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Liturgia das Horas - Wikipédia, a enciclopédia livre

Liturgia das Horas

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A Liturgia das Horas, também chamada Ofício Divino, é a oração pública e comunitária oficial da Igreja Católica.

A palavra ofício vem do latim "opus" que significa "obra". É o momento de parar em meio a toda a agitação da vida e recordar que a Obra é de Deus.[1]

Consiste basicamente na oração quotidiana em diversos momentos do dia, através de Salmos e cânticos, da leitura de passagens bíblicas e da elevação de preces a Deus. Com essa oração, a Igreja procura cumprir o mandato que recebeu de Cristo, de orar incessantemente, louvando a Deus e pedindo-Lhe por si e por todos os homens.

Índice

[editar] Nomes desta oração

  • Liturgia das Horas: nome escolhido durante a reforma litúrgica pós-Concílio Vaticano II, e actualmente em uso. Exprime ao mesmo tempo a característica de ser uma acção litúrgica da Igreja, e que portanto torna presentes os mistérios da salvação, e o seu objectivo peculiar de santificar as diversas horas do dia.
  • Ofício divino: nome utilizado durante séculos, até ao Concílio Vaticano II, que exprimia o carácter de obrigatoriedade (ofício) desta oração para os clérigos. Ao mesmo tempo, remetia para o dever de rezar, dado por Deus aos seus fiéis.
  • Breviário: nome dado ao livro onde se encontram os textos desta oração e que acabou por designar a própria oração. O nome “Breviário” provém do século XI, quando apareceu um livro que continha todos os textos necessários para o Ofício divino, que condensava num só volume o que até então se encontrava repartido por vários livros. Por ser mais “breve” e prático, passou ser conhecido por esse nome, que se manteve até à última reforma litúrgica para designar cada um dos volumes (Breviarium Romanum)

[editar] Celebração comunitária

“A Liturgia das Horas, tal como as demais acções litúrgicas, não é acção privada, mas pertence a todo o corpo da Igreja, manifesta-o e afecta-o.” (Instrução Geral da Liturgia das Horas, 20). Por esse motivo, a Igreja recomenda que seja celebrada comunitariamente, pois assim se exprime melhor a sua essência intrínseca. Sempre que seja possível, a celebração em grupo, comunitariamente, é preferível à celebração individual. No entanto, a celebração individual continua a estar inserida na oração de toda a Igreja, pelo que toda a celebração da Liturgia das Horas é sempre a seu modo comunitária.

[editar] Quem celebra a Liturgia das Horas?

A Liturgia das Horas é uma oração destinada a todos os cristãos, pelo que a Igreja convida todos a tomarem parte dela, dentro das suas possibilidades, em conjunto ou ao menos privadamente.

Mas os ministros ordenados, bispos, presbíteros e diáconos, têm a especial obrigação de a celebrar, para que essa função que é de toda a Igreja seja realizada pelo menos por eles, e assim a oração da Igreja seja realizada de forma ininterrupta.

[editar] Origem da Liturgia das Horas

[editar] A oração judaica

O costume de os cristãos rezarem regularmente a diversos momentos do dia tem origem no costume judaico. Os judeus, no tempo de Jesus Cristo, tinham uma oração pública e privada perfeitamente regulamentada quanto às horas, composta de salmos e de leituras do Antigo Testamento.

Jesus Cristo, enquanto judeu, terá certamente praticado este tipo de oração, e o mesmo terão feito os Apóstolos.

Os cristãos continuaram com esse costume, praticamente nos mesmos moldes, dando-lhe, claro, um sentido cristão, pelo que às leituras do Antigo Testamento cedo se juntaram leituras dos Evangelhos e das Epístolas.

[editar] Oração de Cristo e oração da Igreja

Jesus Cristo, ao longo dos Evangelhos, aparece frequentemente em oração, que aparece como parte essencial do seu ministério terreno. Do mesmo modo, recomenda aos seus discípulos que façam o mesmo e que “orem sem cessar”. Por esse motivo, os primeiros cristãos levaram a sério esta recomendação, pelo que tinham a oração regular como elemento essencial da sua vida cristã. Assim, encontramos nos Actos dos Apóstolos frequentes referências à oração dos primeiros cristãos e a horas determinadas em que essa oração era praticada, sempre com a intenção de cumprir o mandamento de Cristo.

[editar] Desenvolvimento da oração comunitária

Com o progressivo distanciamento dos judeus, sobretudo desde a destruição de Jerusalém e a diáspora, os cristãos foram desenvolvendo um esquema próprio de oração. Ao longo dos séculos, toma forma a oração regular nas cidades, sob a presidência do bispo, centrada em dois pólos: a manhã e a tarde. Todos os cristãos eram convidados a tomar parte nesta oração pública e comunitária, ainda que sem obrigação.

