Romance
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O Romance é o gênero mais conhecido da literatura. Herdeiro da epopéia, é tipicamente um gênero do modo narrativo, assim como a novela e o conto.
A diferença entre romance e novela não é clara, mas costuma-se definir que no romance há um paralelo de várias ações, enquanto na novela há uma concatenação de ações individualizadas. No romance uma personagem pode surgir em meio a história e desaparecer depois de cumprir sua função. Outra distinção importante é que no romance o final é um enfraquecimento de uma combinação e ligação de elementos heterogêneos, não o clímax.
Há de notar que o romance tornou-se gênero preferencial a partir do Romantismo, por isso ficando o termo romance associado a estes. Entretanto o realismo teria no romance sua base fundamental, pois apenas este permitia a minúcia descritiva, que exporia os problemas sociais.
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[editar] História
[editar] Surgimento
Considera-se que o romance nasceu no início do século XVII, sendo o precursor deste gênero o Dom Quixote de La Mancha. Na tentativa de parodiar a novela de cavalaria, Miguel de Cervantes não só escreveu um dos grandes clássicos da literatura, como ajudou a firmar as pernas daquele que viria substituir a epopéia, gênero que agonizava e desapareceria no século XVIII, com o advento da era industrial. O romance é, portanto, a epopéia burguesa moderna, segundo Hegel.
[editar] Modernidade
O romance chega à modernidade com Balzac e à plenitude com Proust, Joyce, Faulkner. A partir destes últimos a ordem cronológica é desfeita: passado, presente e futuro são fundidos.
A partir de meados deste século intensifica-se a discussão em torno de uma provável crise do romance, sua possível morte. Essa morte teria ocorrido por volta dos anos 50: Na França Alain Robbe-Grillet, Claude Simon, Robert Pinget, Nathalie Sarraute, Marguerite Duras, Michel Butor, entre outros, rejeitam o conceito de romance cuja função é contar uma história e delinear personagens conforme as convenções realistas do século XIX; transgridem também outros valores do romance tradicional: tempo, espaço, ação, repúdio à noção de verossimilhança etc. Sartre diz que ao destruírem o romance, esses escritores, na verdade, estão renovando-o, principalmente com a influência do cinema. É o noveau roman sacudindo as bases tradicionais da literatura.
Em 1936 os Estados Unidos viviam a época clássica do cinema falado. Antes de ser influenciado pelo cinema, o romance influenciou-o; ao ponto de, nas décadas de 30 e 40, a indústria cinematográfica ter privilegiado os filmes narrativos e grandes romancistas terem sido contratados pelos estúdios para escreverem roteiros. Mesmo assim em 1936 Scott Fitzgerald escrevia: "vi que o romance, que na minha maturidade era o meio mais forte e flexível de transmitir pensamento e emoção de um ser humano para outro, estava ficando subordinado a uma arte mecânica... só tinha condições de refletir os pensamentos mais batidos, as emoções mais óbvias. Era uma arte em que as palavras eram subordinadas às imagens..." Fitzgerald foi o primeiro escritor a perceber que o romance estava sendo suplantado pelo cinema, mas continuou acreditando que, como arte, o romance sempre seria superior. Antes disso, na década de 20, com a publicação do Ulisses, passou-se a afirmar que o livro de Joyce era o ápice do romance, que depois dele o romancista deveria ater-se ao mínimo, outros diziam que Ulisses era a paródia final do romance, como quem assina embaixo da frase de Kierkegaard: Toda fase histórica termina com a paródia de si mesma.
No Brasil os anos 50 foram férteis: 1956, por exemplo, é considerado um dos grandes marcos literários do país; foram publicados naquele ano O encontro marcado, de Fernando Sabino; Doramundo, de Geraldo Ferraz; Vila dos Confins, de Mário Palmério e Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Ainda desta década é Gabriela, Cravo e Canela (58), de Jorge Amado. A trilogia O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, teve seu primeiro volume, O continente, publicado em 49 e O retrato em 51.
[editar] Crise do Romance
A verdade é que já em 1880 falava-se em crise do romance. Naquele ano foi feito na França uma enquete sobre o assunto e Jules Renard disse que o romance havia morrido. E quem estava em atividade naquela época? Zola, André Gide, Valéry; mais adiante surgiriam Proust, Joyce, Kafka, Robert Musil, Machado de Assis... Numa entrevista, Gabriel Garcia-Márquez reitera sua crença no gênero: "se você diz que o romance está morto, não é o romance, é você que está morto".
