Forte de Santa Cruz da Horta
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O Forte de Santa Cruz da Horta, também denominado como Castelo de Santa Cruz, localiza-se na cidade e Concelho de Horta, na ilha do Faial (Açores), em Portugal.
Erguido junto ao antigo cais de desembarque, no actual centro histórico da cidade, era a principal fortificação da ilha, cruzando fogos com o Forte do Bom Jesus - à sua esquerda, sobre a praia, próximo à ribeira da Conceição -, e com o Forte de Nossa Senhora da Guia (Forte da Greta), na encosta do monte de Nossa Senhora da Guia, actualmente em ruínas, que defendia o acesso à baía pelo lado sul.
Índice |
[editar] História
[editar] Antecedentes
O estudo para a defesa das ilhas do arquipélago dos Açores, contra os assaltos de piratas e corsários, atraídos pelas riquezas das embarcações que aí aportavam, oriundas da África, da Índia e do Brasil, iniciou-se em meados do século XVI, a cargo do Engenheiro Militar Bartolomeu Ferraz. Em seu relatório para a Coroa Portuguesa, este profissional informou que as ilhas de São Miguel, da Terceira, de São Jorge, do Faial e do Pico estavam mais vulneráveis aos ataques de corsários e de hereges (protestantes ingleses, franceses e neerlandeses), e que os seus portos e vilas necessitavam de melhores condições de segurança. Sob os reinados de D. João III (1521-1557) e de D. Sebastião (1568-1578), foram expedidos novos Regimentos, reformulando o sistema defensivo da região, destacando-se a visita do arquitecto militar italiano Tommaso Benedetto, ao arquipélago, em 1567, para orientar a sua fortificação. Este profissional compreendeu que, vindo o inimigo forçosamente pelo mar, a defesa deveria concentrar-se nos portos e ancoradouros, guarnecidos pelas populações locais sob a responsabilidade dos respectivos concelhos.
[editar] O forte seiscentista
Denominado primitivamente como Forte de Santo António, remonta às providências tomadas durante a regência do Cardeal D. Henrique para a defesa do Arquipélago. Tendo Benedetto visitado a ilha em 1567, esboçou o projecto de construção deste forte, assim como o da criação de uma Companhia de Artilheiros para o guarnecer. Acredita-se que os trabalhos não devam ter se demorado a iniciar, uma vez que uma Provisão Régia datada de 1572 determinou ao director das Obras Públicas, Luís Gonçalves, visitar as ilhas do Faial e de São Jorge para tomar as diligências necessárias à continuação das obras de fortificação destas ilhas, que se encontravam interrompidas. Do mesmo modo, foi organizado o Corpo de Ordenanças e activado o trabalho de fortificação.
[editar] A Dinastia Filipina
Assim como se registrou na Terceira, de acordo com informação do historiador António Macedo (1981), a previsão de um ataque espanhol à Terceira e ilhas a ela subordinadas após a batalha da Salga (1581), conduziu ao reforço do efectivo militar e da fortificação da costa do Faial, reparando-se as defesas existentes e erguendo-se novas fortificações.
Com a sujeição da Terceira em 1583, o Forte de Santa Cruz obstou o desembarque na Horta da armada espanhola sob o comando de D. Pedro de Toledo, levando-o a desembarcar no sítio do Pasteleiro. Após escaramuças, o Capitão-mor do Faial, António Guedes de Sousa, foi executado às portas do forte.
Tendo a guarnição espanhola aí deixada após a conquista sido recolhida à Terceira, a pedido dos habitantes da Horta que se queixavam de que a não podiam sustentar nem alojar, que haviam se oferecido para a defesa da ilha, em 6 de Setembro de 1589 uma armada inglesa, sob o comando de Sir George Clifford, conde de Cumberland, chegou à ilha, onde apresou uma nau da Índia e outras sete embarcações no porto e atacou a vila, que foi saqueada após a fuga da população para o interior da ilha. Quando conquistaram o forte este era defendido por apenas sete soldados, o vigário e os capitães Gaspar Dutra, Tomás Porrás, Domingos Fernandes e João Francisco. Os corsários levaram todas as peças de artilharia que encontram na ilha - excepto duas que não viram em Porto Pim, e incendiaram as edificações de serviço no Forte de Santa Cruz. (Carta do Capitão-mor Gaspar Gonçalves Dutra in: Arquivo dos Açores (v. 2), p. 304).
Reparado, mas insuficientemente artilhado, pouco pode fazer além de afastar o desembarque para longe do seu fogo quando anos mais tarde, em Agosto de 1597, Sir Walter Raleigh, da armada sob o comando de Robert Devereux, 2º conde de Essex, saqueou e incendiou a Horta.
