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Niède Guidon - Wikipédia, a enciclopédia livre

Niède Guidon

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Niède Guidon (Jaú, 1935) é uma arqueóloga

Formada em História Natural pela USP, trabalhou no Museu Paulista, quando tomou conhecimento do sítio arqueológico de São Raimundo Nonato no Piauí, no ano de 1963.

Especializou-se em Arqueologia pré-histórica, pela Sorbonne, e especialização pela Universidade de Paris I.

Desde 1973 integra a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, concentrando no Piauí seus trabalhos, que culminaram na criação, ali, do Parque Nacional Serra da Capivara

[editar] Premiações

Projeto que desenvolve

Niède é chefe do Parque Nacional da Serra da Capivara, único parque americano incluído na lista da UNESCO como patrimônio histórico mundial. É a descobridora do esqueleto mais antigo do país, o de uma mulher morta há 11.000 anos. Niède é também o centro de uma polêmica que vem atraindo o interesse internacional. Em seus 25 anos de pesquisas na região de São Raimundo Nonato, cidade de 10 000 habitantes no Piauí, Niède encontrou o que acredita ser vestígios de 48 700 anos, a evidência mais antiga da presença humana no continente americano. Niède é ainda alternadamente presidente ou diretora da Fundação Museu do Homem Americano, FUMDHAM, com sede em Recife, criada em 1986, com pesquisadores brasileiros e franceses. Ela também está organizando o Museu do Homem Americano, no Parque, onde pretende expôr a história da região.

Impacto

Além de ser a principal responsável pela criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, Niède conseguiu localizar 400 sítios arqueológicos, 260 deles com desenhos rupestres. Destes, mais de 35 000 imagens já foram catalogadas e estão preservadas. O projeto educacional da FUMDHAM já implantou três Núcleos de Apoio à Comunidade, que dão atendimento de saúde e proporcionam educação a adultos e a 450 crianças de 4 a 12 anos das cidades em volta do parque.

Efiência

A parte social do trabalho da arqueóloga - as escolas rurais são geridas pela fundação, os cursos de alfabetização de adultos, as oficinas de cerâmica e o projeto de apicultura - contam com apoio financeiro da organização italiana Terra Nuova. O Parque Nacional da Serra da Capivara é financiado pelo Ibama, mas as verbas são escassas. Por causa disso, Niède vem construindo um projeto para levantar 105 mil reais por mês com empresas privadas, quantia necessária para a manutenção da estrutura e da segurança já existentes no parque e para a criação de outros benefícios necessários. "É preciso, por exemplo, que tenhamos uma vigilância porque agora a fauna nativa está voltando para o Parque. Mas ela ainda é muito frágil e precisa ser preservada com cuidado", explica Niède. Além das passarelas que estão sendo construídas e da iluminação para facilitar a visão dos sítios arqueológicos e evitar que eles sejam tocados, Niède ainda supervisiona a abertura de estradas, a construção de centros médicos e as obras de infra-estrutura. A longo prazo, a arqueóloga pretende criar um fundo internacional que ajude a manter o Parque. Segundo Niède, ele deverá atrair turistas e estudiosos do mundo inteiro e poderá abrir mais de 300 empregos em uma região carente de desenvolvimento.

Missão

"A Arqueologia é importante porque, como a História, serve para nos avaliarmos. Para saber quem somos precisamos conhecer nossas origens. Esse conhecimento nos daria mais humildade; nós perderíamos essa idéia de que devemos dominar a natureza." Niède Guidon, solteira, sem filhos.

