História do Rio Grande do Sul
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A história do Rio Grande do Sul abrange um período de cerca de cinco séculos. Remonta aos tempos do descobrimento do Brasil, e transcorreu em meio a diversos conflitos externos e internos.
Índice |
[editar] Antecedentes da ocupação do território
O território que hoje constitui o Rio Grande do Sul já constava nos mapas portugueses, sob o nome de Capitania d'El-Rei, desde o século XVI. A despeito do Tratado de Tordesilhas, que definia o fim das terras portuguesas na altura de Laguna, Portugal ansiava por estender seus domínios até a foz do Rio da Prata. Nesse espírito, ignorando os tratados, em 17 de julho de 1674, através de Carta Régia, Portugal delimitou duas capitanias no sul, que em conjunto se estendiam de Laguna até o Rio da Prata, doadas ao Visconde de Asseca e a João Correia de Sá.
Em 22 de novembro de 1676 a bula papal Romani Pontificis Pastoralis Solicitudo veio fortalecer as pretensões portuguesas, pois ao criar o bispado do Rio de Janeiro, estabelecia como seus limites desde a costa e sertão da Capitania do Espírito Santo até o Rio da Prata. Logo em seguida passou-se a cogitar seriamente na ocupação das terras do sul, legalmente espanholas.
[editar] Ocupação do litoral
Uma primeira expedição de conquista, organizada em 1677, malogrou. Outra, de 1680, sob comando de Dom Manuel Lobo, conseguiu arribar no Prata em janeiro do ano seguinte, fundando a Colônia do Sacramento, com um presídio e os primeiros abrigos para os colonos. A Espanha, nesta altura fragilizada por guerras contra a França, apesar de atacar a Colônia, não esboçou uma reação mais séria à expansão portuguesa, e em 1681 estabeleceu-se o Tratado Provisional, delimitando novas fronteiras na região e reconhecendo a soberania portuguesa sobre a margem esquerda do Rio da Prata.
Com o incentivo do estabelecimento deste posto avançado, os portugueses passaram a se interessar pela ocupação das terras intermediárias entre o Sacramento e a Capitania de São Vicente. Em 1737 uma expedição militar portuguesa, comandada pelo Brigadeiro José da Silva Pais, foi incumbida de prestar socorro à Colônia, tomar Montevidéu e levantar um forte em Maldonado. Fracassada esta última empresa, o Brigadeiro decidiu instalar uma povoação mais ao norte, livre das constantes disputas entre portugueses e espanhóis. Destarte, navegou até a barra da Lagoa dos Patos, erroneamente tomada como um rio, o Rio Grande, e ali chegando em 19 de fevereiro de 1738, fundou um presídio e ergueu o Forte Jesus, Maria e José, constituindo a origem da cidade de Rio Grande, primeiro centro de governo da região. O local era um ponto estratégico para a defesa do território, estando a meio caminho entre Laguna e a Colônia do Sacramento. As primeiras famílias colonizadoras chegariam ali ainda neste ano, mas o trecho entre Rio Grande e Tramandaí também estava sendo povoado independentemente, sendo que já em 1734 se contavam 27 grandes estâncias na área.
[editar] Primeira ocupação do interior
Em 1742, os portugueses fundaram a povoação que, depois de Viamão, viria a ser a capital do estado: Porto Alegre. No final desta década começaram a chegar casais açorianos com destino a Rio Grande. Grupos maiores chegaram em 1752, também fixando-se no local, e outros avançaram para o norte, estabelecendo-se no Porto dos Casais, reunindo-se à escassa população que ali já vivia. Em 9 de setembro de 1760 o Rio Grande de São Pedro foi elevado a Capitania, ficando porém subalterna à Capitania do Rio de Janeiro.
Entrementes, na parte noroeste do estado, os jesuítas espanhóis haviam estabelecido missões próximas ao Rio Uruguai, incluindo a região dos Sete Povos das Missões. Um novo acordo entre as coroas ibéricas, o Tratado de Madrid, haveria de mudar mais uma vez as fronteiras. Através deste tratado, firmado em 13 de janeiro de 1750, estabeleceu-se a permuta da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos, cujas populações indígenas seriam transferidas para a área espanhola.
A demarcação das novas fronteiras e a mudança dos povos reduzidos não transcorreram sem dificuldades. Os jesuítas e os índios protestaram, esperava-se confronto, e o Marquês de Pombal ordenou que o legado português, o capitão-general Gomes Freire de Andrade, não entregasse Sacramento sem que antes tivesse recebido os Sete Povos. A situação se agravou e o conflito esperado eclodiu em Rio Pardo, originando a chamada Guerra Guaranítica, que provocaria a suspensão temporária dos efeitos do Tratado de Madrid e sua posterior anulação definitiva em 1761. Um outro tratado, o de Santo Ildefonso, de 1777, mais uma vez retificaria as fronteiras e estabeleceria desta vez como posse espanhola tanto Sacramento como os Sete Povos.