A recitação privada das diversas horas primeiramente não existia, mas foi sendo recomendada àqueles que não podiam participar na celebração comunitária.

[editar] A oração das horas e a vida monástica

No quinto século da era cristã. Benedito estruturou o Ofício Divino em oito períodos, incluindo um no meio da noite especificamente para os monges. A Regra de S. Bento se tornou um dos documentos mais importantes na formação da cultura ocidental. [2]

Com o aparecimento do monaquismo, a oração regular passa a fazer parte integrante da vida consagrada. O facto de ser realizada por pessoas que dedicavam grande parte do seu dia à oração levou a que essa oração se desenvolvesse e aumentasse, incluindo várias horas durante o dia, além das tradicionais de manhã e à tarde.

Mais elaborada e comprida, a oração monástica acabou por influenciar a oração das catedrais, que integrou horas tipicamente monásticas.

[editar] A privatização da oração da Igreja

No início, a oração da Igreja era presidida pelo bispo, rodeado pelos seus presbíteros e diáconos e pelo povo cristão. Ora, com o desaparecimento dos diáconos e o envio dos presbíteros para zonas mais distantes da diocese, onde se estabeleceram como enviados do bispo, tal celebração comunitária acabou por cair em desuso. Os presbíteros passaram então a rezar privadamente as diversas horas.

Além disso, a oração da Igreja foi-se tornando progressivamente desconhecida para o povo cristão, pelo facto de ser mantida em latim, língua que o povo do império romano foi progressivamente abandonando e deixando de entender.

Isto motivou que a oração das horas se tornasse na prática algo reservado aos clérigos, mentalidade que se enraizou na consciência dos cristãos e que se mantém até hoje, apesar de não ser o seu sentido original.

[editar] As diversas horas litúrgicas

Quadro resumo

Matinas - madrugada

Laudes - ao amanhecer

Prima - 7 h

Tércia - 9 h

Sexta - meio-dia

Noa - 15 h

Vésperas - ao pôr-do-sol

Completas - antes de dormir

As diversas horas de oração existentes atualmente foram-se formando e sofrendo alterações ao longo dos tempos. Além disso, não têm todas a mesma importância. Os dois principais momentos da Liturgia das Horas são as Laudes e as Vésperas. “As Laudes, oração da manhã, e as Vésperas, oração da noite, tidas como os dois pólos do Ofício quotidiano pela tradição venerável da Igreja universal, devem considerar-se as principais Horas e como tais celebrar-se” (Sacrosanctum Concilium 89). Segue-se em importância o Ofício das Leituras e, por fim, a Hora intermédia e as Completas.

Ao iniciar a primeira hora litúrgica do dia, seja ela Laudes ou Ofício de Leitura, é costume rezar o Invitatório, que serve de introdução à oração de todo esse dia.

[editar] Laudes

Trata-se da oração realizada de manhã, tendo como objetivo consagrar o dia a Deus. Recorda ainda a Ressurreição de Cristo, que está associada à manhã.

[editar] Vésperas

Celebram-se ao fim da tarde, aproximadamente à hora do pôr-do-sol. Tem por objetivo agradecer o dia que termina. Recorda ainda a morte de Cristo e a sua Última Ceia.

[editar] Ofício de Leitura

Outrora feito durante a madrugada, trata-se duma oração que pode ser feita a qualquer hora do dia, consistindo essencialmente numa leitura longa da Bíblia e dum texto patrístico, hagiográfico ou do Magistério eclesial.

[editar] Hora intermédia

É um nome recente dado ao conjunto de três horas chamadas “menores”, pelo fato de terem menos importância no contexto das horas litúrgicas. São elas:

  • Tércia (pelas 9h)
  • Sexta (pelo meio-dia)
  • Noa (pelas 15h)

Note-se que se trata apenas de horas aproximadas, que não têm de ser observadas com máximo escrúpulo.

Da celebração com o povo da Liturgia das Horas faz parte normalmente apenas uma destas três horas, escolhida segundo a conveniência.

[editar] Completas

São a última oração do dia, mais breve, rezada antes de deitar.

[editar] Outras horas:

Antigamente existiam ainda outras horas litúrgicas:

  • Matinas: Oração longa constituída por salmos e leituras bíblicas e patrísticas, para ser rezada durante a madrugada, foi adaptada após o Concílio Vaticano II, para ser celebrada a qualquer hora do dia, e recebeu nome de Ofício de Leitura.
  • Prima: uma das horas menores, como as da atual Hora intermédia, a ser celebrada pelas 7h00. Foi abolida pelo Concílio Vaticano II, por se sobrepor à hora de Laudes.

