ebooksgratis.com

See also ebooksgratis.com: no banners, no cookies, totally FREE.

CLASSICISTRANIERI HOME PAGE - YOUTUBE CHANNEL
Privacy Policy Cookie Policy Terms and Conditions
Correspondência de Fradique Mendes - Wikipédia, a enciclopédia livre

Correspondência de Fradique Mendes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Este artigo ou secção possui passagens que não respeitam o princípio da imparcialidade.
Tenha algum cuidado ao ler as informações contidas nele. Se puder, tente tornar o artigo mais imparcial.
Esta página ou secção foi marcada para revisão, devido a inconsistências e dados de confiabilidade duvidosa. Se tem algum conhecimento sobre o tema, por favor verifique e melhore a consistência e o rigor deste artigo. Considere utilizar {{revisão-sobre}} para associar este artigo com um WikiProjeto.
Este artigo ou seção precisa ser wikificado.
Por favor ajude a formatar este artigo de acordo com as diretrizes estabelecidas no livro de estilo. (Fevereiro de 2008)

A Correspondência de Fradique Mendes é um livro escrito por Eça de Queirós. Aparece em duas partes, a primeira em que o narrador fala da personagem e a segunda em que aparecem as cartas propriamente ditas.

Índice

[editar] Primeira parte (Apresentação de Fradique Mendes pelo narrador)

Momentos axiais da apresentação de Carlos Fradique Mendes, o autor identifica-se como um “eu”:

  1. em 1867 em Lisboa, pela mão de Vidigal
  2. em 1871 no Egipto, por acaso numa esplanada.
  3. em 1880 em Paris por acaso num café, tem 50 anos, gera-se uma amizade que dura oito anos até à morte de Fradique em 1888.

A apresentação de Fradique funciona como introdução às Cartas. As Cartas foi o que restou de um grande homem (Fradique) que é apresentado como se tivesse realmente existido. Para corroborar esta ideia Eça introduz personagens autênticas no livro, que tiveram existência verdadeira e que testemunham sobre Fradique. Assim pessoas reais como J. Teixeira de Azevedo (Batalha Reis), Antero de Quental, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, são usadas no texto como se tivessem convivido com essa personagem. Além do mais as cartas são endereçadas a estas personagens, sem ordem aparente e paracendo-lhes que faltam cartas, o que dá uma sensação de verosimilhança ao leitor. Trata-se de um processo de quase Heteronímia. Num jogo complexo e extremamente bem executado entre ficcionalizar o que poderia ter sido uma pessoa real. É como se Eça tecesse tão bem uma teia que facilmente podemos cair no erro de dizer “Eça diz que Fradique”, ou “Antero diz que Fradique”...

[editar] Capitulo 1

(1867) Fradique é uma personagem viajada e sofisticada. Autor das "Lapidárias", que foi uma revelação literária para o narrador que as leu na Revolução de Setembro, o que considera poemas de “originalidade cativante e bem-vinda”. O narrador idolatriza a figura que ainda não conhece de Fradique. Fradique é um poeta da MODERNIDADE. com Temas "magnificamente novos". É um poeta de feitio satanista. E nos seus poemas a Forma surpreende mais do que a Ideia. O narrador divaga sobre literatura. Fradique e Baudelaire são os seus ídolos. Marcos Vidigal foi colega do Narrador “nos alegres tempos de Direito Romano e Canónico” Vidigal é apresentado como uma pessoa menor, que escreve umas coisas sobre música para entrar á borla no Teatro S. Carlos, e se encontra com agiotas. “quase original e quase célebre.” “lá estava à banca, com uma quinzena de alpaca, suando, bufando, a espremer o seu pobre crânio, como dum limão meio seco, gotas de uma crónica sobre Volpini”.

Revelação para o Narrador, Vidigal é parente e conhece o poeta das lapidárias. Vidigal neste capítulo I faz um relato ao Narrador.

Apresenta Fradique no seu meio social, tendo recebido uma herança, de uma velha e rica família dos Açores (o que, neste ponto, lembra a pessoa de Antero).

A Avó de Fradique, D. Angelina, “velha estouvada, erudita e exótica que coleccionava aves empalhadas, traduzia Klopstock, e perpetuamente sofria dardos de Amor”. Fradique é educado por ela, ministrando-lhe erudição precocemente. “iniciando Carlos, ainda antes de lhe nascer o buço, na Crítica da Razão Pura e na heterodoxia metafísica dos professores de Tubinge. Felizmente Carlos já então gastava os seus longos dias a cavalo”. (Segundo António José Saraiva foi já apontada a semelhança entre Fradique e Carlos da Maia.) A Avó decide que Fradique vá estudar para Coimbra aos 16 anos (corria na Ilha que para casar com um bolieiro). Carlos gritou pelo Penedo da Saudade, encharcou-se de carrascão na tasca das Camelas, publicou na Ideia sonetos ascéticos, e amou destemperadamente a filha de um ferrador de Lorvão. Depois de três anos a Avó morre. Resta a Carlos um tio em Paris. “homem de luxo e de boa mesa”. E Carlos foi para Paris estudar Direito nas cervejarias que cercam a Sorbonne, à espera da maioridade que lhe devia entregar definitivamente a herança”. Depois disto Fradique fica livre e rico e viaja pelo mundo inteiro. Fradique além de viajar adere a movimentos históricos (unificação da Itália, campanha da Abissínia). Troca correspondência com Mazzini, e visita Victor Hugo. É o eleito de Ana León, uma cortesã, por dois anos na corte francesa. O Narrador fica mais impressionado com Fradique privar com Victor Hugo do que ter sido amante de Ana Léon.

Vidigal convida o Narrador a conhecer Fradique. Sente-se como Novalis quando foi conhecer Hegel. (No começo o Narrador diz-se amante das Letras, Poeta).

[editar] Capitulo 2

O Narrador prepara-se mentalmente para se encontrar com o seu Ídolo. Prepara uma frase pomposa para dizer sobre as Lapidárias, “A forma de V. Exa. é um mármore divino com estremecimentos humanos”. O Narrador vai até à porta da Havanesa “pálido, perfumado, comovido”. Espera-o Vidigal. Fradique nunca publicará as Lapidárias. Chega Fradique: “Um homem desceu ligeiro e forte”. Descrição Física: “O que me seduziu logo foi a sua esplêndida solidez, a sã e viril proporção dos seus membros rijos, o aspecto calmo de poderosa estabilidade com que parecia assentar na vida, tão livremente e tão firmemente como sobre aquele chão de ladrilhos onde pousavam os seus largos sapatos de verniz resplandecendo sob as polainas de linho. A face era do feitio aquilino e grave que se chama cesareano” os olhos pequenos e negros e penetrantes. (Maria Filomena Mónica refere que a descrição prossegue quase em tons homossexuais): “Não sei se as mulheres o consideraria belo. Eu achei-o um varão magnífico, dominando sobretudo por uma graça clara que saía de toda a sua força máscula. Era o seu viço que deslumbrava. Parecia ter emergido, havia momentos, assim de quinzena preta e barbeado, do fundo vivo da Natureza” TEM 33 ANOS. “eu sentia naquele corpo a robustez tenra e ágil de um efebo, na infância do mundo grego. Só quando sorria ou quando olhava se surpreendiam nele vinte séculos de literatura. Episódio da Múmia na Alfândega. Conversas sobre Coimbra, sobre Arte e Literatura (entre Fradique e o narrador). Fradique não partilha a opinião do narrador de que Baudelaire é excelente. Fradique defende que a prosa francesa é superior à poesia. “Dizia estas coisas enormes, numa voz lenta” O Narrador quer aplicar a sua frase estudada (que os poemas de Fradique são como mármore) para impressionar, mas é interrompido por Vidigal que conta que a Múmia já saiu da Alfândega com o recurso a uma cunha. Despedem-se. O Narrador diz para si mesmo “que pedante”, mas por ser totalmente original e profundo mantém a sua admiração. Dias depois o Narrador e J. Teixeira Reis (Batalha Reis) vão procurar Fradique. Vão vestidos quase como se fossem para ocarnaval de Veneza. Fradique partira “para ir buscar bois a Marrocos”.