[editar] Século XIX
Contudo nem este tratado seria respeitado, e as lutas pela posse das terras, entre portugueses e espanhóis, tiveram fim somente em 1801, quando os gaúchos dominaram os Sete Povos, incorporando-os ao seu território. Em 19 de setembro de 1807, a Capitania foi elevada a Capitania Geral.
Depois da Guerra contra Artigas, da Guerra Cisplatina e da Revolução Farroupilha, estabelecidas em linhas gerais as fronteiras e conquistada maior autonomia administrativa, o governo local passou a cuidar do povoamento e desenvolvimento da região, buscando também sedimentar as fronteiras. Grupos de imigrantes alemães começaram a chegar a partir de 1824 e de imigrantes italianos após 1875, ocupando respectivamente o centro-leste e o nordeste do estado, e contribuindo de forma decisiva para o futuro progresso do Rio Grande do Sul.
O Rio Grande do Sul, em meados de 1880, apresentava uma economia de caráter fundamentalmente agropecuário, dividida em duas matrizes sócio-econômicas: a atividade ligada à pecuária e ao charque na região da Campanha (sul do estado) e a agricultura e o artesanato colonial na Serra (norte do estado). Contudo, a produção de ambas matrizes dirigia-se para um destino comum: abastecer o mercado interno brasileiro de alimentos, dando ao Rio Grande do Sul a famosa denominação de “celeiro do Brasil”.
O estado estava integrado assim em uma divisão regional do trabalho do Brasil: como estado periférico, produzia alimentos e matérias-primas (como o couro) para a atividade agroexportadora no Brasil central. Como o estado produzia bens de baixo valor em um mercado altamente competitivo, a acumulação de capital era relativamente mais baixa no Rio Grande do que no resto do Brasil.
Contudo, o setor mais progressista da economia rio-grandense daquela época já se tornava a agricultura colonial, a qual apresentava um grande potencial de capitalização, incentivando assim o desenvolvimento das atividades comerciais e industriais no estado.
[editar] Século XX
A economia gaúcha na República Velha não apresentou uma brusca ruptura em relação às suas características no período do Império. Isto é, o Rio Grande do Sul continuou inserido na divisão regional do trabalho, na economia brasileira: se encarregava primordialmente de abastecer o mercado interno nacional, com especial atenção à região agroexportadora cafeeira, de bens de base primária, como o charque, produtos agrícolas coloniais e o couro, usados como alimentos e matérias-primas.
Porém, o crescimento econômico estadual enfrentava barreiras muito restritivas nessa época: do lado da pecuária, por essa atividade ter sido explorada de maneira meramente extensiva, o crescimento era limitado pela expansão de apenas dois fatores – terra e gado – os quais, por serem mas específicos do que fatores produtivos como capital e mão-de-obra, eram relativamente mais escassos. Do lado da agricultura, mas afetando também a pecuária, o crescimento da produção rio-grandense estava vinculado à expansão da demanda interna brasileira por bens primários, sendo por isso limitado às necessidades do mercado interno brasileiro.
[editar] Guerras
O estado esteve, de forma praticamente contínua, envolvido em guerras por mais de um século, primeiro contra a Espanha, depois contra os vizinhos Argentina, Uruguai e Paraguai, aos mesmo tempo que se desenvolviam várias revoltas internas.
Começada na Guerra Guaranítica, a lutas pela posse das terras, entre portugueses e espanhóis, teve fim em 1801, quando conquistado os Sete Povos das Missões. Depois houve a Guerra contra Artigas (1816-1820), quando a República Oriental foi conquistada. Seguida da Guerra Cisplatina (1825–1828) quando o Uruguai obteve sua independência.
A primeira revolta federalista foi a Guerra dos Farrapos (1835-1845). Logo seguida de outro conflito com os vizinhos argentinos e uruguaios, na Guerra contra Oribe e Rosas (1851-1852), depois a Guerra contra Aguirre (1864), desembocando na Guerra do Paraguai (1864-1870).
Depois da estabilização internacional, houve ainda um conflito religioso, a Revolta dos Muckers e após quase duas décadas de paz, as disputas políticas locais novamente se acirraram, no início da República, com a Revolução Federalista, contra Júlio Prates de Castilhos (1893-1895) e a Revolução de 1923, contra Borges de Medeiros. Somente no governo de Getúlio Vargas (1928) o estado foi pacificado.
[editar] Ver também
[editar] Referências
- Flores, Moacyr . Guerras e conflitos no Rio Grande do Sul. Edição eletrônica In: Cadernos de Cultura do Memorial do Rio Grande do Sul
- Holanda, Sérgio Buarque de (org.). História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora DIFEL, 1976. Tomos I e IV.
- Miranda, Márcia Eckert. Continente de São Pedro: Administração Pública no Período Colonial. Porto Alegre: Assembléia Legislativa do Estado do RS / Ministério Público do Estado do RS / CORAG, 2000.