Deixa Falar
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Nota: para ver outros significados, consulte Deixa Falar (desambiguação)
Deixa Falar é o nome de uma extinta agremiação carnavalesca do bairro do Estácio, que foi bloco, rancho e é considerada por sambistas e pesquisadores do Carnaval como a primeira escola de samba do Brasil.
A Deixa Falar durou pouco tempo, fazendo "embaixadas" (visitas a outros redutos de samba como Mangueira, Oswaldo Cruz e Madureira) e desfilando na Praça Onze nos carnavais de 1929, 1930 e 1931, não chegando a participar do primeiro concurso oficial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, organizado em 1932 pelo Jornal Mundo Sportivo.
Neste ano preferiu passar para a categoria de rancho, desfilando apenas uma vez entre os ranchos, o grupo foi extinto ainda em 1932. O fim da agremiação foi causado por conflitos em relação aos gastos da subvenção oferecida pela prefeitura para aquele desfile.
Vale lembrar que entre 1929 e 1932, ainda se escrevia "escola de samba", entre as aspas, e estas ainda eram consideradas como blocos, porém com marcação diferenciada.
Índice |
[editar] História
Fundada em 12 de agosto de 1928 no nº 27 da Rua Maia de Lacerda, na casa de Chystalino, sargento da polícia e pai do sambista Biju, a escola tinha entre seus grandes nomes o sambista Ismael Silva, que foi quem lhe batizou.
Nas imediações da sede da escola funcionava a Escola Normal, daí, segundo Ismael, veio a analogia criada por ele, pois sua agremiação formaria professores de samba. Esta versão, entretanto é contestada por pesquisadores contemporâneos que detectaram a utilização do termo "escola de samba" em data anterior a 1928.
Entre os sambistas fundadores da Deixa Falar, havia dois projetos; o de Oswaldo da Papoula, seu presidente, que era o de criar um rancho; e o de Ismael Silva, de criar um bloco inovador, que excluiria quase todos os elementos estruturais dos ranchos. Ismael era contra enredo, evoluções, destaques e bailados estranhos ao samba. Apesar das divergências, ambos colaboraram para o crescimento do grupo, que, entre os grupos carnavalescos da cidade da época, era um dos mais famosos a ter por base o samba.
Em 1929, houve uma reunião na casa de Zé Espinguela, na Rua Adolpho Bergamini, a mesma rua onde hoje está a escola de samba Arranco, no Engenho de Dentro. Este encontro, nos tempos onde o samba ainda era marginalizado, tinha por objetivo escolher o melhor grupo de sambistas da cidade, e é considerdo por muitos como o primeiro concurso de escolas de samba, ainda que fosse muito diferente dos moldes atuais, com menos integrantes, sem cortejo e desfile, apenas apresentações de grupos de sambistas, porém já com o batuque característico do samba moderno. No total eram três grupos: O Conjunto Oswaldo Cruz, o Bloco Estação Primeira, e Deixa Falar, que acabou desclassificada por apresentar instrumentos de sopro.
Ainda em 1929, Bide, sambista da escola, participou da gravação de "Na Pavuna", a primeira gravação em disco em que foram usados os instrumentos típicos das escolas de samba - sem banda ou orquestra para fazer a base - usando a marcação típica de escola de samba. Foram membros do Deixa Falar que introduziram ao samba a cuíca e que inventaram o surdo.
Nos anos seguintes, 1930 e 1931, tal concurso não se repetiu, porém o samba moderno foi se espalhando pela cidade, e muitos blocos passaram a adotar a denominação escola de samba, assimilando alguns elementos propostos pela Deixa Falar, até que em 1932 o Jornal Mundo Sportivo decide organizar um concurso de escolas de samba, porém nesse ano a Deixa Falar se inscreve no desfile oficial dos ranchos, onde não obtém sequer classificação. No ano anterior, a Deixa Falar já havia se inscrito no mesmo concurso, organizado pelo Jornal do Brasil, com o enredo "O Paraíso de Dante". Em 1932, segundo a comissão julgadora, o Deixa Falar se apresentou "simples e sem maiores pretensões". No dia 29 de março de 1933 ocorre o fim da Deixa Falar, que se funde ao bloco União das Cores, formando o União do Estácio de Sá[1]. Osvaldo da Papoula, após isso, foi para o Recreio das Flores, da Saúde, e Ismael Silva até o fim de sua vida jamais se associou a outra agremiação carnavalesca.
[editar] Bibliografia
- Nélson da Nóbrega Fernandes. Escolas de Samba: Sujeitos Celebrantes e Objetos Celebrados. Rio de Janeiro: Coleção Memória Carioca, vol. 3, 2001.