[editar] Capitulo 3

Este capítulo (deste relato) passa-se em 1871 no Egipto. Nos jardins do Hotel Fradique avistado pelo narrador. “estendido numa comprida cadeira de vime, com as mãos por trás da nuca, o times esquecido sobre os joelhos”, Fradique vinha da Pérsia onde se tinha juntado a um movimento chamado Babismo. Fradique está acompanhado por uma mulher lindíssima e por uma pessoa que parece Júpiter. Descrições e divagações sobre deuses a propósito desse Júpiter. Divagações e descrições da bela mulher. “E ela quem seria ela?” “Como se achava ali Fradique, na intimidade dos Imortais, bebendo com eles champagne?”, “transbordando de alegria pagã”. O narrador imagina uma história romanesca com as três pessoas que vê. Imagina um triângulo amoroso entre o Júpiter, a Deusa e Fradique.

O Narrador senta-se à mesa com eles. O Júpiter afinal é Théophile Gautier, (que em 1838 escreveu um poema célebre no tempo chamado A comédia da Morte, e era companheiro literário de Mallarmé, uma personagem que teve existência real). Discorrem sobre Descartes e outros assuntos. O Narrador revela a Fradique o triângulo amoroso imaginado entre ele, Gautier e a mulher.

Descrições sobre o Cairo. O exotismo do Oriente. Fradique conta pormenorizadamente ao Narrador o seu envolvimento em 1849, no BABISMO. (Infere-se que Fradique faz uma espécie de turismo religioso, aderindo a coisas apenas para as compreender por dentro, não é um idealista mas apenas acha chique andar metido em movimentos históricos) “e ele Fradique, não tendo no ocidente ocupações atractivas”... Comparação: Fradique está para o Babismo, como S. Paulo para o Cristianismo. O Narrador divaga em seguir Fradique e seguir o Babismo.

No entanto Fradique revela mais uma vez a sua posição essencialmente céptica. Afirma que o Oriente está estragado e que está tão medíocre que o Ocidente.

Despedem-se no ambiente exótico à margem do Nilo.

[editar] Capitulo 4

Este capítulo é preenchido por Notícias e Comentários que o Narrador recebe de Fradique. Trocam cartas. (1875, 1876).

Voltam a encontrar-se em Paris em 1880. É a partir desse encontro que uma amizade profunda nasce entre eles. (O livro começa com “a minha intimidade com Fradique data de 1880)”. Tiveram uma relação “um pouco altiva” por se considerarem a si próprios puros espíritos. Fradique é elitista e o narrador refere-se a ele como Filósofo (passou de Poeta a Filósofo). Passa um coche com uma mulher, Fradique suspira, mas retoma logo a pose de puro espírito. (A mulher em princípio deve ser Clara, que aparece como objecto de amor nas cartas.)

[editar] Capitulo 5

“O que impressionava logo na inteligência de Fradique, ou antes, na sua maneira de a exercer, era a superior liberdade junta à suprema audácia.”

O narrador cita cartas de Fradique em que exprime opiniões sobre arte e sociedade: “O homem do século xix europeu vive dentro de uma pálida e morna infecção de banalidade” lembremo-nos que Fradique sofre de algum tédio e que se dedica ao estudo apenas por diletantismo, por desporto. Fradique queixa-se do Lugar Comum, que atola tudo em banalidade. Quase enuncia uma posição próxima à de Rousseau quando diz que é preciso o Homem civilizado de vez em quando ir passear às Pampas ou aos desertos. “A Patagónia opera sobre o intelecto como Vichy sobre o fígado” Trata-se de um sofisticado e de um ultracivilizado que se aborrece com a falta da novidade das sociedades modernas.

O Narrador afirma que Fradique podia passar por um pedante que busca a originalidade a todo o custo, mas que ele era superiormente inventivo e novo, um espírito indisciplinado e criador. E nem podia ser pretensioso porque até usava sempre gravatas escuras.

Fradique tem Independência, livre elasticidade de espírito, intensa sinceridade. definindo-se a si próprio Fradique diz que “Só me resta ser através das ideias e dos factos, um homem que passa, infinitamente curioso e atento.”

Fradique transformava-se em cidadão das cidades que visitava, sustinha que se devia momentâneamente crêr para compreender uma crença (que é o que ele fez com o Babismo). Acima de tudo procura colher “alguma extravagância instrutiva”. Passando pelas crenças do seu tempo. Assim quando morreu (em 1888) pretendia ir à India para se tornar Budista. (No fundo é um céptico, um dândi, que ocupa o tempo camaleonicamente ora no mundo das ideias ou das crenças. Fradique é uma pessoa superiormente fútil). O Narrador tenta sempre defender Fradique, permanece a adoração ao longo da primeira parte.

“Fradique porém ia como a abelha de cada planta pacientemente extraindo o seu mel-quero dizer de cada opinião, recolhendo a sua parcela de verdade” (para nada, pois Fradique não faz uma obra literária, nem queria publicar as Lapidárias, não escreve livros de filosofia ou de arte que se conheçam, não age socialmente com nenhum fim, nem tem qualquer ocupação a não ser a de viajante abastado).

“A manifestação dessa magnífica força que mais o impressionava, era o seu poder de definir, um espírito que via com a máxima exactidão. Possuindo um verbo que traduzia com a máxima concisão” (é lapidar nas suas observações).

Tinha uma cultura forte e rica. Um Sólido conhecimento das línguas clássicas. Conhecia profundamente os idiomas das línguas das “nações pensantes” Inglaterra, Alemanha, França. Cohecia o Àrabe. As ciências naturais eram-lhe familiares, as ciências sociais, a História.... (No fundo Fradique é OMNISCIENTE). Mas é um erudito alegre, descontraído, e enciclopédico “Sorvi todo o Sabeísmo”. “Esgotei os Polinésio”. “Viajei por toda a parte viajável, li todos os livros de explorações e travessias, porque me repugnava não reconhecer o globo todo em que habito até aos seus extremos limites”.

