Dialeto caipira
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O dialeto caipira é um dialeto da língua portuguesa falado pelo caipira no interior do estado de São Paulo, incialmente na Mesorregião do Vale do Paraíba Paulista, e em parte dos estados do Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás no Brasil. Difere acentuadamente do idioma padrão brasileiro em sua estrutura fonológica, sendo algumas características "r aproximante alveolar", a ausência de consoantes laterais palatais (lh), que são permutadas pela semivogal "i", a permutação do "l" de fim de sílaba por r, a ausência dos ditongos "ei" e "ou" (substituídos por "e" e "o"), a apócope ou síncope em palavras proparoxítonas e a aférese em muitas palavras. Possui numerosas expressões próprias, e, ao contrário do que acontece com a língua padrão do Brasil e de Portugal, o plural só é indicado em um substantivo ou adjetivo quando este não é determinado por um artigo, ex.: singular: casa; plural: casas; singular: a casa branca, plural: as casa branca.
Índice |
[editar] Dialetos
Possui morfologia e sintaxes próprias. Pode ser dividido em quatro subdialetos:
- O primeiro, falado na região sul do estado de São Paulo (região de Sorocaba e Vale do Ribeira), caracteriza-se pela marcação do "e" gráfico sempre pronunciado como fônico. Assim, palavras como "quente" e "dente" possuem o "e" átono pronunciado como /e/ e não como /i/, comum no português padrão do Brasil. Essa é também uma característica do português falado na região de Santa Catarina, Paraná e no Rio Grande do Sul.
- O segundo subdialeto é das regiões do Alto Tietê (Jundiaí, Campinas, Piracicaba, Santa Bárbara d'Oeste, Americana, Limeira, Rio Claro, Jaú, São Carlos, Araraquara) e do Vale do Paraíba (São José dos Campos, Taubaté, Guaratinguetá). Caracteriza-se pelos erres retroflexos inclusive em início de sílaba (como em caro, parada) e em dígrafos (frente, crente). Caracteriza-se também pela não-palatalização dos grupos "di" e "ti" fônicos.
- O terceiro subdialeto compreende as regiões norte e noroeste (Ribeirão Preto, São José do Rio Preto) e oeste (Araçatuba, Presidente Prudente, Bauru, Marília) do estado de São Paulo, além de parte do estado do Paraná e do Mato Grosso do Sul. Caracteriza-se pelos erres retroflexos só em corda vocálica (final de sílabas), tais como em "porta", "certo", "aberto" e palatização dos grupos "di" e "ti" fônicos.
- O quarto grupo corresponde o Triângulo Mineiro e estado de Goiás. Compreende um subfalar com pronúncia tais como o grupo três e com ritmo típico do dialeto mineiro, com elevação do tom nas sílabas tônicas.
[editar] Algumas diferenças entre a fala caipira e a norma culta
norma culta | dialeto caipira |
---|---|
nós (Pronome pessoal) | nóis, nói |
alfinete | arfinêti, arfinête |
falso | fársu |
melhor | mió, miór |
pior | pió |
os calmantes | us carmânti |
alvorecer | arvorecê |
você | ocê, cê |
nós fomos | nói fumo, nóis fumo |
nós voltamos | nói vortêmu, nóis vortêmu |
Corinthians, Palmeiras (clubes) | Curíntia, Parmêra |
cigarro de palha | cigárru di paia, picadão |
fósforo | fósfiro, fosfro, forfro, fórfi |
mulher, homem | muié, ómi |
depois do almoço | pô d'armôçu |
bom | bão |
filho, filha | fiu, fia |
fígado | fígu, figo |
olho | zóiu, Ôi |
molho | môiu |
telha | têia |
velha | véia |
comadre, compadre | cumádi, cumpádi |
eles | êis, ês |
de você | d'ocê |
claro | cráru |
problema | pobrema |
[editar] Morfologia
[editar] Artigos
- Definido: u, a, uz, us, az, as
- Indefinido: um, uma, unz, uns, umaz, umas
No dialeto caipira, é o artigo que determina o número, permanecendo o substantivo inalterado.
Os artigos no plural variam de acordo com a fonética, porém, ainda sem regra estabelecida. Ex: az muié (as mulheres), uz ómi (os homens), as coisa (as coisas), us prímu (os primos) etc.
[editar] Verbos
- No dialeto caipira, o verbo não é flexionado como acontece na norma culta -- onde se obedece à concordância numérica -- mas fica sempre no singular.
Exemplo Verbo SER = SÊ : eu sô, (o)cê é, ele é, nóis é, cêis é, êis é
- O mesmo se dá com o verbo IR = I (e, praticamente, com todos os verbos mais usados).
Exemplo: eu vô, (o)cê vai, ele vai, nói(s) vai, cêis vai, êis vai
[editar] Ver também
- O Dialeto Caipira de 1920 - Livro Completo
- Língua geral paulista
- Interior de São Paulo
- Dialeto paulistano
- Dialeto fluminense
- Biografia de Amadeu Amaral e o estudo do linguajar caipira na área do Vale Paraíba Paulista
[editar] Referências
- AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. São Paulo: HUCITEC, 1976.