Cónios
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Os cónios (Latim Conii) eram os habitantes das actuais regiões do Algarve e Baixo Alentejo, no sul de Portugal, em data anterior ao séc. VIII a.C., até serem integrados na Província Romana da Lusitânia. Inicialmente foram aliados dos Romanos quando estes últimos pretendiam dominar a Península Ibérica.
Índice |
[editar] Origem
A origem étnica dos cónios permanece uma incógnita. Para os defensores das teorias linguísticas actualmente aceites, a origem comum na Anatólia ou no Cáucaso das línguas europeias e indianas: ou seja, línguas indo-europeias, os cónios teriam origem celta, proto-celta, ou pré-céltica ibérica.
Essas teorias, relativamente recentes, foram aceites com facilidade, em grande parte por aqueles que rejeitavam qualquer ligação dos europeus a África.
Antes da teoria da origem caucasiana, muitos europeus julgavam-se descendentes de Jafé, conforme escrito na Bíblia, no livro de Génesis 10:5. Cronistas da antiguidade greco-romana enumeram mais de 40 tribos ibéricas, entre elas a tribo cónia, como sendo descendentes de Jafé, pai dos europeus.[1]
[editar] História
Antes do sec. VIII a.C., a zona de influência cónia, segundo estudo de caracterização paleoetnológico da região[2], abrangeria muito para além do sul de Portugal. Com efeito, o referido estudo baseando-se em textos da antiguidade grego-romana bem como na toponimia de Coimbra del Barranco, em Murcia, Espanha, e de Conimbriga , propõe que os cónios ocuparam uma região desde o centro de Portugal até ao Algarve e todo o sul de Espanha até Murcia. Em abono desta tese podemos acrescentar o Alto de Conio, e o pico de Conio no municipio de Ronda, na região autónoma da Andaluzia.
Segundo Schulten, que considera os cónios uma das tribos ligures e afirmou que «Os Ligures são o povo original da Peninsula», os cónios também teriam marcado presença, não só em Portugal como em Espanha e na Europa, onde os ligures se fixaram. Confirmando esta teoria temos os seguintes topónimos:
- No norte de Espanha, encontramos o desfiladeiro, Puerto de Conio e o alto de Conio na região autónoma das Astúrias, onde terão habitado a tribo dos coniscos, descendentes dos construtores do dolmen de Pradías, de época neolítica, para muitos relacionada com os cónios. Nesta região terá existido uma cidade, actualmente desconhecida, incluída num dos Caminhos de Santiago; Asseconia. Também, estudos genéticos indicam que os bascos são o povo mais antigo da península e poderão estar relacionados com os cónios através da tribo dos vascones.
- Na França , os ligures também terão sido "empurrados" para as regiões montanhosas. Mas, em vez da Ronda espanhola ocuparam a região do Ródano-Alpes. O testemunho da presença ligure poderá ser a tribo iconii, conhecidos pelas tribos vizinhas como os Oingt, originando a localidade de Oingt (Iconium em latim) e a região de Oisans.
- No norte de Itália, junto ao Ródano italiano a marca da presença ligure dos cónios, para além da Ligúria também nos aparece, um pouco mais a norte, não só nas comunas Coniolo e Cónio, como na provincia com o mesmo nome, na província de Cónio, da região de Piemonte.
Para outros investigadores[3] que terão ido mais longe, os povos “Ibéricos” além de possuírem a Península Ibérica, França, Itália e as Ilhas Britânicas, penetram na península dos Balcãs, e ocuparam uma parte de África, Córsega e norte da Sardenha. Actualmente, e à luz de recentes estudos genéticos, aceita-se que uma raça com características razoavelmente uniformes ocupou o sul de França (ou pelo menos a Aquitânia), toda a península Ibérica e uma parte de África do norte e da Córsega. Os topónimos a seguir enumerados também atestam estes dados:
- Nas Ilhas Britânicas o assentamento fortificado romano Viroconium, atribuido á tribo cornovii, proveniente da Cornualha. Provavelmente, utilizados pelos romanos como tribo tampão contra os ataques escoceses e incursões irlandesas.
- Muitos autores concordam que a lingua cónia teria um substrato muito antigo relacionado com Osco, Latim e Ilirico.
- No Chipre encontramos uma localidade com o topónimo Konia
- Nos Balcãs encontramos a tribo dos trácios cicones que poderão estar relacionados com os cónios e com os povos que invadiram a anatólia, no sec. XII a. C. e posteriormente fundaram as cidades de Conni, na Frígia e de Iconium[4], na Anatólia.
