Alta Idade Média
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[editar] Introdução
A forma de divisão da Idade Média em períodos para fins didácticos não é consensual. No entanto, a mais comum é a utilizada pelos medievalistas franceses, entre os quais Jacques Le Goff e Georges Duby. Para estes especialistas, a Alta Idade Média corresponde a um período que vai da queda do Império Romano do Ocidente, em 476, até o ano 1000 – após ao qual inicia a Idade Média Clássica. A Baixa Idade Média corresponde ao século e meio que antecede ao Renascimento, ou seja, 1300 a 1450
[editar] Queda do Império Romano e instalação dos povos germânicos
O período inicia com o desmantelamento progressivo da autoridade romana sobre as diversas províncias que compunham o Império no Ocidente. A vitória dos visigodos sobre o exército romano numa das suas fronteiras a Leste, em 378, marca o início de um período de invasões que se saldaria no fim político do Império. Incapazes de os deter, os romanos atribuem a eles o estatuto de federados, ou seja, aliados; como a paz dura pouco, os visigodos serão instalados na Aquitânia (Sudoeste da actual França) e constituirão, na prática, o primeiro reino germânico. O século V é marcado pela primeira leva de invasões: suevos, alanos e vândalos ultrapassam as fronteiras do Reno em 409, chegando à península Ibérica 30 anos depois. Até final do século, o antigo Império estará totalmente fragmentado em reinos de diversos povos germânicos: visigodos no Sul e Centro da França, suevos no Noroeste da península Ibérica, vândalos no Norte da África, ostrogodos no Norte da península Itálica, burgúndios no centro da Europa. Ao mesmo tempo, anglos, jutos e saxões ocupam as Ilhas Britânicas e os francos iniciam a sua expansão rumo ao actual território belga. Os francos, assim como alamanos, já fazem parte uma segunda leva, muito mais bem-sucedida que a primeira por nunca perderam o contacto com os seus territórios de base.
Para mais detalhes, veja o artigo Império Romano e Migrações dos povos bárbaros
[editar] Características
De forma geral, a Alta Idade Média é caracterizada, em termos de conjuntura política, por movimentos de fragmentação e unidade. Os reinos germânicos desmantelam a unidade imperial, mas ao mesmo tempo são frágeis e de existência efémera. Na península Ibérica, a fragilidade do reino visigótico é testemunhada pela facilidade com o que os muçulmanos tomam conta da quase totalidade da península, em 711. Nas ilhas Britânicas o contexto geral é de lutas entre anglos, saxões, bretões, pictos, escotos e, posteriormente, normandos. Um esboço de unificação só chegará no final do século IX. O único povo a constituir de facto um poder duradouro e efectivo será o franco: estarão na origem do fim do reino visigótico na Aquitãnia (507), e no segundo dos reinos burgúndios (534). Os suevos são destruídos pelos visigodos; vândalos e ostrogodos padecem sob Belisário, general protagonista da reconquista Justiniana - bizantina, o Império Romano do Oriente - do século VI.
Nos séculos VI e VII só a dinastia merovíngia estará no controle de um reino poderoso – dilacerado, no entanto, por lutas intestinas em virtude da tradição de partilhas sucessórias dos povos germânicos. Estas determinam que a herança de um reino é dividida entre todos os filhos, ao invés do mais velho. Isto gerava conflitos e a violência era intermitente.
O século VIII conhecerá, porém, a primeira grande tentativa de reunificação continental sob os carolíngios – particularmente sob Carlos Magno, coroado imperador em 800. O Império Carolíngio englobará nas suas fronteiras quase toda a Europa Ocidental – com excepção da península Ibérica, quase toda sob domínio muçulmano, e das ilhas Britânicas, fragmentada. Fora dos domínios carolíngios fica ainda a Escandinávia.
No século IX esta enorme estrutura, de resto extremamente difícil de administrar, começa pouco a pouco a desmoronar. As partilhas sucessórias são um dos factores da sua fragilidade; a corrosão interna é, no entanto, o principal factor de desagregação. Esta corrosão está na origem dos principados territoriais do século IX: os príncipes deixam de obedecer aos reis, dando origens a territórios menores que administram ao seu bel-prazer. Mas a erosão da autoridade central não fica por aí: a primeira metade do século X conhece o auge da castelania, pequenas células em torno de um senhor onde este tem a chefia militar completa e o poder judicial e económico sobre toda a sua área. O feudalismo está instalado e o fortalecimento do poder central só será visível na Idade Média Clássica (ou Plena) – a partir do século XI.
Estruturalmente, a Alta Idade Média é, grosso modo, caracterizada pela ruralização da sociedade (em oposição a “urbanidade” clássica), por uma economia quase auto-sustentada e de fraco movimento de trocas comerciais, pelo quase desaparecimento da cultura laica e pelo domínio cultural do clero e, por fim, pela enorme expansão da igreja cristã.
Foi também a era de ouro para o povo muçulmano durante a expansão árabe.
O surgimento do Império Bizantino(metade oriental sobrevivente do império romano).
[editar] Fim da Alta Idade Média
Se o ponto de partida para Alta Idade Média é uma data cujos acontecimentos são bastante “palpáveis”, ou seja, a queda do Império Romano do Ocidente, o fim do período se dá, para além de razões puramente didácticas, mais por razões estruturais do que conjunturais. Estas relacionam-se a modificações no poder – o lento aparecimento de um poder central forte – a revitalização do comércio e das cidades, ao qual está ligado um facto social que é o aparecimento da burguesia, a urbanização do poder clerical, especialmente com as ordens mendicantes, a aparição de uma cultura laica longe dos mosteiros, ligada ao surgimento das universidades.
[editar] Bibliografia
Le Goff, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval, Lisboa, Estampa, 1995, 2ªa ed.
Ballard, Genet, Jean-Philippe, Rouche, Michel. A Idade Média no Ocidente, Lisboa, Dom Quixote, 1994.
[editar] Outros pontos de vista
De acordo com o livro "A Idade Média, o nascimento do Ocidente" do Professor de História Medieval Hilário Franco Júnior, com vários livros publicados, seriam quatro fases e se dividiriam assim: Primeira, Alta, Central e Baixa.
Primeira Idade Média - início do IV (a maioria dos escritores considera o final do século V; Henri Pirenne considerava o século VII) ao século VIII
Alta Idade Média - meados do século VIII a fins do século X
Idade Média Central - séculos XI a XIII
Baixa Idade Média - século XIV a meados do século XVI (a maioria dos escritores afirma meados do século XV)
Na língua inglesa, a "High Middle Ages" seria a de 1000 a 1300, o que Hilário chama de Central. Em italiano, o "Alto Medioevo" parece estar de acordo com o tempo de Hilário. Em francês, "Haut Moyen Age" vai do século V ao X. Em alemão, "Hochmittelalter" vai do século XI a meados do XIII, como em inglês.