Fradique tem uma prodigiosa memória. Fradique viaja como quem lê livros. Viaja para ver e ler o mundo. “tenho folheado atentamente e lido atentamente o mundo como um livro cheio de ideias”. (isto é tem algo a ver com o que correu nos meios científicos que o mundo é um texto escrito por Deus para ser lido, através da ciência, pelo Homem).

Desde 1880. Fradique viaja menos e apenas se move no eixo Londres-Paris (ou seja no cerne da civilização ocidental da época).

Lisboa só lhe agradava como paisagem. Ele sugere o remédio para tornar Lisboa um sítio encantador: “com arvoredo e pinheiros mansos plantados nas colinas calvas da outra banda, com azulejos lustrosos e alegres revestindo as fachadas sujas do casario, com uma varridela definitiva por essas benditas ruas” (p.68) No entanto e apesar de o Narrador dizer que Fradique foi sempre um genuíno português ele não viveria nem por nada em Lisboa (o que é uma contradição) “Mas uma existência enraízada em Lisboa não me parece tolerável. Falta aqui uma atmosfera intelectual onde a alma respire” Lisboa tem quatro defeitos crónicos para Fradique: é ALITERATADA, AFADISTADA, CATITA e CONSELHEIRAL.

Fradique é avesso à Política e aos políticos. tendo-lhes um horror intelectual, horror mundano e horror físico (“imaginando que nunca se lavavam e rarissimamente mudavam de meias” O Narrador tenta desculpar o estado da Política portuguesa (pelo ensino, etc) ao que ele responde “se um rato morto me disser- eu cheiro mal por isto e por aquilo e sobretudo porque apodreci- eu nem por isso o mando varrer do meu quarto” (p.85)).

(Maria Filomena Mónica sustenta que Eça, por ter vivido quase sempre fora e nunca ter contacto com o povo, com o país real, e por não ter visto alguma modernização do país, ter tido sempre deste uma imagem demasiado deformada e hipernegativa) Para Fradique Portugal só teria interesse se se mantessem aspectos gastronómicos e pitorescos, no fundo queria um País congelado nos aspectos mais fúteis do passado. Fradique queria que Portugal fosse um restaurante temático, um parque temático, para poder vir cá de vez em quando desenfastiar-se de Paris, como quem faz uma viagem no tempo, ao passado, ao tempo de D. João V. Onde as velhinhas têm um salutar terror de El- Rei e do Diabo. Para si tudo isso seria ser português e sincero. Aqui Fradique exprime o seu mais profundo reaccionarismo. O Narrador diz que amava o Povo... “pela morosa paciência de boi manso, pela alegria idílica que lhe poetiza o trabalho, pela calma aquiescência com que depois da vassalagem ao senhor governo venera o senhor governo. (claro que nisto a personagem é reaccionária mas por outro lado é a ironia de um país que é expresso por ele, um país imobilista. Fradique por excesso, já que o país é imóvel, ao menos que seja tão imóvel que esteja parado num passado pitoresco e gastronómico).

[editar] Capitulo 6

Fala-se da última visita de Fradique a Lisboa, em que este cintinua no tipo de lamentações anteriores. O criado Smith, escocês, ele próprio de linhagem, do clã dos Macduffs, além de o cuidar (barbear, massajar, etc.), conta-lhe as notícias do dia. Fradique dizia em vez de li aqui ou ali dizia “li no Smith”. Depois de almoço Fradique lia as crónicas literárias (que já não são da competência do Smith), e algum jornal português a que ele chamava “fenómenos picarescos de decomposição social”.

Fradique amou as mulheres. Mas as mulheres não são amadas como iguais. Fradique é machista. A mulher está ao mesmo nível que um requinte. Para as mulheres Fradique era “um Homem”, “uma alma extremamente sensível servida por um corpo extremamente forte”.

Embora amado Fradique preza mais a Amizade. (com seres superiores como ele). “Os homens nasceram para trabalhar, as mulheres para chorar e nós, os fortes, para passar friamente através...” (duma carta de 1855, com leviana altivez da mocidade).

Surge uma nova faceta de Fradique no texto. (que corresponde aos seus últimos anos) Uma piedade quase cristã. É um Fradique mais adoçado pela idade, que pensa nos pobres, passa a ser um esmolista militante, encarnando o espírito da caridade, numa fraternidade difusa, preocupando-se confortavelmente instalado. Trata-se da caridade, de vez em quando, de uma personagem da alta sociedade. Fradique defende que a filantropia deve ser espontânea e não organizada. No entanto é um derrotista, é um “vencido da vida”, “Não há nada a fazer” diz Fradique. “O que resta a cada um é reunir um pecúlio e adquirir um revólver. e aos seus semelhantes que lhe baterem à porta dar, segundo as circunstâncias, ou o pão ou a bala”.

Fradique morre constipado, porque num evento alguém levou o seu casaco por engano. E ele sofria de repugnância em vestir roupa de outrém. Morre (1888) sem sofrimento aparente. Até na morte foi feliz diz o Narrador, (é uma morte parecida com a morte que era idealizada pelos estóicos, sem emoção e sem dor) No funeral as mais altas personalidades francesas das artes e da ciência comparecem, e fica sepultado não muito longe do jazigo de Balzac.

[editar] Capitulo 7

Não resta uma obra impressa. Fradique deixou manuscritos. Especula-se o que poderia ter deixado numa arca. Fala-se de um episódio de Fradique na Rússia com uma Madame Lobrinska. (continuando a estratégia de mostrar Fradique como um sujeito que esteve em todo o lado e em todo o lado teve aventuras).

Especulações dos contemporâneos de Fradique (Oliveira Martins, etc.) sobre o espólio de Fradique.

O Narrador “E afirmo afoutamente que nesse cofre de ferro, perdido num velho solar russo, não existe uma obra, porque Fradique nunca foi um autor” (p.120) (aqui se revela a estratégia sublime de Eça ao abrir o jogo, quase que diz que Fradique não é nem pode ser um autor porque é uma PERSONAGEM criada por Eça).

[editar] Capitulo 8

“Se a vida de Fradique foi assim governada por um tão constante e claro propósito de abstenção e silêncio - eu, publicando as suas Cartas pareço lançar estouvada e traiçoeiramente o meu amigo, depois da sua morte, nesse ruído de publicidade a que ele sempre se recusou por uma rígida probidade de espírito”. No entanto e por o Narrador ter ouvido muitas vezes Fradique a elogiar a publicação de cartas de pessoas famosas como um meio seguro de aceder ao íntimo e à profundidade de um indivíduo, e por as cartas serem genuinamente sinceras, o Narrador resolve-se e justifica-se por publicar as cartas do seu amigo. Fradique tinha-lhe dito: “as cartas de um homem sendo o produto quente e vibrante da sua vida, contém mais ensino que a sua filosofia”. e que as cartas são palestras escritas.

À recolha das cartas devotou o Narrador um ano. com a respectiva descrição do papel e da grafologia. Fradique dizia que se cada uma das suas ideias originais aparecesse em quinhentas cartas, cada ideia dele ficaria por cento e vinte cinco mil reis (de material) concluindo que para ele era mais barato fumar que pensar e que de qualquer das maneiras eram ctividades semelhantes e que se diluíam no ar como fumo. O narrador faz os hábitos de Fradique na datação e outros pormenores da sua epistolografia.

