Grupo sanguíneo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Os grupos sangüíneos ou tipos sangüíneos foram descobertos no início do século XX (cerca de 1900 - 1901), quando o cientista austríaco Karl Landsteiner se dedicou a comprovar que havia diferenças no sangue de diversos indivíduos[1] . Ele colheu amostras de sangue de diversas pessoas, isolou os glóbulos vermelhos (hemácias) e fez diferentes combinações entre plasma e hemácias, tendo como resultado a presença de aglutinação dos glóbulos em alguns casos, e sua ausência em outros. Landsteiner explicou então por que algumas pessoas morriam depois de transfusões de sangue e outras não. Em 1930 ele ganhou o Prêmio Nobel por esse trabalho.
Os tipos sangüíneos são determinados pela presença, na superfície das hemácias, de antígenos que podem ser de natureza bioquímica variada, podendo ser compostos por carbobohidratos, lipídeos, proteínas ou uma mistura desses compostos. Estes antígenos eritrocitários são independentes do Complexo principal de histocompatibilidade (HLA), o qual determina a histocompatibilidade humana e é importante nos transplantes.
Índice |
[editar] Importância
Cada indivíduo possui um conjunto diferente de antígenos eritrocitários, e por seu número --- existem hoje cerca de 27 sistemas antigênicos conhecidos [1], mais alguns antígenos diferenciados que ainda não foram atribuídos a nenhum sistema específico [2] --- é difícil (se não impossível) encontrar dois indivíduos de mesma composição antigênica. Daí a possibilidaade da presença, no soro, de anticorpos específicos (dirigidos contra os antígenos que cada indivíduo não possui), o que resulta na aglutinação ou hemólise quando ocorre uma transfusão incompatível (ou, em determinações laboratoriais, quando se fazem reagir soros específicos com os antígenos correspondentes presentes nas hemácias). Diferentes sistêmas antigênicos se caracterizam por induzir a formação de anticorpos em intensidades diferentes; além do que, alguns são mais comuns e outros, mais raros. Estes dois fatos associados determinam a importância clínica de cada sistema.
Os sistemas antigênicos considerados mais importantes são o sistema ABO e o Sistema Rh[1]. Estes são os sistemas mais comumente relacionados às temidas reações transfusionais hemolíticas. Reações contra antígenos eritrocitários também podemcausar a Doença Hemolítica do Recém-nascido[3] - (DHRN ou Eritroblastose Fetal), cuja causa geralmente (mas não sempre) se associa a diferenças antigênicas relacionadas ao Sistema Rh.
A determinação dos grupos sanguíneos tem importância em várias ciências:
- Em Hemoterapia, torna-se necessário estudar pelo menos alguns desses sistemas em cada indivíduo para garantir o sucesso das transfusões. Assim, antes de toda transfusão eletiva, é necessário se determinar, pelo menos, a tipagem ABO e Rh do doador e do receptor.
- Em ginecologia/obstetrícia e neonatologia, é possível se diagnosticar a DHRN através do seu estudo, adotando-se medidas preventivas e curativas.
- Em Antropologia, é possível estudar diversas raças e suas interrelações evolutivas, através da análise da distribuição populacional dos diversos antígenos, determinando sua predominância em cada raça humana e fazendo-se comparações.
- Em Medicina legal, é possível se determinar, por exemplo, o tipo sanguíneo de um criminoso a partir de material colhido na cena do crime, auxiliando na investigação criminal.
[editar] Terminologia e uso
Alguns termos utilizados no que se referem à tipagem sanguínea são ambíguos ou pouco conhecidos.
- A determinação, em laboratório, da tipagem quanto aos sistemas ABO e Rh é rotineiramente realizada em um procedimento único. A melhor maneira de se referir a este procedimento e a seu resultado é Tipagem sanguínea (ABO e Rh). Entretanto a simplicidade consagrou o uso da palavra tipagem para se referir aos dois sistemas.
- Quando necessária a distinção, convencionou-se utilizar respectivamente as expressões grupo ABO e Fator Rh. Estas designações, contudo, não são unânimes.
- Geralmente usam-se os termos aglutininas para se referir aos anticorpos e aglutinógenos para se referir os antigenos[1].
- Um estudo mais aprofundado do sistema ABO determinou a presença de variedades antigênicas ou subgrupos[1]. Estes podem ser designados, por exemplo, A1, A2 ou Bx.
- Historicamente, a classificação de Landsteiner previa os grupos A, B e O; o grupo AB foi posteriormente descoberto (1902, von Decastello e Sturli)[1]. No entanto, em inobservância à tradição, alguns autores falam em grupo 0 ("zero"). Esta designação é incorreta, pois assume que os pacientes do grupo O não apresentam aglutininas em suas hemácias (na verdade, os pacientes do grupo O apresentam em todas as suas hemácias a aglutinina H, exceção feita ao raríssimo fenótipo OBombay --- o qual não apresenta aglutininas para o sistema ABO).
- Estudos determinaram que o sistema Rh apresenta certa complexidade genética, além de variações qualitativas e quantitativas em sua expressão. Assim, são usadas as seguintes designações:
- O termo Rh Fraco substituiu a designação Du. Este termo representa uma variação quantitativa na expressão do antígeno D.
- O termo Rhnull designa uma condição rara, em que os antígenos do sistema Rh estão completamente ausentes.
- O termo "CDE" designa a determinação, recomendada para os pacientes Rh negativos, de outros antígenos menos frequentes do sistema Rh. Assim, fala-se em Rh negativo ou Rh negativo, CDE positivo.
- Em alguns casos, pode ser necessária a determinação mais detalhada dos antígenos dos sistemas ABO e Rh, e/ou a determinação de antígenos pertencentes a outros sistemas antigênicos. Esta determinação é geralmente denominada fenotipagem.
- Da combinação entre o Sistema ABO e Fator Rh, podemos encontrar os chamados doador universal (O negativo) e receptor universal (AB positivo).
- Entretanto, normalmente se faz a transfusão isogrupo (doador e receptor de mesma tipagem ABO e Rh) em preferência à doação heterogrupo (tipos diferentes).
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 BEIGUELMAN B. Os Sistemas Sanguíneos Eritrocitários. Ribeirão Preto, SP: FUNPEC Editora, 3a Edição, 2003. ISBN 85-87528-56-4.
- ↑ American Association of Blood banks.Technical Manual. Bethesda, Maryland, 14th edition, 2002. ISBN 1-56395-155-X
- ↑ HENRY, John B, (ed). Clinical Diagnosis & Management by Laboratory Methods. USA: Saunders, 20th Edition, 2001. ISBN 0-7216-8864-0.