Catedral de Santiago de Compostela
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A Catedral de Santiago de Compostela é uma catedral em estilo românico, pertencente à Diocese de mesmo nome. Construída entre os anos de 1075 e 1128, durante a Reconquista Cristã, na época de Cruzadas, está situada no centro histórico da cidade, a qual está localizada no centro da província da Corunha, na Galiza. É um milenar centro de peregrinação cristã da Europa e foi fator determinante para colocar a Espanha dentro dos círculos medievais graças ao chamado Caminho de Santiago, dedicado a Santiago Maior, atual patrono e protetor do Reino da Espanha.
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[editar] História
Após o descobrimento[1] pelo bispo Teodomiro de Iria Flavia, entre 820 e 835, do que se consideravam os restos do apóstolo Santiago Maior, o rei Afonso II das Astúrias mandou edificar uma igreja dedicada ao culto do apóstolo. Em 872, na época do rei Afonso III, começou a construção da nova basílica de pedra, que substituiu à pequena igreja, e que foi consagrada em 899, com a presença de dezessete bispos, e que se derrubou em 1112, esta primitiva basílica tinha uma nave de 24 metros de longo e arcadas que davam aos laterais e estava decorada com mármore e esculturas.
Em 1075 baixo o impulso do bispo Diego Páez e do rei Afonso VI de Castela e Leão começou a construção da catedral românica que se rematou durante o episcopado de Diego Gelmírez (1101-1140).
O primeiro que se edificou foram as capelas do deambulatório: A capela do Salvador, a de São Pedro e a de São João. Em 1105 Gelmírez consagrou as capelas de São João Baptista, São Martinho, Santa Cruz e São Martinho. Em 1112 remataram os trabalhos dos braços do cruzeiro. Em 1117 uma revolta dos burgueses da cidade contra Gelmírez afetou à catedral e a fachada das Pratarias veio-se tocada pelo lume: ainda assim em 1140 estão rematados seis trechos das naves maiores. O resto dos trechos foram concluídos em 1160, depois do que se produziu uma paralise na construção até que, em 1168, o Mestre Mateus ficou como mestre de obras. Nesta altura, ele e sua oficina tornaram-se artífices do Pórtico da Glória e remataram a catedral que, numa celebração solene, consagrou o arcebispo Pedro Muñiz em 21 de abril de 1211.
Durante toda a Idade Média a Catedral veio ser a representação material do poder senhorial do Arcebispado Compostelano, sendo o palco de muitos dos feitos mais importantes da história da Galiza.
[editar] Descrição
A catedral de Santiago de Compostela situa-se na zona mais ocidental da cidade antiga, rodeada por quatro praças: Praça do Obradoiro, Praça da Acibecharia[2], Praça das Pratarias e Praça da Quintana.
A construção atual iniciou-se em 1075, baixo a direção facultativa do mestre Bernardo o Velho[3], segundo a leitura do epígrafe da Capela do Salvador transcrita por Ángel del Castillo[4]. Quando o bispo Diego Páez foi destituído em 1088, estavam já feitas as três capelas da charola com seus trechos. Em 1101 o mestre Estevão abandona Compostela deixando completadas as capelas semi-decagonais da charola e estavam a ser realizadas obras na portada de Pratarias. Foi nos braços do cruzeiro, em direção às portadas do Paraíso e de Pratarias, onde se começou a contratar por tarefa em quantidade importante[5]. Em 1103 foram inscritas nas jambas de Pratarias a data de assento da portada [6]. Seguindo à História Compostelana em 1105 consagraram-se os altares, consagração talvez coincidente com o remate do cruzeiro. Em 1112 estavam construídos os primeiros trechos do corpo principal da igreja e as pequenas torres laterais. Finalmente em 1122 concluíam as obras do templo, deixando para trás meio século de trabalhos.
A Catedral foi uma grande escola de cantaria onde se formaram famílias e gerações de canteiros, que espalharam por toda Galiza o aprendido durante sua construção.
Consta de uma planta basilical de cruz latina de três naves, também no transepto, e trifório (chamado localmente tribuna), que está conectado diretamente com o Paço do Arcebispo, o conhecido na atualidade como Paço de Gelmírez. Na cabeceira situa-se a capela-mor, rodeada por uma charola pela que se acede a cinco capelas radiais menores. Esta estrutura segue os exemplos franceses dos templos de peregrinação, novas formas construtivas chegadas através do Caminho.
[editar] Exterior
[editar] O Pórtico da Glória
O Pórtico da Glória da Catedral de Santiago de Compostela é um pórtico do românico realizado pelo Mestre Mateus e sua oficina entre 1168 e 1188.