Considerações finais sobre o papel do Pensamento no desenvolvimento das nações. “Uma nação só vive porque pensa”. Comparação entre Chicago e Paris, a segunda uma cidade pensante a primeira apenas um sítio onde se manufacturam coisas. (Em suma Fradique é um estrangeirado, um homem que não quer estar em Portugal mais de dez dias mas que é qualificado como “um excelente” Português. Lembremo-nos que Fradique não tem pensamento, no fundo nada diz, é mais um opinólogo um enciclopédico por futilidade do que um pensador, no fundo cumpre-se em relação ao Livro todo aquilo que o Narrador tinha dito das Lapidárias “Era superior a forma que o conteúdo”. Fradique é uma personagem sem conteúdo. É um genial bluff de Eça. Fradique é só Forma.)

[editar] Segunda Parte (Correspondência)

Para o estudo das cartas propriamente ditas procedeu-se a um método menos linear que o usado na primeira parte. A primeira parte é apresentada por um narrador que se identifica na primeira pessoa do singular e expondo sobre um assunto (sobre uma pessoa, Fradique). A segunda parte apresenta, sem ordem aparente, as epístolas. Fragmentos saídos, supostamente, do punho de Fradique. Apenas existem 16 cartas reunidas pelo narrados, ou melhor, são publicadas 16 cartas supostamente de um corpus mais vasto. Estas apresentadas no livro seriam as mais significativas que o narrador teria recolhido para dar fé de um grande homem. Parece-nos significativo e útil separar as cartas dirigidas a elementos do sexo masculino e as dirigidas aos elementos do sexo feminino. São nove as cartas dirigidas a senhoras e sete as dirigidas a homens. Significativo é haver três destinatárias e sete destinatários. Ou seja, as senhoras são personagens a quem Fradique se remete com mais recursividade do que os homens. Das sete cartas dirigidas a homens são todas peças únicas, isto é, não é repetido o “endereçado”. De alguma forma talvez as cartas remetidas aos homens sirvam de apoio literário para as remetidas às mulheres. Madame Jouarre tem cinco cartas recebidas e Clara tem três cartas recebidas. Arriscamos portanto afirmar que a correspondência orbita em torno destas duas personagens. Madame Jouarre que é cognominada de “minha querida madrinha” e Clara é objecto de um amor e adoração ao estilo romântico, por parte de Fradique. É importante notar que é com uma carta a Clara que a correspondência encerra. Outra diferença importante é que as personagens femininas são (nada indica o contrário pelo menos) todas fictícias, enquanto algumas das personagens masculinas (dos remetentes) são reais. (referimo-nos pelo menos a Oliveira Martins, Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão). É de supor que haja um grau de parentesco entre Madame de S. e Bento de S., à partida parecem ter o mesmo apelido, talvez sejam casados. Assim procederemos a uma leitura tipológica das cartas e não diacrónica como fizemos na primeira parte. No entanto vários métodos de leitura poderiam ser aplicados à leitura das cartas porque revelam uma rede de relações entre si, e correspondências e confirmações no testemunho ficcionado do narrador na primeira parte. Assim se forma um livro particularmente complexo ao exercício hermenêutico, tecido pela fabulosa mão de Eça de Queiroz. Além disso as cartas não são completamente estanques, embora as remetidas aos homens, sejam-no mais que as outras.

[editar] 1. Cartas a Senhoras:

[editar] 1.1.CARTAS A MADAME JOURE

Muitas das cartas, alega o narrador na primeira parte são endereçadas a gente das gálias, e por vezes uma ou outra nota de rodapé confirma a suposta veracidade disto, . Por isso teriam sido traduzidas. Todas as cartas são apresentadas em Lingua Portuguesa. CARTA 2: Fradique fala-lhe de uma moça que encontrou numa festa a dialogar com Madame. Madame Jouarre funciona para Fradique como uma confidente e uma conselheira. É de notar que é apenas a uma mulher que Fradique conta os seus sentimentos. Fradique confessa o seu desejo de conhecer aquela com que sua Madrinha privava numa festa. E descreve a jovem acompanhante da Madrinha nos mais altos padrões. “Aqueles ombros descaídos, dolentes, angélicos, imitados de uma madona de Montegna” E mais à frente “a massa de cabelos que o molho de velas para trás, entre as orquídeas, nimbava de ouro; e sobretudo o subtil encanto dos olhos- dos olhos finos e lânguidos”. Com esta descrição estamos longe da relação entre Fradique e o Narrador “de dois puros espíritos”. Aqui surge o desejo de um homem por uma mulher, desejo carnal que é sublimado em linguagem poética. Mas por outro lado a linguagem poética de Eça resvala para a Ironia. Eça usa este recurso muito bem, o de mudar o tom da linguagem para, por contraste, fazer efeitos cómicos. Ou por vezes usando léxico inapropriado num discurso. Enfim, sempre com uma flexibilidade inigualável. Repare-se nesta passagem: “Vi os olhos finos e lânguidos. Não há o homem entre outros animais, para misturar a languidez de um olhar fino a fatias de foie-gras”. Em seguida Fradique tece considerações sobre Portugal. Sempre com o seu acutilante pessimismo: “Tudo tende para a ruína, num país em ruínas”. Note-se que este niilismo quanto à Pátria se opõe e constitui um paradoxo absoluto quando, mais à frente, Fradique defende veementemente a Língua ou a Gastronomia portuguesas. Mas o interessante na personagem Fradique é a sua complexidade, e os seus paradoxos e contradições não o menorizam antes fazem dele uma personagem com maior espessura psicológica. Acaba a carta sendo céptico em relação ao Império Ultramarino, que só no fim do século XIX se volta para África, depois da Independência do Brasil. CARTA 7: Nesta carta Fradique faz um retrato confrangedor e deprimente da sua chegada a Lisboa por via férrea. E é no facto de se chegar e não haver transportes até ao Hotel Bragança, no facto de não haver ninguém para carregar as malas, no facto de se perderem as bagagens, digamos, nos factos e problemas menores que se mede a qualidade da vida em Portugal. Julgamos extremamente aguda esta observação de Eça através de Fradique porque uma Nação não é uma ideia abstracta ou um ideal poético. Uma Nação é a maneira como as instituições funcionam, como a vida em geral funciona (ou não funciona). É certo que Eça é sempre hipercrítico, no entanto é difícil não nos revermos, mesmo hoje em 2005, em algumas das caricaturas e males que o país, cronicamente, mantém. Das políticas e dos políticos ao funcionamento dos serviços mais básicos, veja-se o exemplo: “Em todas as estações do mundo, mesmo em Tunes, mesmo na Roménia, havia à chegada dos comboios omnibus, carros, carretas... Porque as não havia em Lisboa?” Fradique chega de Paris com o criado Smith e tem o choque de nada funcionar. Mesmo no hotel, supostamente internacional, não o atendem logo como seria de esperar e usual nos países civilizados e avançados. Fradique sublinha o profundo provincianismo e atraso mentecapto de Lisboa. Mas ao mesmo tempo quem o atende no Hotel tem uma certa humildade aviltante: “Era a bonacheirice, a nossa relassa fraqueza, uma certa solidariedade brejeira e serviçal”. CARTA 10: Fradique continua a Madame Jouarre o relato da sua estada em Lisboa. Tem um primo, chamado Procópio, que vive numa pensão e que se dedica à Metafísica. A casa de hospedes é quase um microcosmo. (Lembremos que a teoria renascentista do microcosmos/macrocosmos estabelece uma relação entre o todo e as partes, ou seja que uma pequena porção espelha o todo, assim a pensão espelha a sociedade portuguesa, é uma miniatura social. Aliás Eça faz muito este movimento ao analisar as situações. Pega num pormenor qualquer, disseca-o, espreme-o, e com esse pormenor tira ilações sobre o todo. Em filosofia chama-se a este método indução). Voltando ao texto, para ilustrar com uma cena passada na tal casa de hóspedes em que Procópio vive. “A patroa D. Paulina Soriana, é uma Madama de quarenta outonos, frescalhota e roliça, com um pescoço muito nédio, e toda ela mais branca que o chambre branco que usa com uma saia roxa. Parece uma excelente senhora, paciente e maternal, de bom juízo e de boa economia. Sem ser rigorosamente viúva tem um filho, já gordo que rói as unhas e segue o curso dos liceus.” Pode-se analisar tecnicamente um texto, ou um trecho como este, de várias maneiras. Mas em última análise há sempre um “não sei quê” de inatingível, de ineanalisável, nos grandes autores, e que escapa à análise literária. Trata-se de uma qualidade apontada por José Régio no célebre texto que abre o número um da Presença, trata-se de a literatura ser VIVA. E, fugindo a pontos de vista estruturalistas ou formalistas, não temos medo de afirmar que Eça é um génio da palavra. O filho de D. Paulina está destinado à administração pública, um dos males deste país que ainda hoje, embora menos sem dúvida, funciona na base da cupidez, da preguiça e da cunha. Fradique apresenta nesta décima carta outra figura tipo “É o pinho” O pinho brasileiro - o comendador pinho.” Que na casa de hóspedes “engorda pacifica e risonhamente, com os seis por cento das suas inscrições”. “Para o Pinho o universo consta apenas de duas entidades. ele próprio- Pinho, e o Estado que lhe dá os seis por cento.” Estas duas figuras, o Quinzinho filha de D. Paulina e o Pinho, retratam de forma cruel, mas não desprovida de alguma razão, a maneira como em Portugal a iniciativa individual é nula e que grande parte da população só deseja viver sob a protecção paternal do Estado, sem complicações, sem trabalhar quase nada ou nada mesmo, sem opinião, sem levantar ondas, sem turbulência, deixando que tudo permanecesse bovinamente. (A propósito, muito mais tarde, Saint Éxupery quando passou por Portugal na II Grande Guerra, fugindo aos nazis, referiu-se a Portugal como um “paraíso triste”) E esta carta não poderia finalizar de maneira mais apurada e crítica, e mais jocosamente profética e bíblica. “Aportei ao Havre na minha Arca, levando comigo, entre outros animais, o Pinho, a D. Paulina, para que mais tarde, tendo baixado as águas, Portugal se repovoe com proveito e o Estado tenha sempre Pinhos a quem peça dinheiro emprestado, e Quinzinhos gordos com quem gastar o dinheiro que pediu ao Pinho.” CARTA 12: Na carta doze Fradique faz um retrato do país rural à sua madrinha. O retrato da vida numa quinta. Por vezes acontece, na produção queirosiana, haver uma nostalgia rural ou da verdade da vida no campo. A Eça repugna mais o provincianismo urbano, especialmente da capital, do que a vida no campo em si. Por vezes a nostalgia do campo parece mais teórica, mais imaginada, do que real. porque Eça é um ultracivilizado, um homem tão urbano e cosmopolita que de vez em quando se enjoa desse cosmopolitismo. Fradique exprime estes sentimentos muito bem. É por isso é que nesta carta aparece uma referência a Virgílio, “poeta e lavrador”. A descrição da quinta denota logo o espírito anti-eclesiástico de Eça de Queiroz. “Casarão que habitaram (...) com um adro assombrado por castanheiros, pensativo, grave, como são sempre os do Minho. Uma cruz de pedra em cima do portão onde pende ainda da corrente de ferro a vetusta e lenta sineta fradesca.” Repare-se ainda na fineza com que Eça descreve visualmente, recorrendo a personificações “casarão ... pensativo e grave”, e a todo o requinte de pormenores que torna a descrição um ambiente minucioso, sempre com uma adjectivação o mais apropriada. Na nossa experiência de leitura de Eça acontece-nos muitas vezes isto: parece que estamos a ver, a ver melhor do que se tivessemos a ver uma fotografia. Fradique ao mencionar a antiga vida conventual da quinta em que está hospedado, faz um retrato indirecto mas venenoso da vida fradesca. “A cozinha era mais visitada do que a igreja - e todos os dias os capões alouravam no espeto. Uma poeira discreta velava a livraria. Onde apenas por vezes algum cónego reumatizante e retido nas almofadas de sua cela mandava buscar o D. Quixote ou a farsa de D. Petronila e Esparrejada, arejada, bem catalogada, com rótulos e notas traçadas pela mão erudita dos abades, só a Adega...” Repare-se que se Eça, pela voz de Fradique, dissesse que os frades eram alarves, bêbados e estúpidos, era uma maneira medíocre de os caracterizar. É evidente que é isso que é dito, mas por meias palavras, por eufemismos jocosos, por jogos de linguagem. Nesta passagem, como em tantas de Eça, há uma descrição com uma elegância que é maquiavélica, subtil, insinuando, ironizando. Em que muitas vezes sentimentos e/ou palavras nobres estão contaminados por palavras muito chãs. E a caricatura da vida eclesiástica na quinta que Fradique visita prossegue. A vida neste edifício era tão pouco cristã, pelo menos eivada com o pecado da gula que “S. francisco de Assis e S. Bruno abominariam este retiro de frades e fugiriam dele escandalizados como de um pecado vivo”. Por isso o edifício ao mudar de mãos, para gente secular, não precisou de nenhuma modificação. Já estava preparado para a “vida profana”, com a vantagem de, ao ser habitado por civis, não haver contradição entre a doutrina cristão e a praxis da vida. Sem a contradição do espiritual. A carta prossegue num lirismo e num tom pagão e quase panteísta, lembrando avant la lettre, Alberto Caeiro. O sítio era feito “só de religiosidade natural que nos envolve na própria oração que não tem palavras e que por isso é mais bem compreendida por Deus. CARTA 14: Esta carta é remetida por Fradique, novamente em Lisboa, novamente na casa de hóspedes da D. Paulina. E expõe sobre outra personagem que conhecera entretanto. Trata-se do Padre Salgueiro. Este padre encerra em si o paradigma dos padres portugueses. “gerado na gleba, desbravado e afinado depois pelo seminário, pela frequentação das autoridades e das secretarias, por ligações de confissão e missa com fidalgas que têm capela e sobretudo por longas residências em Lisboa, nessas casas de hospedes da Baixa, infestadas de literatura e política.” Padre Salgueiro é também um funcionário público, ou pelo menos assume a sua função de padre como uma actividade de funcionário público. Cumpre as suas obrigações com zelo mas sem emoção, sem inteligência, é um burocrata de batina. Pertence à única instituição que o povo português “compreende e de que não desconfia”. “Para ele o sacerdócio não constitui de modo nenhum uma função espiritual - mas unicamente e terminantemente uma função cívica”. Padre Salgueiro é um funcionário, sem ser do Estado mas da Igreja. O céu não lhe interessa, nem Deus, nem questões metafísicas, nem a Teologia, apenas “executar certos actos públicos que a lei determina - baptizar, confessar, casar, enterrar os paroquianos”. Salgueiro mais do que ser Padre tem a profissão de Padre. Não é uma questão de vocação. Estudou para ter uma profissão que por acaso é religiosa. “A sua ignorância é deliciosa”. “Nada sabe do Evangelho que considera todavia muito bonito. Da Bíblia só conhece episódios soltos aprendidos por imagens, por oleografias. desconhece as origens do Cristianismo e a História da Igreja e da sua Formação. Diz-se liberal. E é casto, mas apenas porque a mulher não entra na sua profissão. A mulher não entra nas suas funções.” No fundo não se questiona, não pretende saber porque é que não pode ter mulher, para Padre Salgueiro isso não interessa nada. O que importa é estar aprumado, abrir o breviário de vez em quando à vista dos superiores hierárquicos e cumprir mecanicamente as suas funções. Lisonjeira do Bispo. Os quais recebe dinheiro pelos sermões. Os seus sermões são reduzidos a um relatório. (como um funcionário) “Menos de dois mil anos bastaram para que o Cristianismo baixasse, dos grandes padres das sete igrejas da Ásia até ao divertido Padre Salgueiro. “

