Mau Tempo, Marés e Mudança
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Mau Tempo, Marés e Mudança (1976) é um documentário português de longa-metragem de Ricardo Costa, a sua primeira docuficção: uma etnoficção. A personagem central deste filme é o poeta Manuel Pardal, pescador algarvio da Quarteira, um repentista: um dos representantes da tradição oral da literatura popular na poesia. Foi publicado em 1977 um livro com poemas seus, intitulado Em Cima do Mar, edição do investigador José Ruivinho Brazão.
O filme divide-se em três partes: 1 – Mau Tempo, 2 – Marés, 3 – Mudança.
Estreia na RTP em 1976, integrado na série Mar Limiar, em três episódios separados.
[editar] Ficha técnica
- Argumento: Ricardo Costa
- Realizador: Ricardo Costa
- Produção: Ricardo Costa / RTP
- Intérpretes: Manuel Pardal e esposa
- Imagem: Ricardo Costa
- Som: Jorge Melo Cardoso
- Sonoplastia: Jorge Melo Cardoso
- Laboratórios: RTP
- Formato: 16 mm p/b
- Género: documentário etnográfico (docuficção)
- Duração: 90’ aprox.
- Estreia: RTP, 1976
[editar] Sinopse
Manuel Pardal, pescador na vila algarvia da Quarteira, é um poeta analfabeto, como quase todos os improvisadores populares. Como outros poetas do Alentejo e do Algarve, tal como o bem conhecido António Aleixo, é um repentista: o único repentista pescador de que há memória na literatura popular em Portugal.
Manuel Pardal pesca sozinho na sua lancha a remos, à qual adaptou um motor fora de borda, tal como muitos outros nessa época fizeram. Permite-lhe o motor percorrer distâncias consideravelmente maiores ao longo da costa. Pesca à linha peixe graúdo e miúdo. Por experiência sabe para que lado deve ir, este ou oeste, mais ao abrigo ou mais ao largo. Ganha assim a vida.
A solidão e os tempos de espera no silêncio do mar fazem-no pensar. E pensa muito, o que reforça o seu sentir e o seu saber: algo que não é privilégio dos letrados. E não falha na letra: nem na rima nem mesmo quando encena aquilo que quer dizer. (Fonte: citação do produtor).
[editar] Enquadramento histórico
Mau Tempo, Marés e Mudança, de Ricardo Costa, Gente da Praia da Vieira de António Campos e Trás-os-Montes (filme) de António Reis e Margarida Cordeiro são três docuficções portuguesas do mesmo ano. Os primeiros filmes do género realizados antes destes em Portugal são Maria do Mar (1930) e Ala-Arriba! (filme) (1942) de Leitão de Barros e ainda Acto da Primavera (1962), de Manoel de Oliveira.
O Acto da Primavera é uma encenação filmada de um Auto da Paixão, representado por populares da Curalha, aldeia de Trás-os-Montes. Trás-os-Montes (filme) é um documentário criado a partir de uma ideia de ficção poética. Gente da Praia da Vieira e Mau Tempo, Marés e Mudança partem para o modo ficcional por outra via. Primeiro, pela escolha do tema: a vida dos pescadores da costa de Portugal. Segundo, pela abordagem desse tema a partir de uma ideia puramente documental, isto é, filmando na essência «a vida tal e qual ela é» e depois nela introduzindo situações ficcionais. O tema dos pescadores da praia da Viera de Leiria é também abordado, além de Campos, por Ricardo Costa na sua primeira longa-metragem: Avieiros. Qualquer um destes filmes explora as técnicas do cinema directo, que se desenvolveu a partir da década de sessenta, com notáveis representantes nos Estados Unidos, Canadá e França.
São qualquer destes filmes, não apenas no contexto nacional, obras pioneiras no género. Mais se distinguem se forem vistas, como docuficção, na perspectiva temática: a vida das gentes do mar:
- 1926 – Moana, de Robert Flaherty, EUA
- 1930 – Maria do Mar de José Leitão de Barros. Portugal
- 1932 – L'or des mers de Jean Epstein, França
- 1934 – Man of Aran, de Robert Flaherty, GB
- 1942 – Ala-Arriba! (filme), de Leitão de Barros, Portugal
- 1948 – La Terra Trema, de Luchino Visconti, Itália
- 1963 – Pour la suite du monde de Pierre Perrault e Michel Brault, Canada
- 1976 – Gente da Praia da Vieira, de António Campos, Portugal
- 1976 – Mau Tempo, Marés e Mudança, de Ricardo Costa, Portugal
[editar] Artigos relacionados
- Literatura popular: em torno de um conceito – artigo de Manuel Viegas Guerreiro
- Viegas Guerreiro na pág. da Faculdade de Letras de Lisboa
- Literatura oral tradicional em Folha de Poesia
- Poesia oral com autor: um território ultraperiférico – artigo de Ruy Ventura
- O poeta Aleixo em Oficina das Ideias
- Quadras populares de António Aleixo