Note-se que estas horas foram suprimidas na atual Liturgia das Horas, mas continuam a manter-se no Ofício divino anterior à reforma litúrgica, de uso opcional.

[editar] Os elementos centrais do Oficio Divino

[3]

. Pausa - Esta é a essência do Ofício Divino. Parar o que estou fazendo para voltar minha atenção a Deus que está no trono e que é o Senhor da minha vida. Ao fazer isso, eu estou reconhecendo que Ele reina e que está no controle de tudo, inclusive de minha vida.


. Centralização - É levar cativo todo pensamento em obediência a Cristo. É disciplinar minha mente para se aquietar, sossegar, descansar em Deus.


. Silêncio - Silêncio e solitude são disciplinas negligenciadas por muitos cristãos hoje em dia. Solitude é separar um tempo para estar a sós. Silêncio é a disciplina de fazer calar todas as vozes para ouvir a voz de Deus. Estas são provavelmente as mais difíceis e menos praticadas disciplinas espirituais. Henri Nouwen disse que sem solitude é quase impossível ter uma vida espiritual.


. Leitura Bíblica - Os Salmos eram o livro de oração dos judeus e cristãos primitivos. Jesus citou mais Salmos do que qualquer outra parte das escrituras, com exceção talvez ao livro de Isaías.


[editar] Elementos da Liturgia das Horas

Salmos e cânticos

O elemento mais importante da Liturgia das Horas são os Salmos, retirados da Bíblia, a que se juntam outras composições do mesmo género, também bíblicas, mas que não pertencem ao livro dos Salmos, chamadas cânticos.

De entre os cânticos bíblicos destacam-se os chamados cânticos evangélicos, por serem retirados do Evangelho: o Benedictus, o Magnificat e o Nunc dimittis.


Antífonas

As antífonas são pequenas frases que servem para ser ditas antes e depois de cada salmo ou cântico. Normalmente destacam uma frase ou expressão do respectivo salmo ou cântico ou inserem-no no sentido da festa desse dia.


Hinos

Os hinos são composições poéticas não bíblicas de tema cristão utilizadas para enriquecer a Liturgia das Horas. Cada país tem normalmente os seus próprios hinos, que vão desde a antiguidade a composições contemporâneas.


Leituras bíblicas

Cada hora litúrgica inclui uma leitura bíblica, que normalmente é longa no Ofício de Leitura e breve nas restantes horas.


Versículos e responsórios

Servem para responder às leituras.


Preces

Súplicas e graças a Deus por diversas necessidades, semelhantes à Oração dos Fiéis da Missa, utilizadas em Laudes e Vésperas.


Orações

Fórmula semelhante às orações presidenciais utilizadas na Missa, e que servem para concluir cada hora.


[editar] O livro litúrgico da Liturgia das Horas

[editar] História

Quando o Ofício divino se organizou, foram necessários livros que contivessem os diversos textos utilizados para a sua celebração. Assim, surgiram vários livros, cada um contendo um determinado tipo de texto: o Saltério (para os salmos), o Antifonário (para as antífonas), o Hinário (para os hinos), o Leccionário (para as leituras), etc. Esse conjunto de livros era utilizado na celebração comunitária, que inicialmente era a mais comum.

Contudo, com a difusão da recitação privada, tornou-se clara a desvantagem de ter uma multiplicidade de livros. Foi-se então reunindo os materiais em volumes isolados, até que, pelo século XI, surgiu um só livro em que todos os textos necessários se encontravam compilados, aparecendo assim um volume que abreviava todos os outros: o Breviário.

Tal livro destinava-se à recitação privada e a situações de viagem, ou semelhantes. O novo livro litúrgico impôs-se universalmente e, com o aparecimento da imprensa, conheceu grande difusão.

A reforma litúrgica tridentina consagrou o breviário como livro litúrgico para o Ofício divino, e assim permaneceu até aos nossos dias. Chamava-se então Breviário Romano (Breviarium Romanum) e apresentava-se geralmente em quatro volumes.

A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II manteve a forma externa do livro litúrgico, modificando apenas o conteúdo.

[editar] Actualidade

Os vários textos utilizados na celebração da Liturgia das Horas são reunidos numa publicação intitulada "Liturgia das Horas", que se apresenta geralmente em quatro volumes, cada um destinado a uma determinada época do ano litúrgico:

  1. Advento e Natal.
  2. Quaresma, Tríduo pascal e Tempo pascal.
  3. Semanas 1 a 17 do Tempo comum.
  4. Semanas 18 a 34 do Tempo comum.

Em cada um destes volumes constam também as celebrações dos santos e outras que constam do calendário e que podem surgir em cada uma das épocas a que diz respeito determinado volume.


Liturgia das Horas
Invitatório Ofício de Leitura Laudes Hora intermédia Vésperas Completas


[editar] Ligações externas


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