[editar] 1.2. CARTA A MADAME S

Na carta a Madame S., Fradique defende o uso da língua materna. De uma maneira algo contraditória, no entanto antecipando a máxima de Fernando Pessoa “A minha Pátria é a língua portuguesa”. Fradique sustenta que “na língua verdadeiramente reside a nacionalidade - e que por possuindo em crescente perfeição os idiomas da Europa, vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização”. No fundo Fradique opõe-se aos chamados estrangeirados embora ele próprio (assim como Eça o seu criador) é um estrangeirado. Fradique que se misturava nas outras culturas comportando-se como um dos autóctones (autóctone da alta sociedade, sempre). Aqui nesta carta acontece-nos o que nos acontece muitas vezes nos textos de Eça, é ficar sem saber bem o que ele realmente quer dizer, qual é a sua verdadeira posição sobre as coisas. Isto é uma das muitas qualidades do autor, a de surpreender e intrigar. A palavra certa para descrever em português não existe em português, por vezes Eça faz-nos ficar puzzled (passe o neologismo, ficamos num estado misturado entre o desconcertado e interessado). E à medida que vamos estudando com mais atenção a personagem Fradique mais parece que nos afastamos dele. Parece que na História da Literatura as personagens que mais resistem ao tempo são aquelas que fogem ao espartilho da classificação fácil. Como o D. Quixote ou Hamlet, ou algumas outras. Pensamos que Fradique pertence a este restrito lote. “Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros!” E Fradique prossegue defendendo a língua Pátria e a sua aversão ao Estrangeiro. E dá um exemplo hilariante de uma sua tia que viajando pela Europa se recusava a falar qualquer palavra de outra língua. E como gostava muito de comer ovos bem frescos pedia nos melhores hotéis, acocorando-se e imitando com onomatopeias uma galinha. E tinha sempre sucesso nessa comunicação não verbal.

[editar] 1.3. Cartas a Clara, CARTA 9, 13,16:

As cartas a Clara são típicas cartas de um apaixonado, com a linguagem do amor hiperbolizada. De alguma maneira são cartas de amor normais de um amor afogueado, platonizado, divinizado. Funcionam no livro como um contraponto a todas as outras cartas, porque no meio do cepticismo distante e diletante de dândi, surgem estas ilhas epistolares, onde todo o altivo Fradique se dobra perante Clara. Fradique tem uma adoração metafísica e estética por Clara. Não pretende ter um relacionamento com ela mas tão só viver o seu acto de adoração. Dá-nos a impressão de Fradique amar mais a ideia do amor do que Clara em si. “A beleza é o esplendor da verdade”. É a Beleza, o ideal da Beleza, que Fradique ama em Clara e não a beleza de Clara. Clara é só a organização física onde o seu sentimento estético e para-religioso se vai focar. Fradique é de um romantismo extremo com Clara: “Foste tu minha amada que me alumiaste o mundo. No teu amor recebi a minha iniciação.” Aqui surge toda a linguagem e parafernália de adjectivos típicas do amor. Corresponde àquilo que Alberoni descreveu nos seus livros como o “estado nascente”, em que a linguagem da poesia amorosa e do misticismo religioso são usadas. São usadas expressões hiperbólicas, de transcendentalismo por vezes dramático e/ou ridículo, para descrever Clara e os sentimentos que lhe estão associados. Na carta 16, a última, Fradique faz uma certa apologia do Budismo. “Eu, minha flor, sou pelo Budismo” E o livro acaba com um autêntico acto de adoração: “E é tempo que te mande, em montão, nesta linha, as saudades, os desejos e as coisas ardentes e suaves que em nome do meu coração está cheio, sem que se esgote por mais que plenamente as arremesse aos teus pés adoráveis, que beijo com submissão e fé”.

[editar] 2. Cartas a Homens

[editar] 2.1. CARTA ao visconde de A.T.

Esta carta não tem particular interesse. É curta e apenas serve para começar as cartas. Discute-se alfaiates e roupa. Caracteriza Fradique como uma pessoa elegante e mundana.

[editar] 2.3. Carta a Oliveira Martins, CARTA 3:

Esta é uma carta que começa por referir o episódio da múmia. Lembremo-nos que no fim do século XIX em Inglaterra era comum nas festas chiques ser o momento alto da festa a abertura da múmia. Era um momento de grande sensação. (Muito espólio egípcio foi assim destruído pela frivolidade e estupidez britânicas). Fradique possuí uma múmia pela que também tem um estatuto social elevadíssimo. Uma múmia egípcia para os britânicos era como um sinal exterior de riqueza. Fradique disserta sobre o Antigo Egipto e comparando com os tempos modernos diz que “o homem moderno, esse, mesmo nas alturas sociais é um pobre Adão achatado entre as duas páginas de um código.”

