Cortes de Coimbra de 1385
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De acordo com a decisão tomada pelo Mestre de Avis, pelos nobres e representantes do povo reunidos no mosteiro de São Domingos de Lisboa e a conselho de D. Nuno Álvares Pereira, convocou o primeiro as cortes de Coimbra nos Paços de El-Rei naquela cidade com a seguinte ordem de trabalhos:
- atribuições da coroa;
- o financiamento da guerra:
- a formulação dos capítulos que um dos três estados podia propor à resolução real.
O clero esteve representado pelo arcebispo de Lisboa, pelos bispos das principais cidades, pelo prior de Santa Cruz de Coimbra, por dois abades mitrados beneditinos, por Rui Lourenço, deão de Coimbra, e «outros prelados» entre os quais D. João de Ornelas, abade de Alcobaça. A nobreza, por setenta e dois fidalgos e outros cavaleiros e escudeiros. E, como procuradores dos povos, os representantes de trinta e uma vilas e cidades. Antes de referir o que de fundamental se passou nestas cortes convém dizer em traços largos qual o panorama político-económico-social do País.
Alguns autores interpretam que os burgueses e os legistas apressaram o desmembramento da nobreza, quando promoveram e orientaram a revolução, aproveitando, ao que parece, uma experiência anterior, vivida escassos anos atrás, aquando dos tumultos de 1372, em que a «arraia-miúda» se manifestou contra o casamento de D. Fernando com D. Leonor Teles. Essa, sim, terá sido a verdadeira rebelião popular espontaneamente surgida, pois o povo não queria ver fortalecida, junto do rei, a posição da nobreza, a que estava ligada a nova rainha. Assim, o movimento dos mesteirais de Lisboa, capitaneado por Fernão Vasques, em 1382, terá ficado na memória da burguesia, mostrando-lhe bem a valia potencial das massas revoltadas, se estas viessem a ser orientadas para lhe servirem de instrumento para a consecução do papel político que era ambicionado pelos armadores e marcantes de Lisboa e do Porto.
Desencadeada essa força, a burguesia irá servir-se dela para se alcandorar, com o Mestre de Avis, à direcção superior do Reino, sendo, para isso, assistida pelos legistas, cujas concepções de Direito romano irão ajudar à consolidação do Estado.
Por tudo isto, a aceitação de um rei estrangeiro pelos Portugueses mostrava-se difícil.
Formaram-se logo três partidos:
- Partido Legitimista, constituído pela nobreza que apoiava a candidatura de D. Beatriz de Portugal;
- Partido Legitimista-Nacionalista, dos nobres que defendiam a causa de D. João de Portugal, Duque de Valência de Campos e do seu irmão, D. Dinis, filhos de D. Pedro I e D. Inês de Castro;
- Partido Nacionalista, que defendia a tomada do trono pelo Mestre de Avis, D. João I. Este, era constituído pelos mesteirais e burgueses, além do apoio da populaça de Lisboa, que temiam que o trono caisse em mãos dos castelhanos.
No que respeita ao clero, houve algumas figuras marcantes, como o bispo de Coimbra e o bispo da Guarda, que aderiram à causa do rei de Castela. Mas o mesmo não aconteceu com o arcebispo de Braga, D. Lourenço Vicente que, sendo partidário da causa nacional, teve uma atitude patriótica ao longo de toda a crise e muito contribuiu para o triunfo final.
Na sua maioria, a nobreza desta época conservou-se fiel à herdeira legítima do trono português. Mas houve fidalgos que alinharam com o mestre de Avis. Eram, no entanto, os das mais baixas camadas da nobreza. Assim, o núcleo mais activo com que pôde contar o «Regedor e Defensor do Rei» era constituído por uma classe média de burgueses e de artesãos.
Efectivamente, nem todos os burgueses estavam mancomunados com o já referido Álvaro Pais. Os grandes da cidade, chamados a ratificar a escolha do mestre de Avis para «Regente», mostraram-se hesitantes e tiveram de ser persuadidos pela rudeza do tanoeiro Afonso Anes Penedo.
Abertas as cortes, o dr. João das Regras, notável legista, omitindo o nome do seu candidato, refutou os possíveis direitos daqueles que se apresentavam como pretendentes ao trono de Portugal. A despeito de todos estes argumentos, que visavam demonstrar que o trono estava vago, os seguidores do infante D. João não se deram por vencidos. As discussões arrastaram-se e só quando esgotados os argumentos e calada a oposição o legista propôs claramente D. João, Mestre de Avis, para rei de Portugal. Quanto ao «financiamento da guerra», os concelhos autorizaram um «pedido» de 400 000 libras. Seguiram-se os capítulos dos povos na maioria de grande importância e só a cidade de Lisboa apresentou 36. Os diplomas que despacham os capítulos das cortes têm a data de 10 de Abril de 1385.