Perfil da candidata e histórico de seu trabalho

Descendente de franceses, a arqueóloga Niède Guidon nasceu em Jaú, interior de São Paulo. Aos 18 anos, mudou-se para São Paulo onde passou a cursar História Natural na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Depois de dar aulas de Ciências e Biologia em Itápolis (SP), Niède foi transferida para o departamento de arqueologia do Museu Paulista, na capital. Em 1963, quando trabalhava no departamento de arqueologia do Museu Paulista, Niède foi designada para receber alguns habitantes do Piauí que visitavam o Museu. Entre eles estava o ex-prefeito de São Raimundo Nonato, que lhe mostrou as fotos dos desenhos encontrados nas cavernas da região nordestina. Mais do que depressa Niède percebeu que ali estava um tesouro arqueológico pronto para ser explorado. Um ano depois, e depois de uma tentativa de chegar ao local frustrada pelas chuvas, Niède partiu para a França, onde especializou-se em Arqueologia Pré-histórica na Sorbonne e fez doutorado na Universidade de Paris I, mas não esqueceu do tesouro que a esperava. Em 1970, a arqueóloga finalmente conseguiria alcançar a região e confirmar suas suspeitas. Desde 1973, quando o governo francês criou a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, liderada por Annette Laming-Emperaire, Niède Guidon, que morou na França até 1992 e fazia pesquisas no Brasil durante as férias, vem estudando os sítios arqueológicos da Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, cidade de 10 mil habitantes localizada no sudeste do Piauí, a 530 quilômetros de Teresina. A Missão acabou em 1986, mas ela decidiu permanecer na região. Além de estudar os sítios arqueológicos, Niède, que em 1991 foi convidada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis, IBAMA, para coordenar os trabalhos de implementação do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Capivara, criado por causa de sua pressão junto ao governo, também supervisiona toda a operação de construção da infraestrutura do Parque, que tem 129 mil hectares. O Parque Nacional da Serra da Capivara, onde Niède coordena uma equipe de três homens e seis mulheres e dá assistência a outras equipes brasileiras e estrangeiras, recebe durante os meses de seca, de junho a setembro, arqueólogos do mundo todo. Em 1993, 50 deles vieram participar da Reunião Internacional sobre o Povoamento das Américas, organizada por Niède.

Educar para a preservação

Ao começar seus trabalhos no Nordeste brasileiro, Niède percebeu que as possibilidades de preservação dos sítios arqueológicos seriam mínimas se a população local não fosse informada sobre o que eles significam para a história, não só do Brasil, como mundial. Por isso criou a FUMDHAM, que tem como principal objetivo a educação da população local. Em 1991, com o apoio da Cooperação Técnica do Ministério da Relações Exteriores da Itália, a fundação implantou o primeiro Núcleo de Apoio à Comunidade, no Sítio do Mocó, situado ao sul do parque. O núcleo foi dotado de escola básica, posto de saúde e casas para professores e técnicos itinerantes. Na escola, que também alfabetiza adultos, as crianças recebem três refeições diárias, tomam banho, e aprendem noções de saúde e higiene. Depois das aulas, elas participam de atividades recreativas e esportes e cuidam das hortas. Além disso, os professores da região fazem cursos de aperfeiçoamento e repassam aos adultos principalmente temas ligados a Ecologia e a Pré-História. No posto de saúde, implantado e controlado por médicos da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, agentes de saúde garantem atendimento de urgência, ajudam na prevenção de doenças endêmicas e oferecem cursos para formação de novos agentes. Depois de avaliações positivas, o modelo do núcleo foi reproduzido em torno do parque, sempre visando a auto-sustenção. Dos seis núcleos previstos, três já estão em funcionamento. Eles oferecem assistência a 450 crianças de 4 a 12 anos, sempre procurando dotá- los de conhecimentos que os permita permanecer no local, evitando a migração. A ênfase para adultos e crianças está no ensino profissionalizante, que forma agentes de proteção, de conservação, de pesquisa, guias de turismo ecológico, artesanato, apicultura e reciclagem dos desenhos do Parque. A fundação também difunde nas comunidades novas técnicas e cultivos adequados ao "polígono da seca", ampliando áreas de produção, criando novas fontes de trabalho e promovendo atividades econômicas, sociais e culturais que permitam diminuir as atividade predatórias do meio ambiente que as comunidades da região executam atualmente como meio de subsistência.

Papel da candidata no projeto

Além da perseverança que a faz caminhar diariamente, sob um sol escaldante, mais de vinte quilômetros dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara, Niède tem consciência de que é preciso educar a população da região para que eles entendam a importância dos achados arqueológicos. Para ela, os brasileiros normalmente são imediatistas. "Talvez porque este seja um país novo e de grandes proporções, se danificarem uma região, se exaurirem todos os recursos, eles acham que podem mudar para outra e assim sucessivamente", afirma Niède. Ela sabe que é preciso um longo processo de educação, mas seu temperamento explosivo a faz desabafar: "A impressão é de que o povo daqui está tão acostumado com clientelismo político que qualquer coisa nova causa desconfiança", diz ela. "O parque é um motor de desenvolvimento para a região, é um patrimônio deles, não do governo. Mas se a gente diz que é deles, eles vão querem entrar para caçar e plantar. É preciso muita educação ainda."

