Hanno (elefante)
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Hanno (c. 1510 – 8 de Junho de 1516), ou Annone em italiano, foi o elefante branco, ou albino, mascote do papa Leão X, oferecido, na ocasião da sua coroação, por El-Rei D. Manuel I. O seu nome ter-lhe-ia sido dado em honra do general cartaginense com o mesmo nome.
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[editar] Chegada a Roma
Hanno fazia parte da aparatosa embaixada enviada pelo monarca, chefiada por Tristão da Cunha. D. Manuel tê-lo-ia recebido como um presente do rei de Cochim, ou pedido a Afonso de Albuquerque, o seu vice-rei da India, para comprá-lo. Conta-se que Hanno era de cor branca, e chegou numa nau, enviado de Lisboa a Roma em 1514, com cerca de quatro anos de idade.
A sua chegada foi comemorada na poesia e nas belas-artes.
Para a mesma ocasião viria um rinoceronte, que seria retratado por Albrecht Dürer em uma famosíssima xilografia. Apesar de nunca o ter visto, o artista baseara-se numa descrição extremamente precisa do animal. O barco com o rinoceronte terá naufragado ao mesmo tempo que Hanno chegava de Lisboa.
Na embaixada manuelina, que atravessou a cidade para deleite dos romanos, vinham também dois leopardos, uma pantera, alguns papagaios, perus raros e cavalos indianos. Hanno carregava um palanque de prata no seu dorso, em forma de castelo, contendo um cofre com os presentes reais, entre os quais paramentos bordados com pérolas e pedras preciosas, e moedas de ouro cunhadas para a ocasião.
O papa recebeu o cortejo no Castelo de Santo Ângelo. O elefante ajoelhou-se três vezes em sinal de reverência e depois, obedecendo a um aceno do seu mahout (tratador) indiano, aspirou a água de um balde com a tromba e espirrou-a sobre a multidão e os cardeais.
Inicialmente Hanno foi mantido em um pátio belvedere, mas depois passou para um edifício especialmente construído para o efeito, entre a Basílica de São Pedro e o Palácio Apostólico, perto de Borgo Sant'Angelo (uma estrada no rione de Borgo).
O elefante tornou-se num favorito da corte papal, alegadamente fazendo habilidades para o seu divertimento e participando em procissões. Rafael e Pietro Aretino desenhavam o fascinante animal, que custava cem ducados por ano aos cofres papais. Os cronistas da época falavam dele como sendo extraordinariamente inteligente, que dançava e lançava água pela tromba, entre outras bricadeiras.
[editar] Morte
Dois anos depois de chegar a Roma, Hanno adoeceu subitamente com angina, devido ao clima húmido da cidade. Trataram-no com um purgante mas morreu em 8 de Junho de 1516, com o papa ao seu lado, e foi sepultado no Cortile del Belvedere.
Raffaello Santi criou um fresco memorial (já não existente), e o próprio papa compôs o epitáfio, que Francisco de Holanda reproduziu no seu caderno de anotações, entre 1539 e 1540:
[editar] Na cultura
Mesmo depois da morte, o paquiderme continou a inspirar obras:
- Pietro Aretino escreveu um panfleto entitulado A Última Vontade e Testamento do Elefante Hanno. O testamento fictício satirizava as principais figuras políticas e religiosas de Roma da época, incluindo o próprio papa Leão X, e fez tanto sucesso que lançou a carreira de Aretino e lhe deu o renome de satirista, que resultou no cognome de o Flagelo do Príncepes.
- Foi também protagonista do livro The Pope's Elephant: An Elephant's Journey from Deep in India to the Heart of Rome por Silvano A. Bedini.
[editar] Curiosidades
- A Fonte do Elefante, no centro do Jardim de Itália do Parque dos Monstros em Bomarzo, é assim chamada por causa da grande cabeça de elefante, possivelmente do próprio Hanno.
- Conta-se que o poeta Baraballo, no dia da sua consagração em Roma, era suposto chgar a Campidoglio, atravessando a cidade no dorso de Hanno. Mas o elefante, que segundo os cronistas achou o poeta demasiado vaidoso, atirou-o para o chão enquanto atravessava a Ponte Sant'Angelo e voltou com condignamente ao seu estábulo, perante a hilaridade geral.
[editar] Bibliografia
- Silvano A. Bedini, O Pope's Elephant, Carcanet Press e Fundação Calouste Gulbenkian, projecto da Comissão dos Descobrimentos, 1997, ISBN 1-85754-277-0
- Robert Greene, The 48 Laws of Power, Viking Penguin, 1998, ISBN 0-14-028019-7