Antipapa Cristóvão
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O Antipapa Cristóvão governou indevidamente a Igreja Católica de Outubro de 903 a Janeiro de 904. O seu pontificado foi marcado mais pelo domínio da força do Partido Germânico e de sua capacidade de persuasão do que por santidade ou aclamação popular.
Cristóvão era romano, sacerdote eloqüente, capelão do título da igreja de São Dâmaso. Seu pai chamava-se Leão, e era um professor (grammaticus) muito respeitado na comunidade de Ravena - outros alegam que teria sido de Ascoli. Com uma infância muito "aventurosa", os cronistas dizem que teria passado os seus primeiros anos em constantes viagens, acompanhando a seu pai, mas sua estadia em Gallese e em Tivoli não estão descartadas.
Em uma época de fatos tão obscuros, havendo tão poucas notícias confiáveis e com tamanha barbárie de costumes que tomavam de regra os modos cada vez mais brutais e menos descorteses que representaram o século X, uma época agitada e carente de fontes seguras. Cristóvão estudou muito, mas não revelava grande gênio para assuntos abstratos ou religiosos, e buscava mais as aventuras dos grandes do passado: Júlio César e Alexandre, o Grande além de ler os oradores da antiguidade como Cícero e Demóstenes. Tinha certa predileção por assuntos que envolvessem administração e assuntos de estado como política e relações públicas. Gostava de lidar com as pessoas. Muito observador, sempre demonstrou visão penetrante para a política e forte inclinação para a diplomacia. Algumas raras fontes históricas(que seus vários inimigos dizem não serem de todo confiáveis), alegam que teria conhecido o futuro Papa Teodoro II, em meio a suas peregrinações pelas comunidades cristãs, e granjeando sua simpatia, o teria acompanhado como secretário até Roma.
Quando Teodoro foi sagrado Papa, auxiliou-o em seu breve pontificado. Função que também desempenhou com o outro pontífice, o Papa João IX. Já o Papa Bento IV nomeou-o capelão titular da igreja de São Dâmaso para se ver livre de seus constantes palpites e "inoportunas" intromissões na conduta de seu pontificado. Após a morte de Bento IV, teve Cristóvão a coragem de colocar o seu nome à disposição como aspirante ao sólio pontifício.
Chegou a granjear o apoio e alguns votos dos partidos que se "acotovelavam" na esperança de elejer o sucessor do apóstolo Pedro. Algumas dessas facções eram, em sua maioria, compostas das nobres famílias romanas, ávidas por "compartilhamento" do poder papal. Entretanto, estes votos não foram suficientes para elegê-lo pontífice, sendo assim derrotado por um jovem que surpreendeu a todos, vindo de Árdea, que foi aclamado pelo nome de Leão V. Era amado este por todos, pelas notórias qualidades morais, sua retidão e seu saber. E que prometia pela sua moderação, conciliar aos vários adversários. A história e os vários cronistas desta época (alguns até tendenciosos), não conseguem concordar a respeito dos fatos que se seguiram até à eleição deste jovem pontífice. Alguns autores costumam alegar que, inconformados com a derrota de Cristóvão, seus inúmeros partidários causaram tumultos tão odiosos pelas ruas de Roma, e o foram de tal ordem, gerando tamanha confusão que suas manifestações beiravam a semelhança de uma autêntica revolução.
Com grande astúcia, o capelão tentou convencer a Leão V que era melhor abdicar frente à sua impotência e grande fragilidade em controlar os grupos revoltosos. Ante a natural recusa do pontífice, Cristóvão mandou prender a Leão, que foi detido, acorrentado, esbofeteado, arrastado até uma prisão e morto depois de alguns dias por envenenamento.
Em meio aos dias de sofrimento de Leão, nenhum dos abades dos mosteiros da cidade de Roma e nos seus limites, concordou com a forma que estava sendo tratado o pontífice. E muito menos aceitaram participar do engodo que seria "enclausurar forçosamente o jovem Papa". Restando pouco a fazer, só restou aos partidários de Cristóvão prendê-lo em um cárcere comum. E isto gerou muitos protestos. Cronistas mais recentes costumam creditar o envenenamento de Leão V ao próprio Cristóvão. Agora, sem Leão no seu caminho, e com o apoio do ambicioso Partido Germânico, e de inúmeros partidários, pôde finalmente ser Papa.
Cronistas latinos e inúmeros estudiosos costumam não credenciar a Cristóvão como verdadeiro Papa, mas sim como um perigoso Antipapa que se apoderou sacrilegamente do poder após a deposição de Leão V. Algumas fontes históricas o descrevem como homem astuto, cerebral, orador persuasivo, de alguma fluência, de retórica concisa e dotada de extraordinária habilidade de convencimento. Mas nem isso o impediu de ser deposto pelo mesmo partido que o apoiou e o que agora elevava aquele que a história chamaria de Papa Sérgio III, que o obrigou a se recolher como monge, e que lhe teria, segundo historiadores, "patrocinado" o mesmo fim que proporcionou e "confortou" a Leão V na sua solidão: o envenenamento. Outros cronistas, costumam dizer que foi encarcerado, depois morto em meio a uma grande rebelião popular.
Muitos criticam a aparente fragilidade do poder papal, que permitiu, particularmente neste tumultuado século X, marcado pela violência, e que tem sempre sido tão duramente julgado pelos historiadores ao surgimento de párias e oportunistas que apoiados pelas nobres famílias romanas, ávidas pelo poder, a tomar o sólio pontifício. O antipapa Cristóvão só conseguiu assumir tal posição, e conseqüente relevo político, pelo fato de se valer de sua total falta de escrúpulos, e de ardís variados. Entre eles, o de prometer vantagens tão abusivas aos seus partidários que, chegou ao ponto de comprometer a sua própria reputação para a posteridade.
Seus contemporâneos preferiram não julgá-lo, conservando-lhe a memória entre as figuras dos pontífices, e enterrá-lo entre eles. Há um epitáfio de seu sepulcro em São Pedro, que assegura "aqui repousam seus piedosos membros". Os tempos eram de corrupção desenfreada, grande violência, e absurda crueldade. A mensagem cristã buscava penetrar nos corações bárbaros. Missionários eram enviados para todos os reinos da Europa, tentando levar a boa nova do Evangelho. Os nobres lutavam sujamente pelo poder. Os reis temiam por suas coroas. Os nobres Adalberto de Toscana, Alberico de Espoleto e Adalberto de Ivrea rebelaram-se contra o duque Berengário de Friuli, que reinava no norte da Itália. De novo a guerra fazia sangrar entre os povos em toda a península e além de Roma. O rei Luís III da Provença, correu até a Itália para a pacificar, quebrando com isso uma promessa que fizera ao pontífice que jamais se intrometeria nos assuntos das famílias feudais da Itália. Em meio a esta contenda, venceu a Berengário, tirou-lhe a capital Verona, mas foi aprisionado à traição e teve os olhos vazados por ser perjuro. Voltou à França e passou à História com o nome de Luís, o Cego. Um dos maiores reis que o século X conhecera. A ambição dos príncipes, maus cristãos, favorecia o avançar contínuo dos Sarracenos e as brutais campanhas dos Húngaros, ainda não convertidos, que se transformaram em "flagelo" de metade da Europa. O "desaparecimento" de Cristóvão, segundo narra Eugênio Vulgário, grande cronista e estudioso dos costumes desta época conturbada, não abrandou a ira dos furiosos partidos.
Precedido por Leão V |
Antipapa 903 - 904 |
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