Justamente quando se discutia se os recursos do romance estariam realmente esgotados, se seus dias estavam mesmo contados, surge o que ficou conhecido como o boom da literatura latino-americana: Julio Cortázar, Vargas Llosa, Gabriel Garcia-Márquez, Carlos Fuentes, Cabrera Infante, Miguel Ángel Asturias, Alejo Carpentier etc. Era o descobrimento do realismo mágico.
Na verdade o romance sempre esteve ameaçado. Ele mesmo um dos filhos da revolução industrial, se viu diante da concorrência de outros irmãos: o desenvolvimento do jornalismo, o cinema, o rádio, a TV; e mais recentemente os computadores, a Internet etc. O que se tem visto, no entanto, são os rivais se transformarem em aliados do romance: a imprensa escrita veio influenciar e divulgar a literatura, com o cinema a mesma coisa acontece. A Internet também vem se transformando numa divulgadora da literatura.
Em Repertório, Michel Butor diz que o romance é o laboratório da narrativa. E não há espaço mais propício para se fazer novas experiências do que um laboratório. Uma literatura que pretende representar o mundo só o fará se acompanhar as mudanças desse mundo. É preciso, então, mudar a própria noção de romance.
Esse laboratório da narrativa vem ao encontro das relações atuais do romance com as transformações cada vez mais dinâmicas da sociedade contemporânea. O que morre no romance é a antiga estrutura que é necessariamente marcada pela coerência interna da qual se espera extrair o sentido da narrativa. A crença em alcançar significados coerentes é que está em crise. A sociedade atual assiste ao fim das ideologias e à falência tanto da sociedade burguesa quanto da socialista. O romance clássico representa a falácia de um estilo de pensamento ultrapassado pela racionalidade histórica pós moderna.
[editar] Metamorfose do Romance
Que a palavra romance se desgastou ao ponto de se criar preconceitos em torno dela, isso não se discute. Há pessoas, por exemplo, que acreditam que o fato de não lerem romances é um sintoma de intelectualidade. Na maioria das vezes, entretanto, quando se diz eu não leio romance está-se querendo dizer eu não leio prosa de ficção. Assim o preconceito se espalha para a literatura em geral.
Outra coisa indiscutível é o fato de o romance não ocupar mais o mesmo espaço que ocupou até o início deste século. Michel Butor diz que é preciso compreender que toda invenção literária, hoje em dia, produz-se no interior de um ambiente já saturado de literatura. Para Henry James o romancista é alguém para quem nada está perdido. Para Mishima a literatura é uma flor imperecível. Para Barthes a única verdadeira crise do romance acontece quando o escritor repete o que já foi dito ou quando deixa de escrever.
[editar] Grandes romances da literatura mundial
- 1600: Dom Quixote, de Miguel de Cervantes
- 1726: As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift
- 1760: Tristram Shandy, Laurence Sterne
- 1762: Nouvelle Héloïse, de Jean-Jacques Rousseau
- 1774: Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe
- 1796: Jacques o Fatalista, de Denis Diderot
- 1813: Orgulho e preconceito, de Jane Austen
- 1819: Ivanhoé, de Walter Scott
- 1830: O vermelho e o negro, de Stendhal
- 1836: A voz do profeta, de Alexandre Herculano
- 1851: Moby Dick, de Herman Melville
- 1861: Grandes esperanças, de Charles Dickens
- 1862: Os miseráveis, de Victor Hugo
- 1865: O jogador, de Dostoiévski
- 1866: Crime e castigo, de Dostoiévski
- 1877: Anna Karenina, de Leon Tolstoi
- 1881: Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
- 1888: Os Maias, de Eça de Queiroz
- 1889: Dom Casmurro, de Machado de Assis
- 1912: O Bravo Soldado Chveik, de Jaroslav Hasek
- 1938: Vidas secas, de Graciliano Ramos
- 1949: 1984, de George Orwell
- 1955: Lolita, de Vladimir Nabokov
- 1956: Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
- 1967: Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez
- 1983: A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera
- 1991: O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago
- 1995: Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago
[editar] Ver também
[editar] Fontes
- Os subúrbios da criação,Flávio M. da Costa
- Letras francesas: teoria do novo romance in De fato e de ficção, Gore Vidal
- Dicionário de termos literários, Massaud Moisés
- Dez grandes escritores, W.H. Auden
- Repertório, Michel Butor
- Quem faz cinema? in De fato e de ficção, Gore Vidal
- Os escritores e seus fantasmas, Ernesto Sábato
- A era da suspeita, Nathalie Sarraut
- Romance hispano-americano, Bella Jozef
- A ascensão do romance, Ian Watt
- Aspectos do romance, E.M. Forster
- O desafio da criação, Julieta de Godoy Ladeira
- O livro dos insultos de H.L. Mencken, H.L. Mencken.