[editar] 2.3. Carta a Guerra Junqueiro, CARTA 5:

Fradique expõe as suas ideias sobre religião, comparando Cristianismo e Budismo. A carta revela um tom um pouco paternalista para com Junqueiro. Refutando os ideais poéticos de Junqueiro, dando deste uma ideia lírica, (no mau sentido da palavra lírico), do poeta. Fradique expõe e defende que as religiões são apenas constituídas por rituais, apenas pela sua expressão social exterior. Implicitamente defende que as religiões não têm conteúdo, que a sua filosofia e teologia é desimportante, mas que apenas existem como fenómeno social. “Meu bom amigo, uma religião que eliminasse o Ritual desaparece porque a religião para os homens, (com excepção dos raros Metafísicos, moralistas e Místicos) não passa dum conjunto de Ritos através dos quais cada povo procura estabelecer uma comunicação íntima com o seu Deus e dele obter favores.” (p.178) No entanto não considera Fradique dá uma certa vantagem intelectual ao Catolicismo. “O catolicismo (ninguém mais furiosamente sabe que V.) está hoje resumido a uma certa série de observâncias materiais: e todavia não houve Religião dentro da qual a Inteligência erguesse mais vasta e alta estrutura de conceitos teológicos e morais.” (p.180) Aqui Fradique refere-se indirectamente a toda uma tradição milenar de pensadores cristãos, desde os Evangelhos a S. Agostinho e S. Tomás de Aquino. O Cristianismo, apesar de, segundo Fradique, estar reduzido apenas ao Rito tem uma tradição intelectual notável que é aqui apontada. Mas o mesmo acontece nas religiões orientais. Para Fradique as Religiões, na sua expressão contemporânea ao século XIX, não têm conteúdo, só forma exterior. Mas no entanto isso não é uma decadência mas sim a expressão natural das Religiões. Apenas forma e Rito, apenas a sua expressão e função social. Fradique defende que o comportamento das religiões é e só pode ser a que é praticado pelo Padre Salgueiro. “Pergunte a qualquer mediano homem saído da turba que não seja um filósofo, ou um moralista, ou um místico, o que é a Religião... O inglês dirá “é ir ao serviço ao Domingo, bem vestido, e cantar hinos”. O hindu dirá_ - É fazer poojak todos os dias e dar o tributo ao Machadeo” O Africano dirá: - “É oferecer ao Mulungu a sua ração de farinha e de óleo. O Minhoto dirá: - “É ouvir missa, rezar as contas, jejuar à sexta-feira, comungar pela Páscoa” E todos terão razão, grandemente!” (p.165). O que Fradique defende nesta carta a Guerra Junqueiro é que as religiões são expressões dos povos como o folklore ou a indumentária, são expressões culturais, tudo ao mesmo nível da gastronomia. Assim os deuses são inventados para cada povo para si próprios o que vai ao encontro do ponto de vista de Feurbach que bem defende este ponto de vista na “A Essência do Cristianismo”. Fradique remata a carta de modo hilariante (e não são raras as passagens hilariantes e soberanamente inteligentes na sua Correspondência). Trata-se da comunicação do chefe Africano com o seu deus Mulungo. Dita um recado ao escravo, corta-lhe a cabeça e lá vai a alminha a subir aos céus que dará o recado ao deus Mulungo. Impagável como sempre...

[editar] 2.3. Carta a Ramalho Ortigão, CARTA 6:

A Ramalho Ortigão Fradique relata o episódio que sucedeu quando este o esperava. Quando esperava a “Ramalhal figura”. (Note-se que o amigo de Eça era conhecido pela sua janotice o que se pode confirmar pelas fotografias existentes de Ramalho). Fradique espera por Ramalho com dois amigos, e eis que chega “um sujeito escurinho, chupadinho, esticadinho, que traz na mão com respeito, quase com religião, um soberbo ramo de cravos amarelos.” É o senhor Mendibal, sul americano e que venera uma esposa europeia. “Aquele homem ia deixando escorrer a sua adoração pela mulher, como um guarda chuva vai pingando água.” A descrição de Mendibal denota algum racismo por parte de Eça, mas é inegável que é terrivelmente cómico. Aliás Bergson no seu livro “o Riso” já tinha apontado que o humor tem quase sempre alguma maldade. “Tínhamos ali portanto um fanatismo de preto pela graça loira duma parisiensezinha”. O grupo dispersa-se (Fradique os dois amigos, Mendibal e a mulher) e Fradique encontra um seu outro conhecido o Sr. Chambray. “Ser substancial e sólido, sem chumaços e sem blaques, bem alimentado, envolto em consideração, superiormente instalado na vida”. Esse tal de Chambray anda a cortejar uma Madame. “Ei-los no campo com um aroma de seiva em redor, e a primavera e Satanás conspirando sobre Madame os seus bafos quentes.” (p.173) O flirt desenrola-se com o objectivo da consumação do acto sexual. Chambray leva-a para “um quarto fresco e silencioso, mesa posta, cortina de cassa ao fundo escondendo a alcova.” (p.173) Depois de tudo consumado é já com desinteresse que Chambray finaliza o encontro. O que denota que Eça tem uma particular perspicácia para a psicologia em geral e neste caso para algumas características típicas da masculina em particular. “Chambray já num aperto de mão, já apressado e frouxo, suplica-lhe que ao menos diga como se chama. Ela murmura.- Lucie." (p.174) E repare-se como a situação se desenrola na melhor das traições: “- E é tudo o que sei dela - conclui Chambray acendendo o charuto- E sei também que é casada porque na gare de Saint-Lazare, à espera dela, e acompanhado por um trintanário sério e barbudo, estava o marido... É um restacuero cor de chocolate, com uma barbita rala, enorme pérola na gravata...” Repare-se no movimento perfeito da narração desta carta. Primeiro Fradique apresenta uma personagem algo alegre e ridícula, que ama loucamente a mulher. Depois apresenta-nos outra personagem Chambray e fala de um episódio de traição. Eça não nos diz à priori que esta personagem é Mendibal. Quando já estamos esquecidos da personagem Mendibal é quando o galã entrega-lhe a esposa na gare. Que a recebe otariamente de braços abertos. Depois deste episódio a carta acaba com uma reflexão sobre o adultério, deliciosamente cínica: “Madame experimentou uma sensação nova ou diferente, que a desenervou, a desafogou, lhe permitiu reentrar mais acalmada na monotonia do seu lar, e ser útil aos seus com rediviva aplicação. E o Argentino adquiriu outra inesperada e triunfal certeza de quanto era amado e feliz na sua escolha. Três ditosos ao fim desse dia de primavera e de campo. E se daqui resultar um filho (o filho que o Argentino apetece) que herde as qualidades fortes e brilhantemente gaulesas de Chambray, acresce, ao contentamento individual dos três, um lucro efectivo para a sociedade. Este mundo está portanto superiormente organizado” (p.175).

[editar] 2.3. Carta ao Sr. Mollinett, CARTA 8:

Consideramos esta carta um pouco estranha porque parece-nos que não se enquadra bem com a psicologia da personagem Fradique. É evidente que a carta tem uma leitura irónica, mas aqui Fradique aparece a elogiar uma personagem do mundo da política. Trata-se de um tal de Pacheco, cuja inteligência se tornou lendária sem fazer nada. Pacheco é uma personagem que tem a pose burocrática e inútil dos políticos. Pacheco tendo dito uma vez em Coimbra, um cliché positivista, “O século XIX era um século de Progresso e de Luz”. passou a ser considerado pelos seu s pares como um génio. A partir daí a sua fama vai aumentando. Curioso nesta carta é vermos a génese de uma lenda. A lenda do génio em torno de Pacheco. A sua fama foi aumentando. Vão-se avolumando boatos acerca da maravilhosa capacidade intelectual de Pacheco até que este se torna Ministro. Sempre sem fazer ou dizer nada, apenas um cliché de tempos a tempos, sustentado por uma lenda que dava como quase divina a sua maravilhosa capacidade intelectual. Sem que na realidade tivesse alguma coisa no cérebro. “Pacheco no entanto já não falava. Sorria apenas. A testa cada vez se lhe tornava mais vasta” (p.192). Nesta carta acontece um facto literário curioso e que eleva a Correspondência a um livro em que as relações entre a realidade e a ficção se entrelaçam. Trata-se da introdução do Conselheiro Acácio que é uma personagem de um livro de Eça. Assim na Correspondência coabitam pessoas reais tornadas personagens, pessoas fictícias como Fradique, pessoas semi-fictícias, quase heteronímicas, como o narrador da I Parte, que tem alguns pontos de contacto com pormenores da biografia de Eça. e ainda personagens de outros livros .

