma condição encontrada em alguns indivíduos, onde a percepção de certo tipo de objeto é associada com imagens particulares de outra modalidade sensorial . Entretanto, é possível observar que se trata de um campo de estudos relativamente jovem no qual o avançar das pesquisas poderá nos dar vislumbres mais claros destas dimensões, proporcionando uma melhor compreensão acerca da unicidade do ser humano. Outrossim, ressaltamos a importância de compreensão, mesmo que parcial, do fenômeno como recurso metodológico no interior da prática educativa, tendo em vista que, juntamente com Tornitore (1999), nos contrapomos à idéia de que a capacidade sinestésica esta restrita a um grupo específico de pessoas, pois, conforme vimos anteriormente, nem todos atentaram ainda para a existência de tal capacidade, o que desmistifica a premissa de que a sinestesia seja inerente à categoria dos chamados “artistas”. Acerca desta questão Cytowic (1995) declara que tal associação mais se assemelha a um preconceito infundado do que a uma premissa com embasamento sólido . Tornitore (1999) declara ainda que, em função da importância que os sentidos tem na vida humana, é fácil imaginar que não apenas a arte, mas todas as ciências (humanas, exatas, biológicas) são concebidas por meio de processos sinestésicos, retomando aqui as concepções de Morin no que se refere às relações entre o todo e as partes constituintes, ao tratar das questões ligadas à complexidade biológica declara: (...) a complexidade começa logo que há sistema, isto é, inter-relações de elementos diversos numa unidade que se torna complexa (una e múltipla). A complexidade sistêmica manifesta-se, sobretudo, no fato de que o todo possui qualidades e propriedades que não se encontram no nível das partes, consideradas isoladas e inversamente, no fato de que as partes possuem qualidades e propriedades que desaparecem sob o efeito das coações organizacionais do sistema. (Morin, 2000 p. 291). O que nos leva a entender que o ser humano envolto na complexidade não pode ser considerado em partes estanques e dissociadas e que a capacidade sinestésica encontra-se envolta no processo de inter-relações mencionado pelo autor.
Referências
BAUDELAIRE, Charles. Obras Estéticas: filosofia da imaginação criadora. Tradução de Edison Darci Heldt. Petrópolis, RJ. Vozes, 1993. CAMARGO. Lúcia Helena. Sinestesia. Disponível em www.estado.com.br/ext/magazine/mega15/sinestsia/sinestesia.htm. Acessado em 06.01.02. CYTOWIC. Richard E. Synesthesia: Phenomenology And Neuropsycology, A Review of Current Knowledge. Washington DC, 1995. Disponível em http://psyche.cs.monash.edu.au/v2/psyche-2-10-cytowic.html. Acessado em 13.02.02. CYTOWIC. Richard E. Synesthesia: Phenomenology And Neuropsycology, A Review of Current Knowledge. Washington DC, 1995. Disponível em http://psyche.cs.monash.edu.au/v2/psyche-2-10-cytowic.html. Acessado em 13.02.02. DORSCH, Friederich. Dicionário de Psicologia. Barcelona. Editorial Herder, 1976. DORSCH, Friederich. Dicionário de Psicologia. Barcelona. Editorial Herder, 1976. ENGLISH. H. B. y ENGLISCH, H. A. Ch. Diccionário de Psicologia y Psicoanalisis.. Vol. 3 Buenos Aires. Editorial Paidos, 1977. FARACO, Carlos Emilio; MOURA, Francisco Marto. Literatura Brasileira. 6a ed. São Paulo. Editora Ática, 1998. MACHADO. José Pedro. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa, Editorial Confluência, 1967. MICHAELIS. Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo. Companhia Melhoramentos, 1998. MORIN, Edgar. O Método 3. Porto Alegre: Sulina, 1999. ____________. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva (et al). 2a ed. Brasília, DF. Cortez, UNESCO, 2000. QUEIRÓS. Bartolomeu Campos de. Os Cinco Sentidos. Belo Horizonte. Editora Miguilim, 1999. SILVA, Antonio de Morais. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 10 ed. Vol. X. Lisboa. Editorial Confluência, 1945. TORNITORE. Tonino. On the Theory and History of Synaesthesiae. Milan, 1999. Disponível em http://www.programmaitalia.com/sinestesiaeartesinestetica/articolo3.html. Acessado em 16.02.02.