[editar] Escrita
No Baixo Alentejo e Algarve foram descobertos vários vestígios arqueológicos que testemunham a existência de uma civilização detentora de escrita, adoptada antes da chegada dos fenícios,[5] e que se teria desenvolvido entre o século VIII e o V a.C. A escrita que está presente nas lápides sepulcrais desta civilização e nas moedas de Salatia (Alcácer do Sal) e é datável na Primeira idade do Ferro, surgindo no sul de Portugal e estendendo-se até à zona de fronteira.[6]
As estelas mais antigas recuam até ao século VII a.C. e as mais recentes pertencem ao século IV. O período áureo desta civilização coincidiu com o florescimento do reino de Tartessos, algo a que não deverá ser alheio a intensa relação comercial e cultural existente entre os dois povos e que também teve uma escrita, que ao contrário do que sucede com a dos cónios, é hoje conhecida nas suas linhas gerais.
Não é consensual a designação da primeira escrita na peninsula ibérica. Para muitos historiadores é a escrita do sudoeste (SO) ou sud-lusitana. Já os linguístas, utilizam as designações de escrita tartessica ou turdetana. Outros concordam com a designação de escrita cónia, por não estar limitada geograficamente, mas relacionada com o povo e a cultura que criou essa escrita. E, segundo Leite de Vascocelos com os nomes konii e Konni [2], que aparecem inscritos em várias estelas.
A posição destes estudiosos deve-se á concordância das teorias-hipoteses históricas e modelos linguísticos actualmente aceites nos meios cientificos. Estas posições baseiam-se em evidências linguísticas. Só que até á data não foram encontrados dados arqueologicos evidentes, daí que investigadores duvidem da existência dos cónios, [3] outros negam a existência de celtas na península apesar das fontes antigas e das evidencias arqueológicas[7].
[editar] Cidade Principal
A cidade principal do país dos cónios era Conistorgis, que em língua cónia, significaria "Cidade Real",[8] de acordo com Estrabão, que considerava a região celta. Foi destruída pelos lusitanos, por estes terem-se aliado aos romanos durante a conquista romana da Península Ibérica. A localização exacta desta cidade ainda não foi descoberta. No entanto, em Beja ,[9] existem vestígios do que poderá ter sido uma grande cidade pré-roma. São muitos os autores[10] que admitem a possibilidade de Beja ter sido fundada sobre as ruínas da famosa Conistorgis.
[editar] Religião
Aparentemente, antes da chegada dos romanos, os cónios eram monoteístas. O deus dos Cónios era Elohim, segundo uma estela que se encontra presentemente no Museu de Évora.
O Sudoeste na Idade do Ferro, desde o séc. VI a.C., apresenta um complexo de influências religiosas tartéssicas, gaditanas (bastante helenizadas) e célticas ou pré-celticas, correspondente a uma zona de grandes interacções culturais e movimentos de populações.
[editar] Notas
- ↑ Cronografo, 354 d.C. Líber generationis mundi I;82-83 d) THA-IIB; p.877
- ↑ Dr. Manuel Maria da Fonseca Andrade Maia (Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia [1], Faculdade de Letras de Lisboa, 1987)
- ↑ Arbois de Jubainville, (Les Premiers habitants de l'Europe, Paris, 1877)
- ↑ Dictionnaire de géographie ancienne © 2002
- ↑ IREA - Escritura en el so de la Peninsula Iberica
- ↑ Moedas de Salatia
- ↑ Bosch Gimpera, Almagro Basch, e-keltoi-vol-6
- ↑ "No país Celta, Conistorgis é a cidade mais conhecida" (Estrabão, III, 2,2).
- ↑ A cidade romana de Beja,2003, Maria Conceição Lopes, Instituto de Arqueologia, Faculdade de Letras
- ↑ Ensaio Monografico de Beja, 1973, Manuel Joaquim Delgado e Beja XX Séculos de História de Uma Cidade,
[editar] Referências
- Mattoso, José (dir.), História de Portugal. Primeiro Volume: Antes de Portugal, Lisboa, Círculo de Leitores, 1992. (em Português )
- Berrocal-Rangel, Luis (2005). "The Celts of the Southwestern Iberian Peninsula". e-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies 6: 481-96.
- Júdice Gamito, Teresa (2005). "The Celts in Portugal". e-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies 6: 571-605.
- Estrabão, Geographia, III, 2, 2.
- Muñoz, Mauricio Pasto: Viriato, A Luta pela Liberdade, Ésquilo, 2003 (third edition; ISBN 9728605234).