A estrutura arquitetônica do pórtico consiste em três plantas superpostas: a cripta que simboliza o mundo terreal, o pórtico propriamente dito, que constituía a porta de entrada ocidental à catedral, e que permaneceu aberto ao exterior durante a Idade Média e no que se representava a Jerusalém Celeste, e a última planta era a tribuna, na qual as rosáceas possibilitavam que estivesse iluminada tudo o dia. Representando a elevação do humano ao divino.
[editar] Iconografia
O Pórtico da Glória está constituído por três arcos, o central é o maior. No tímpano central, baseado no Evangelho segundo João, representa-se a Cristo em Majestade com as mãos mostrando as chagas, rodeasse pelo Tetramorfos, as imagens dos evangelistas e anjos que levam os instrumentos da paixão de Jesus. Na arquivolta representam-se, sentados, os 24 anciãos do apocalipse, cada um leva um instrumento musical ou uma taça.
No arco esquerdo são representados os justos que aguardam a chegada do Salvador e no da direita representa-se o Julgamento Final. Nos ângulos figuram os quatro anjos do Apocalipse.
[editar] A Fachada de Pratarias
A fachada das Pratarias é a fachada meridional do cruzeiro da Catedral de Santiago de Compostela.
Edificou-se entre 1103 e 1117 e contém, além dos relevos românicos originais, outros procedentes de uma porta que nunca se chegou a edificar e da fachada do Paraíso. A fachada das Pratarias sofreu um incêndio em 1117 durante um ataque dos burgueses contra Diego Gelmírez e outro nas meadas do século XV. Em 1884 Antonio López Ferreiro colocou nesta portada uma série de estatuetas que procediam do coro do Mestre Mateus.
A fachada das Pratarias deve seu nome às oficinas de prata que existiam no lugar.
No tímpano da porta esquerda aparece o Cristo tentado por um grupo de demônios. À direita aparece uma mulher seminua com uma caveira nas mãos, que pode ser Eva ou a mulher adúltera. Nas jambas aparecem Santo André e Moisés. No contraforte, o rei David, tocando a harpa, a criação de Adão e Cristo abençoando. Todas estas figuras procedem da fachada românica norte (atual "fachada da Acibecharia"). No tímpano da porta direita aparecem várias cenas da paixão de Cristo. Numa das jambas aparece a inscrição que comemora a colocação da primeira pedra: ERA / IC / XVI / V IDUS / JULLII (11 de Julho de 1078). Uma imagem, não identificada, sobre um raposo que engole uma lebre e, á frente desta, uma mulher mal vestida com um animal no colo, procedem doutro lugar. Apoiadas no muro da torre da Berenguela aparecem outras imagens que representam a criação de Eva, Cristo num trono e o sacrifício de Isaac.
Das onze colunas inferiores desta fachada, três são de mármore (a central e as extremas) e o resto de granito. Na central aparecem as figuras de doce profetas e nas laterais os apóstolos.
Para o friso também se aproveitaram algumas das figuras da porta da Acibecharia. Dois leões, sobre os que repousam um cristograma e uma figura desconhecida, apoiados sobre a coluna central. Num medalhão aparece o Pai Eterno (ou a Transfiguração), com as mãos abertas e rodeado por dois anjos que tocam cornes. No centro do friso aparece Cristo abençoando acompanhado do apóstolo Santiago e de seis figuras mais, as colocadas por Antonio López Ferreiro. Também aparecem Santo André, a Virgem e o Menino e quatro apóstolos e um anjo. À direita de Santiago está São João, uma cena da expulsão de Adão e Eva do Paraíso e outras figuras, incluído um centauro.
O friso separa-se do corpo superior por um torna-chuvas substituído por cachorros grotescos. As duas janelas estão adornadas por arquivoltas. Os arcos interiores estão descentrados por causa das reformas realizadas no século XIII. À esquerda há uma grande concha que sustém a escada de acesso ao primitivo tesouro.
Originariamente existiram duas torres românicas a ambos os lados desta fachada (só se conservam os alicerces de uma delas mandada construir por Berenguel de Landória, sobre a que se ergueu a Torre do Relógio, obra barroca de Domingo de Andrade), tendo sido o Messias o tema da portada
[editar] Interior
[editar] O Panteão Real
É o lugar dentro da Catedral onde se soterravam reis e personagens do Reino da Galiza.
