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José Afonso - Wikipédia, a enciclopédia livre

José Afonso

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Monumento em Grândola
Monumento em Grândola

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Aveiro, 2 de Agosto de 1929Setúbal, 23 de Fevereiro de 1987), mais conhecido por José Afonso[1] ou Zeca Afonso, foi um cantor e compositor português.

Não obstante o seu trabalho com o fado de Coimbra e a música tradicional, vulgo folk português, José Afonso ficou indelevelmente associado pelo imaginário coletivo à música de intervenção, através da qual criticava o Estado Novo, regime de ditadura vigente em Portugal entre 1933 e 1974.

Índice

[editar] Biografia

Foi criado pela tia Gé e pelo tio Xico, numa casa situada no Largo das Cinco Bicas, em Aveiro, até aos 3 anos (1932), altura em que foi viver com os pais e irmãos, que estavam em Angola havia 2 anos.

A relação física com a natureza causou-lhe uma profunda ligação ao continente africano que se reflectirá pela sua vida fora. As trovoadas, os grandes rios atravessados em jangadas, a floresta esconderam-lhe a realidade colonial. Só anos mais tarde saberá o quão amarga é essa sociedade, moldada por influências do apartheid.

Em 1937, volta para Aveiro onde é recebido por tias do lado materno, mas parte no mesmo ano para Moçambique, onde se reencontra com os pais e irmãos em Lourenço Marques (agora Maputo), com quem viverá pela última vez até 1938, data em que vai viver com o tio Filomeno, em Belmonte.

O tio Filomeno era, na altura, presidente da câmara de Belmonte. Lá, completou a instrução primária e viveu o ambiente mais profundo do Salazarismo, de que seu tio era fervoso admirador. Ele era pró-franquista e pró-hitleriano e levou-o a envergar a farda da Mocidade Portuguesa. «Foi o ano mais desgraçado da minha vida», confidenciou Zeca.

Zeca Afonso vai para Coimbra em 1940 e começa a cantar por volta do quinto ano no Liceu D. João III. Os tradicionalistas reconheciam-no como um bicho que canta bem. Inicia-se em serenatas e canta em «festarolas de aldeia». O fado de Coimbra, lírico e tradicional, era principalmente interpretado por si.

Os meios sociais miseráveis do Porto, no Bairro do Barredo, inspiraram-lhe para a sua balada «Menino do Bairro Negro». Em 1958, José Afonso grava o seu primeiro disco "Baladas de Coimbra". Grava também, mais tarde, "Os Vampiros" que, juntamente com "Trova do Vento que Passa" (um poema de Manuel Alegre, musicado e cantado por Adriano Correia de Oliveira) se torna um dos símbolos de resistência antifascista da época. Foi neste período (1958-1959) professor de Francês e de História na Escola Comercial e Industrial de Alcobaça.

Em 1964, parte novamente para Moçambique, onde foi professor de Liceu, desenvolvendo uma intensa actividade anticolonialista o que lhe começa a causar problemas com a polícia política pela qual será, mais tarde, detido várias vezes.

Quando regressa a Portugal, é colocado como professor em Setúbal, mas, devido ao seu activismo contra o regime, é expulso do ensino e, para sobreviver, dá explicações e grava o seu primeiro álbum, "Baladas e Canções".

Entre 1967 e 1970, Zeca Afonso torna-se um símbolo da resistência democrática. mantém contactos com a LUAR (Liga Unitária de Acção Revolucionária) e o PCP o que lhe custará várias detenções pela PIDE. Continua a cantar e participa, em 1969, no 1º Encontro da "Chanson Portugaise de Combat", em Paris e grava também o LP "Cantares do Andarilho", recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo melhor disco do ano, e o prémio da melhor interpretação. Zeca Afonso passa a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj Osnofa[2] em virtude de ser alvo de censura.

Em 1971, edita "Cantigas do Maio", no qual surge "Grândola Vila Morena", que será mais tarde imortalizada como um dos símbolos da revolução de Abril. Zeca participa em vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele e lança o LP "Eu vou ser como a toupeira". Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática e grava o álbum "Venham mais cinco".

Após a Revolução dos Cravos continua a cantar, grava o LP "Coro dos tribunais" e participa em numerosos "cantos livres". A sua intervenção política não pára, tornou-se um admirador do período do PREC e em 1976 apoia Otelo Saraiva de Carvalho na sua candidatura à presidência da república.

Os seus últimos espectáculos decorreram no Coliseu de Lisboa e do Porto, em 1983, quando Zeca Afonso já se encontrava doente. No final desse mesmo ano, é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa.[3]

Em 1985 é editado o seu último álbum de originais, "Galinhas do Mato", em que, devido ao avançado estado da doença, José Afonso não consegue cantar na totalidade. Em 1986, já em fase terminal da sua doença, apoia a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo à presidência da república.

José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica. Será certamente recordado como um resistente que conseguiu trazer a palavra de protesto antifascista para a música popular portuguesa e também pelas suas outras músicas, de que são exemplo as suas baladas.

Notas

  1. Assinava os seus discos como José Afonso
  2. Inversão do nome José Afonso
  3. Apesar da recusa por Zeca Afonso, mais tarde, em 1994, é feita nova tentativa e já a título póstumo, mas a sua mulher também recusa, dizendo que, se o marido a não tinha aceitado em vida, não seria depois de morto que a iria receber.


BIOGRAFIAS

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[editar] Discografia

Singles

  • Ó vila de Olhão (1964, single)
  • Menina dos olhos tristes (1969, single)
  • Viva o poder popular (1974, single)

Mini Albums (EPs)

  • Cantares de José Afonso (1964, EP)
  • Balada do Outono (1960, EP)
  • Baladas de Coimbra (1962, EP)
  • Grândola, vila morena (1974, EP)

Álbuns de estúdio

Álbuns ao Vivo

  • Ao vivo no Coliseu (1983, álbum duplo)

[editar] Bibliografia activa

  • Cantares (1968)
  • Cantar de Novo (1969)
  • Quadras Populares (1980)
  • Textos e Canções (1986)

[editar] Bibliografia passiva

  • José Afonso - por José Viale Moutinho (1972, ed. espanhola 1975)
  • Zeca Afonso: As Voltas de um Andarilho - por Viriato Teles (1983)
  • Livra-te do Medo - Histórias e Andanças do Zeca Afonso - por José António Salvador (1984)
  • Zeca Afonso - Poeta, Andarilho e Cantor - edição Associação José Afonso (1994)
  • José Afonso - O Rosto da Utopia - por José António Salvador (1994)
  • José Afonso, Poeta - por Elfriede Engelmeyer (1999)
  • As Voltas de um Andarilho - por Viriato Teles (1999, ed. aumentada)
  • Zeca Afonso antes do mito - por António dos Santos e Silva (2000)
  • José Afonso - Um olhar fraterno - por João Afonso dos Santos (2002)

[editar] Ligações externas


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