[editar] 2.3. Carta a Mr. Bertrand B., CARTA 9:

É uma das cartas em que o espirito de Fradique se mostra no seu máximo de reaccionarismo. Completamente anti-Progresso, com uma perspectiva congeladora sobre a vida dos habitantes da Palestina, endereçada a quem projectou o caminho de ferro entre Jafa e Jerusalém. Aqui Fradique tenta demonstrar o ridículo e o crime paisagístico, antropológico e patrimonial, de se levar o Progresso à Terra Santa. Fradique tem um interesse museológico sobre os sítios e as gentes, pouco se importando com as condições de vida destas. Deseja conseguir o privilégio de poder viajar na Palestina como quem vai passear por um quadro vivo e encantador do tempo do rei Herodes. Seria um quadro parado no tempo, para turistas intelectuais e diletantes como o Sr. Fradique possam visitar para o seu próprio proveito e enobrecimento cultural. “Considero que a tua obra de civilização é uma obra de profanação” (p.173). Não por a Palestina ser o local Sagrado para Fradique mas por ser um lugar histórico e que deve ser preservado como tal. “Entrar na Palestina é entrar numa Bíblia viva” (p.173). No entanto Fradique tem uma argumentação astuciosa e inteligente, embora errada, e que quase convence. “Nada mais necessário na vida do que um restaurante: e todavia ninguém, por mais descrente ou irreverente, desejaria que se instalasse um restaurante, com as suas mesas, o seu tinir de pratos, o seu cheiro a guisados - nas naves de Notre Dame ou na velha Sé de Coimbra. Um caminho de ferro é obra louvável entre Paris e Bordéus. Entre Jericó e Jerusalém basta a égua ligeira que se aluga por dois dracmas, e a tenda de lona que se planta à tarde, entre os palmares, à beira duma água clara, e onde se dorme tão santamente sob a paz radiante das estrelas da Síria.” (p.217)

[editar] 2.3. Carta a Bento de S., CARTA 15:

Nesta carta Fradique revela mais uma vez um cepticismo extremado e quase injustificável, o destinatário da carta, pelo que se depreende desta, vai tentar fazer um jornal. E Fradique, em vez de apoiar a iniciativa como sendo um veículo útil da modernização do Portugal de então, vai criticar como se fosse uma ideia “daninha e execrável” (p.243). Fradique sustenta que há três atitudes que matam uma sociedade, são elas a Intolerância, os Juízos Ligeiros e a Vaidade. E que um jornal só pode contribuir para isso. Porque o jornal é por definição um lugar de notícias ligeiras e de juízos apressados. (como se os jornais não pudessem coabitar, reforçar e completar um estudo mais sério). Fradique, mais uma vez, usa argumentos sérios para conclusões erradas, para defender posições insustentáveis (o que não deixa de ser interessante). “Para julgar em Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com o boato, mal escutado, a uma esquina, numa manhã de vento” (p.244). “ E quem nos tem enraizado estes hábitos de desoladora leviandade? O jornal - o jornal, que oferece cada manhã, desde a crónica até aos anúncios, uma massa espumante de juízos ligeiros, improvisados na véspera, à meia noite, entre o silvar do gás e o fervilhar das chalaças, por excelentes rapazes que rompem pela redacção, agarram um tira de papel e, sem tirar mesmo o chapéu, decidem com dois rabiscos da pena sobre todas as coisas da Terra e do Céu.” (p.246) É evidente que as cartas de Fradique são justas para algum jornalismo e que hoje seria justa para o nosso jornalismo, especialmente o televisivo. No entanto fazer das críticas ao mau jornalismo a condenação do jornalismo é injustificável. Repare-se no exagero: “Todo o jornal destila intolerância, como um alambique destila álcool, e cada manhã a multidão se envenena aos goles com esse veneno capcioso.”

[editar] Conclusão

É evidente que as cartas de Fradique não são cartas de um sujeito de moral tradicional. E que Eça consegue espicaçar a moral burguesa e bem comportada, com as suas atitudes de provocação. E consegue-o porque até aqui neste ensaio, especialmente nestas duas últimas cartas estudadas, ficamos a esgrimir argumentos contra Fradique. Ou seja acabámos de cair na armadilha de Eça. Porque Fradique não existe, é um bluff literário. Um genial bluff.


aa - ab - af - ak - als - am - an - ang - ar - arc - as - ast - av - ay - az - ba - bar - bat_smg - bcl - be - be_x_old - bg - bh - bi - bm - bn - bo - bpy - br - bs - bug - bxr - ca - cbk_zam - cdo - ce - ceb - ch - cho - chr - chy - co - cr - crh - cs - csb - cu - cv - cy - da - de - diq - dsb - dv - dz - ee - el - eml - en - eo - es - et - eu - ext - fa - ff - fi - fiu_vro - fj - fo - fr - frp - fur - fy - ga - gan - gd - gl - glk - gn - got - gu - gv - ha - hak - haw - he - hi - hif - ho - hr - hsb - ht - hu - hy - hz - ia - id - ie - ig - ii - ik - ilo - io - is - it - iu - ja - jbo - jv - ka - kaa - kab - kg - ki - kj - kk - kl - km - kn - ko - kr - ks - ksh - ku - kv - kw - ky - la - lad - lb - lbe - lg - li - lij - lmo - ln - lo - lt - lv - map_bms - mdf - mg - mh - mi - mk - ml - mn - mo - mr - mt - mus - my - myv - mzn - na - nah - nap - nds - nds_nl - ne - new - ng - nl - nn - no - nov - nrm - nv - ny - oc - om - or - os - pa - pag - pam - pap - pdc - pi - pih - pl - pms - ps - pt - qu - quality - rm - rmy - rn - ro - roa_rup - roa_tara - ru - rw - sa - sah - sc - scn - sco - sd - se - sg - sh - si - simple - sk - sl - sm - sn - so - sr - srn - ss - st - stq - su - sv - sw - szl - ta - te - tet - tg - th - ti - tk - tl - tlh - tn - to - tpi - tr - ts - tt - tum - tw - ty - udm - ug - uk - ur - uz - ve - vec - vi - vls - vo - wa - war - wo - wuu - xal - xh - yi - yo - za - zea - zh - zh_classical - zh_min_nan - zh_yue - zu -