[editar] Da Restauração da Independência Portuguesa aos nossos dias
A partir de 1650 e até finais da segunda década do século XX, o forte serviu como quartel da tropa de linha da guarnição da Horta. Uma inscrição epigráfica no seu Portão de Armas informa:
- "Este corpo de guarda e mais obra se fês em 9bro de 1709 – á ordem de Ant.o do Couto Castel-B.co – Cavall.o prof.o na ordem de XP.to – e Com.dor do Secho amarélo – Na ordem de S. Bento de Avis – Alcade mór de S. Tiago de Casem. – Na ordem de S. Iago da Espada. – S.or de 4 morgados, sendo um o de seu apelido de que é Xéfe – M.tre de campo que foi d'infant.ia – e Gov.or das cidades de Placencia & Salamanca em Castella a velha – & Campilho d’Altigoi da Mancha em Castella a nova. – A Praça de Bocayrente em o Reyno de Valença, - Brigadier nos exercitos de Portugal, a cujo cargo esta a inspectaçam d'estas ilhas dos Assores por Sua Magestade que Ds. G.de."
Em 1825 no contexto das Guerras Liberais, foi tomado pelas forças leais a D. Pedro IV.
O imóvel do forte foi cedido à Câmara Municipal da Horta em 1927, para ser demolido, permitindo com isso o prolongamento de uma avenida marginal que se projectava para a frente da cidade. A falta de recursos, entretanto, impediu a implantação do projecto.
Encontra-se classificado como Monumento Nacional pelo Decreto nº 36.383, de 28 de Junho de 1947, tendo sido requalificado como pousada, com projecto da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), com a construção de um edifício em seu terrapleno que descaracterizou o conjunto. Do sistema defensivo original apenas restam as muralhas exteriores.
[editar] Características
O forte ocupa uma área de 36,5 decâmetros quadrados. O seu alçado pelo lado de terra é abaluartado, em cantaria; pelo lado do mar foi aproveitada uma restinga que lhe serviu como alicerce, apresentando a forma de um redente flanqueado, erguido em alvenaria grossa semi-facetada. As muralhas a norte e a sul foram erguidas em cantaria.
Contava com vinte e uma peças de artilharia na bateria baixa ou rasante. As muralhas eram providas de banquetas para a fuzilaria.
Possuía, no plano inferior e no corpo abaluartado voltado para terra, as dependências de serviço: Casa do Comando, Quartel da Tropa, Paiol, Armazéns, Calabouço, Cozinha e Capela, esta última sob a invocação de Santo António.
[editar] Bibliografia
- BARREIRA, C. G.. Um Olhar sobre a Cidade da Horta. Horta (Açores): Núcleo Cultural da Horta, 1995.
- BASTOS, Barão de. Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que devem ser conservados para defeza permanente (Arquivo Histórico Militar). Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. LV, 1997.
- CARITA, Rui. Arquitectura Militar nos Açores: ilha do Faial: iconografia e informação dos Arquivos Militares. In: O Faial e a Periferia Açoriana nos Séculos XV a XIX. Horta (Açores): Núcleo Cultural da Horta, 1995. p. 161-173.
- FARIA, Manuel. Tombos dos Fortes da Ilha do Faial. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. LVI, 1998. p. 91-133.
- FERREIRA, A. M. P.. Ingleses atacam o Faial. In: O Faial e a Periferia Açoriana nos Séculos XV a XIX. Horta (Açores): Núcleo Cultural da Horta, 1995. p. 109-113.
- GOULART, O.. Monografia do Castelo de Santa Cruz da Cidade da Horta. Horta (Açores): Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 1, 2, 1957. p. 169-182.
- LIMA, Marcelino de. História da Ilha do Faial. Famelicão, 1940.
- LINSCHOTEN, J. H.. Itinerário, Viagens ou Navegação para as Índias Orientais ou Portuguesa. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997. p. 343.
- MACEDO, António Lourenço da Silveira. História das Quatro Ilhas Que Formam o Distrito da Horta [Reimp. fac-simil. da ed. de 1871]. Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Cultura, I-II, 1981.
- MACHADO, Francisco Xavier. Revista aos Fortes das Ilhas do Faial e Pico (Arquivo Histórico Ultramarino). Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. LVI, 1998.
- NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Arthur Teodoro de (coord.). Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. L, 1992.
- PEGO, Damião. Tombos dos Fortes das Ilhas do Faial, São Jorge e Graciosa (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército). Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. LVI, 1998.
- VIEIRA, Alberto. Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. XLV, Tomo II, 1987.
- WESTON, F. S.. A Incursão inglesa de 1589. Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 6, 2 e 3: 1975-1979. p. 107-111.
[editar] Ver também
[editar] Ligações externas
- (pt) Fortes do Faial no IHIT
- (pt) Verbete sobre o Forte de Santa Cruz da Horta na Enciclopédia Açoriana