Reconhecimento na comunidade científica

Niède é reconhecida entre seus colegas como a mais importante arqueóloga brasileira. "Ela é a que mais tem projeção internacional, pelo fato de ser uma excelente arqueóloga, cuidadosa, de trabalhar duro e ter tenacidade de manter suas posições", explica a arqueóloga Gabriela Martin, coordenadora do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco e autora do livro Pré-história do Nordeste no Brasil. "Ela deveria ser mais ouvida e menos contestada, mas esta área é muito conservadora. As pessoas colocam uma teoria na cabeça e ficam com medo de examinar outras. Ela está questionando a teoria americana de povoamento das Américas, então é lógico que será contestada até que venha o reconhecimento." Para Niède, os arqueólogos e os homens em geral se assustam com mudanças radicais na maneira de pensar. "É preciso ter muita paciência quando se introduz uma idéia nova que pretende desbancar teorias antigas e sem embasamento teórico como as deles", afirma Niède, referindo-se à polêmica que criou entre seus pares.

Os vestígios do homem no continene americano
Polêmica

A polêmica quanto à data de chegada do homem ao continente americano envolve pesquisadores do mundo inteiro. Até alguns anos, a única teoria aceita era de que o homem havia penetrado o continente pelo estreito de Bering, entre a Rússia e o Alasca, há menos de 30 mil anos. Até pouco tempo, a mais antiga prova da presença do homem nas Américas eram vestígos encontrados no sítio Clovis, no Novo México, nos Estados Unidos, e foi datada em 11.200 anos. Mas os vestígios de outro sítio, em Monte Verde, no Chile, foram datados em 12.500 anos. Não seria possível, portanto, que o homem tivesse chegado à América do Norte e do Sul na mesma época, vindos do mesmo lugar, já que se movimentavam muito devagar. Segundo o arqueólogo americano David Meltzer, para terem chegado ao Chile há 12 000 anos, os homens precisariam ter cruzado Bering pelo menos 6 000 anos antes. No sítio estudado por Niède, a polêmica se acentua. As datações de 48.700 anos de vestígios da presença humana nas Américas foram conseguidas de modo controverso. Isso porque não há sinais de restos humanos no sítio de Pedra Furada, onde foram localizados os vestígios, amostras de carvão (que poderiam indicar a existência de uma fogueira) e pedras lascadas (que poderiam apontar a fabricação rudimentar de instrumentos a partir da pedra). Os contestadores de Niède alegam que o carvão pode ser fruto de um incêndio natural e as pedras terem lascado sem a interferência do homem. No entanto, o arqueólogo italiano Fabio Parenti defendeu sua tese na França onde mostra de forma detalhada porque ele acha que as pedras foram produzidas por homens para servir de ferramentas. A tese de Parenti, no entanto, ainda não foi traduzida para o inglês, projeto que Niède está tentando levar a cabo, e não chegou ao conhecimento dos arqueólogos americanos. O líder da equipe que estuda o sítio de Monte Verde, Tom Dillehay, arqueólogo da Vanderbilt University, publicou um artigo em 1993 dizendo que duvidava da datação do sítio Pedra Furada, que Niède pesquisa, mas no começo deste ano desculpou-se dizendo que havia feito uma análise apressada do material dela. Dillehay, que também criou polêmica ao provar com análises sofisticadas que já haviam seres humanos na região em que hoje é o Chile há 12.500 anos, escreveu na revista The Sciences: "Para ser honesto eu próprio fui culpado de uma análise instantânea ao questionar os achados do sítio de Pedra Furada, no Brasil, que se diz ter sido de 15 mil a 45 mil anos. O arremesso instantâneo de opinião se tornou uma espécie de esporte no estudo dos primeiros americanos, um esporte que revela nossa compreensão arbitrária de sítios poucos conhecidos e do povoamento das Américas." O arqueólogo Robson Bonnichsen, que dirige o Centro para o Estudo dos Primeiros Americanos da Universidade Estadual do Oregon, EUA, disse sobre a polêmica, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo: "Gostei de ler isso (a retratação de Dillehay), pois fiquei muito frustrado com a posição anterior dele. Niède Guidon e sua equipe estudaram 15 anos em Pedra Furada, fizeram uma grande quantidade de trabalho. Dillehay e mais dois colegas americanos não levantaram objeções quando visitaram o local e depois publicaram um artigo contestador na revista Antiquity. Eles deveriam, por cortesia à anfitriã, ter relatado essas objeções pessoalmente. Eu espero que eles entendam que essa não é uma maneira de promover a colaboração internacional... Você não joga fora um trabalho de 15 anos de uma equipe porque alguns sujeitos foram a uma conferência e fizeram uma resenha negativa."

[editar] Ligações externas


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