Nele estão soterrados, entre outros:
- Raimundo de Borgonha (1107), casado com Dona Urraca, conde da Galiza e pai de Afonso Raimúndez, coroado por Gelmírez rei da Galiza em 1111 e logo rei de Leão e de Castela com o nome de Afonso VII.
- Berenguela (1149) casada com Afonso VII.
- Fernando II, rei da Galiza e Leão (1118).
- Afonso IX de Castela e VIII da Galiza e Leão (1230).
- Joana de Castro (1347), esposa de Pedro I de Castela.
- Pedro Froilaz, conde de Trava e tutor de Afonso Raimúndez.
[editar] Capela-mor
As suas abóbadas e arcos conservam vestígios de cinco etapas pictóricas: pinturas medievais, outras renascentistas de Juan Bautista de Celma, pinturas barrocas de Pedro de Mas ou as tardo-barrocas de Gabriel Fernández que as pintou junto com as do cibório do cruzeiro entre os anos 1766 e 1767.
[editar] O Botafumeiro
O botafumeiro[7] é um grande incensário de latão banhado em prata, que pesa 62 kg vazio e mede 1,60 m de altura.
É o maior do mundo. Numerosas fontes apontam outros pesos, referidos ao incensário cheio de combustível, a modelos anteriores ou a simples erros. O botafumeiro atual pesava 60 kg, mas em 2006 acrescentou-lhe um banho de prata que fez aumentar sua massa até os 62 kg atuais.
O atual foi criado pelo ourives Xosé Losada em 1851. A corda que o suspende, atada do cruzeiro da catedral, é na atualidade de um material sintético, mede 65 metros, tem 5 cm de diâmetro e pesa 90 kg. Anteriormente as cordas eram feitas de cânhamo ou de esparto.
[editar] O Museu catedralício
Fundado em 1930 Museu da Catedral de Santiago de Compostela é uma instituição que acolhe e expõe diversas obras artísticas e arqueológicas, propriedade da Sé compostelana, que abarcam desde a época romana até a atualidade. O museu localiza-se na mesma catedral.
O museu abrange diversos espaços dentro da catedral:
- Museu-Claustro, com ingresso desde o lado meridional da Praça do Obradoiro.
- Cripta do Pórtico da Glória, acedida pela escadaria de ingresso à catedral, na mesma praça indicada.
- Tesouro e Panteão Real, atualmente pode-se visitar desde a entrada ao Museu-Claustro.
- Paço de Gelmírez, entra-se nele desde o lado norte da mesma Praça do Obradoiro.
[editar] Galeria de Imagens
[editar] Referências
- ↑ Conhecido como a Inventio.
- ↑ Azivecharia
- ↑ Em torno de cinqüenta operários baixo suas ordens para construir as três capelas centrais do deambulatório. Desta campanha são escassos os signos em lajes, reduzindo-se a oito pequenas e simples marcas procedentes do alfabeto latino. Estas marcas estavam associadas a modalidade de trabalho por tarefa, frente à inexistência quando o sistema era o de salário por jornal, sem esquecer outros valores como os de identificação de colaboradores ou doadores.
- ↑ Na sua obra Inscripciones inéditas de la Catedral de Santiago.
- ↑ Chegando a contar-se até quarenta e uma quadrilhas lavrando os pilares anteriores à portada norte. Das naves: arcos, pilares, jambas e colunas foram contratadas por tarefa a mais de cento vinte quadrilhas, ficando a execução dos muros exteriores para o pessoal assalariado
- ↑ Gómez Moreno, M. El arte románico español. pág. 116
- ↑ O significado da palavra "botafumeiro" ("bota-fumeiro") seria parecido a "joga-fumaçada"
[editar] Bibliografia
- BARRAL IGLESIAS, A. e R. Yzquierdo Perrín (1993), Guía de la catedral de Santiago, León. EDILESA. ISBN 84-8012-033-9 (em castelhano)
- CONANT, Kenneth John (1983), Arquitectura románica da Catedral de Santiago de Compostela, Vigo. Colexio Oficial de Arquitectos de Galicia. ISBN 84-85665-07-4
- GARCÍA IGLESIAS, Xosé Manuel (1990), A catedral de Santiago e o Barroco, Santiago de Compostela. Colexio Oficial de Arquitectos de Galicia. ISBN 84-85665-20-1
- VÁRIOS (2000), A catedral de Santiago de Compostela, Pepe Carreiro (debuxos), Vigo. Promocións Culturais Galegas / A Nosa Terra. ISBN 84-95350-18-1
[editar] Ver também
- Fachada do Paraíso
- Mestre Mateus